Digito, logo existo.

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Este artigo foi escrito nos anos 90, na transição da máquina de escrever para o computador.

Com o toque de um botão, liga-se o computador, penetra-se na supervia mundial de informação, cozinha-se no micro-ondas, envia-se fax, acionam-se vídeos, sistema de som, filmadora e controle remoto, acerta-se o relógio digital, consultam-se a agenda e secretária eletrônicas, desperta-se o telefone celular e movem-se os vidros elétricos do carro.

Só um problema: -Qual botão?

Apertando o botão errado, apaga-se a tela do computador, afunda-se no cyberspace, piscam números e luzes nos relógios dos eletrodomésticos, suprimem-se texto, voz e imagem gravados, para-se no acostamento da supervia eletrônica e sai-se frustrado, irritado, a autoestima machucada e com medo de tentar de novo – sintomas de tecnofobia, uma irreprimível aversão a novidades tecnológicas, fenômeno da era digital.

Alguns tecnofóbicos suam e sentem palpitações quando pressionados a apertar o botão de uma nova tecnologia. “São pessoas que não conseguem acompanhar a velocidade das inovações” – explica o psicólogo Larry Rosen, autor de uma pesquisa que revelou que só a metade dos universitários nos Estados Unidos fica tranquila interagindo com um computador. Outro 1/10 já está com a “síndrome de 12:00” – a hora que pisca nos relógios nunca acertados, às vezes vedados com esparadrapos.

man-vs-machineO ex-secretário de Cultura de São Paulo, Sabato Magaldi, não é um tecnofóbico. Ri muito quando apontado como suspeito portador de graves sintomas. E explica que apenas não precisa “desse inferno”, o computador: “Acaba a luz, perde-se tudo; aperta o botão errado, tem que chamar um técnico”. Com a antiga máquina de escrever semiportátil, uma Erika, ele fica com a impressão de “armar melhor o texto”. Escreve rápido. E se surge algum problema, consegue resolver sozinho. Orgulha-se de ser “do tempo do linotipista”.

“Acho as máquinas boas enquanto não enguiçam”, pondera Sabato Magaldi. “Se enguiçam, dá vontade de quebrá-las. Minha reação é de violência: não tenho vocação para consertar, não sei mexer”. Ele até já quis atirar um carro no rio Pinheiros. Outra impossibilidade são as agendas eletrônicas. “Nem pensar! Tenho cadernos com 200 mil telefones, as folhas caindo de todos os lados…” Então, ele pergunta: “Como vou copiar tudo isso?” E também, para quê? “Não gosto de ver as coisas no computador. Gosto mesmo é de papel branco, batido a máquina”.

davinci_transhuman“Tecnofobia é um sinal dos nossos tempos”, diz Dan Gookin, que escreveu o guia “Windows for Dummies” – ou “Windows para Idiotas”, abrandado na edição brasileira com o título de “Windows para Leigos”. É a “fobia dos anos 90”, confirma a indústria de computadores Dell, no Texas, com o resultado de uma pesquisa feita no final de 1994: “Mais da metade dos americanos está com tecnofobia em diferentes graus. Cerca de 1/4 de todos os adultos nunca conseguiu programar um VCR ou a memória do rádio do carro. Muitos ainda lamentam a morte da máquina de escrever”.

Nem as crianças americanas escapam à epidemia virtual, embora já nasçam programadas com um antídoto contra tecnofobia. Um software introduzido em 1994 pela gigante Microsoft pretendia ser uma ferramenta que as ensinasse a escrever, brincando com desenhos e sons. Mas o ambiente Windows, desenvolvido para facilitar o convívio com os computadores, veio alterado, com estranhos e confusos ícones. Até um mini-gênio brasileiro da computação que vive em Bethesda, Maryland, onde faz baby sitter para computadores de adultos, acertando-lhes os acentos e cedilhas, foi derrotado pelo “programa infantil”. E muitos pais reclamaram de um preocupante sintoma tecnófobo nos filhos: uma súbita perda da autoestima.

“O que o mundo conhece e entende, mesmo, é o telefone” – admite um gerente de produtos na indústria Hewlett-Packard, Shafhi Rava.

As novidades eletrônicas são como cães: sabem quando alguém tem medo. Na casa dos jornalistas Mônica Falcone e Marco Antônio Rezende, ex-diretor da revista VIP/Exame, elas parecem estar à espreita, rosnando. Só Lucas, o filho de cinco anos, se dispõe a enfrentá-las armado de manuais, embora ainda não saiba ler. Foi ele quem descobriu que o vidro do Ômega novíssimo, elétrico, não funcionava porque estava quebrado.

asimo “Nosso pânico com tecnologia é tamanho”, explica Rezende, “que a gente aceitou a ideia de abrir primeiro a porta toda vez que precisava baixar o vidro para pedir gasolina em postos. Já tínhamos renunciado. Rodamos um mês com ar condicionado ligado, os vidros fechados”. Mônica já estava também conformada: “Quando os aparelhos se revoltam, desisto”. A rebelião tende a se alastrar. Já aderiram, total ou parcialmente, ao fax, ao micro-ondas, ao computador 486, ao telefone de duas linhas e dez ramais, à máquina de café e a um sistema múltiplo de vídeo.

“Durante anos a gente gravou filmes da TV com péssima qualidade até Mônica descobrir, num manual com 12 a 14 línguas, inclusive o finlandês, que tinha lá o tracking, e que para sintonizar melhor era preciso fazer o tracking” – diz Rezende. (OK, o repórter também não sabe o que seria tracking num VCR; já num míssil disparado, é a trajetória.) O sofisticado computador virou uma simples máquina de escrever. O telefone perdeu fantásticos recursos e uma generosa memória porque foi desligado da tomada. Se o plugam, pisca como árvore de Natal. Usa-se o micro-ondas só para esquentar comida. “Tenho uma filosofia sobre isso”, revela Mônica. “Acho que todos esses aparelhos custam mais do que rendem em termos de felicidade. Dão mais trabalho do que prazer. Então, pego de cada um o que preciso”. Por “amor materno”, porém, ela está abrindo uma exceção. Começou a aprender jogos eletrônicos, que “detesta”, porque Lucas “adora” e quer jogá-los “de qualquer jeito”.

O psicólogo Donald Norman, que escreveu “The Psychology of Everyday Things”, um exame dos objetos usados todos os dias, concorda que “é muito difícil programar um VCR”. E reclama: “Temos mais o que fazer em nossas vidas do que gastar uma hora aprendendo a usar um forno micro-ondas”. Ele está trabalhando na fábrica de computadores Apple, mais “amigáveis” dos desbravadores do cyberspace analfabetos em informática do que os primos da família DOS e Windows. “As pessoas temem com toda razão a nova tecnologia”, ele diz. “É complexa, quem a faz não sabe nada sobre quem a vai usar”. Alguns vídeos já aceitam comandos orais. O próximo controle remoto será como um mouse de computador. Mas sobram os relógios para programar. E o temor do desconhecido. Para cada pai e mãe intimidados, há sempre um Lucas que se sente à vontade num teclado. As crianças parecem ter chips no sangue.

images “Meu sobrinho de 12 anos desmonta um computador”, espanta-se o publicitário Cláudio Carilo. “Sabe tudo”. E lamenta: “Minha geração (a de 1953) foi atropelada. Na juventude, aprendi mecânica. Mexe-se aqui, e há uma reação ali. De eletrônica não sei nada.” Mas ele não se julga um A_M_quina_de_Escrevertecnofóbico. E por um simples motivo: “Nem chego perto para ter medo”.

O futurólogo Alvin Toffler resumiu a evolução do poder em seu último livro, “Power Shift”. Primeiro, o poder derivou da força bruta. Depois, da riqueza. E agora chegou a Idade da Informação. O chefe do Departamento de Filosofia da Unicamp, Osvaldo Giacóia, está confrontando o novo poder tecnológico numa realidade não mais virtual: a filha, aprendendo computação no primeiro grau da Escola Nossa Senhora do Rosário, acaba de lhe pedir um computador. Ele próprio, em Berlim, recentemente, constatou que o acesso aos arquivos das bibliotecas só se abre aos que sabem computar, “pressupondo-se que sejam todos”. Então, ele se pergunta: “Em que medida estamos preparados para uma confrontação com a civilização tecnológica? Em que medida compreendemos o que é a essência da técnica?”

O professor Giacóia lembra o filósofo Heidegger: “Ele afirma que não podemos incorrer na ingenuidade de pensar instrumentalmente a técnica, como se exercêssemos um controle autárquico sobre o emprego da tecnologia. O computador que minha filha está pedindo me leva a refletir: não somos nós que controlamos os processos tecnológicos, mas estamos envolvidos numa civilização tecnológica. É um movimento planetário que tende a ligar as pessoas nos mais diferentes pontos no espaço e nos mais diferentes momentos no tempo”.

Digito, logo existo. O professor Giacóia se impressiona menos com as façanhas do correio eletrônico e da captura instantânea de megabytes de informações em universidades mundo afora do que “com o tipo de relacionamento que se instala entre nós e o produto do nosso próprio pensamento”. Como se o pensamento se tornasse disponível e manipulável para apropriação técnica.

A tecnofobia está produzindo um “mercado da ignorância”. Um dos últimos anúncios da IBM para a TV americana nem mostra um computador, embora feito para vendê-los. O foco é concentrado no atendimento aos consumidores. Aparece um comediante garantindo que eles serão atendidos no primeiro toque do telefone, sem ficar na linha esperando. E convida: ligue, se tiver um problema; nem se preocupe em ler o manual. “A administração da ignorância do consumidor tornou-se mais importante do que a inovação”, comenta um pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Michael Schrage. Acabou-se o tempo das inovações programadas para intimidar. A última moda na linha de montagem das famosas marcas multinacionais obedece a uma regra simples: “Produza para idiotas, e todos comprarão”.

computador-hp-all-in-one-omni-2201000brO Centro de Estudos e Pesquisas do Procon também investe no “mercado da ignorância”. Mas com outra arma: um guia de compras. Até agora foram lançados 12 folhetos “traduzindo” os manuais de fornos micro-ondas, fogões, lava-louças, aspiradores de pó, liquidificadores, refrigeradores, chuveiros elétricos, lavadoras de roupa, máquinas de costura, TVs, ferros de passar e até bronzeadores. Quem for à 46a Feira de Utilidades a0frD0IDomésticas (UD) poderá pegá-los, grátis, nos portões de entrada. Um dia virão outros para tele copiadoras, celulares, computadores, vídeos e sistemas de som.

“Nos manuais há termos que não dizem nada aos consumidores”, explica a diretora do Centro de Estudos do Procon, Vera Marta Junqueira, professora de Psicologia do Consumidor na FMU. “Nós os ajudamos com subsídios que podem orientar a compra”. Ela própria não está imune à tecnofobia. E até admite que sofreu um pequeno surto ao sentar-se diante de um computador. “Tão difícil acertar aquela flechinha!” Hoje ela ainda o subutiliza. Mas lembra, esperançosa: “A fome e a sede põem a lebre a caminho”.

Os espectadores americanos gargalhavam quando, em “Um Ladrão Bem Trapalhão”, Woody Allen respondia que “sim”, sabia operar um computador, durante uma entrevista para concorrer a um emprego. A questão era engraçada em 1969. Mas ele ainda acrescentaria uma pequena mentira: “Minha tia tem um”. Hoje devem tê-los todas as tias nos Estados Unidos. No ensaio “Parem o trem da tecnologia que quero descer”, Steve Harvey, do Los Angeles Times, comenta: “Pergunto-me se a cena faria alguém rir hoje em dia. Eu talvez choraria”.

A livraria dos espiões

OU:

A ESPIÃ QUE VENDIA LIVROS

Bancroft, foto AP para o jornal Ledger.

Elizabeth Bancroft, foto AP para o jornal Ledger.

Washington, DC (15/11/1989) — Um dos livros mais vendidos, numa misteriosa livraria especializada em espionagem, a três quarteirões da Casa Branca, no centro de Washington, é um manual: “Como desaparecer completamente, e nunca ser descoberto”. No mesmo gênero, há um outro best-seller: “Como criar uma nova identidade” – escrito por um autor evidentemente anônimo.

gtw1_markoe1a_400-copy-s600x600 “São livros mais procurados por homens”, explica a “diretora de aquisições” do National Intelligence Book Center, Rose Mary Sheldon. “As mulheres procuram um outro livro” – ela explica, sorrindo, e aponta para uma prateleira, onde se destaca o manual “Como encontrar pessoas desaparecidas – um guia para investigadores”.

A livraria dos espiões fica no sexto andar de um prédio na movimentada esquina das ruas K e 17. Não há nenhuma vitrina, no andar térreo, para atrair os curiosos. Nem propaganda. Só uma única vez, em quatro anos, ela foi anunciada, num pequeno classificado do jornal The Washington Post. Sua existência tornou-se conhecida entre funcionários do Pentágono e do Conselho de Segurança Nacional, agentes da CIA e de outros serviços secretos, alguns diplomatas, jornalistas e escritores. Na porta, apenas uma placa discreta. Dentro, surpresa: uma pequena antessala em que os clientes são examinados através de uma janela de vidro, e onde devem deixar casacos, embrulhos, a pasta 007 e máquinas fotográficas.

Cada um dos armários, iguais aos guarda-volumes de moeda dos aeroportos, tem a bandeira de um país, para facilitar a posterior identificação. Falta a brasileira: “Não temos clientes brasileiros, nem pelo reembolso postal” – desculpa-se Rose Mary Sheldon, uma doutora em Filosofia pela Universidade de Michigan que está escrevendo um livro sobre a coleta de informações na antiga Roma.

A diretora Rose, a gerente Kellie Tassone e a fundadora da livraria, Elizabeth Bancroft,

Elizabeth Bancroft

Elizabeth Bancroft

cultivam o mistério. Elas tratam os fregueses como se fossem o lendário terrorista internacional “Carlos”, em pessoa, em busca das últimas novidades da CIA ou da KGB. Pedem a identidade dos repórteres que as entrevistam, “apenas por rotina”. E dão informações a conta-gotas. Por trás de um vidro blindado, elas observam quem chega, dão as instruções sobre os armários da antessala, e controlam a segunda porta, que se abre para a livraria – um quarto comprido, com uma estante no meio e outras acompanhando as paredes, com um total de 1.400 títulos.

Elizabeth Bancroft não dirá quem foi que lhe deu o dinheiro para fundar o National Intelligence Book Center (NIBC). “Um investimento privado”, conta. E Kellie garantirá: “Não temos nada com o governo”. Um freguês, com um forte sotaque árabe, pergunta à Rose Mary “se tudo está mesmo à venda”. Parece ter encontrado o paraíso. Já de partida, prometendo voltar, “inch’allah”, ou “se Deus quiser”, percebe que ela o compreendeu, sem necessidade de tradução.

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-Você já’ esteve no Oriente Médio? — perguntei.

-Na Jordânia e em Israel – diz Rose, que aumenta o suspense ao acrescentar: “E não como turista…” Daí ela não passará. Nem Elizabeth. Nem Kellie. Nenhuma delas revelará se já trabalhou em serviços secretos. Faz parte do charme do NIBC.

Numa parede, um poster adverte:

           “RÚSSIA

            Visite-nos

           Antes que o visitemos

spy8No balcão, camisetas da CIA e da KGB, a 12,50 dólares cada. Ou emblemas, a 6,50 dólares. Ou canecos, a 9,50 dólares. “São lembranças muito vendidas”, comenta Rose. “O folclore da livraria… Quem vem aqui procura os livros”.

A raridade do NIBC é o “Greek Memories”, um relatório de 1930 escrito por um funcionário do serviço de inteligência britânico – o primeiro a mencionar a existência do M16, o serviço secreto da Inglaterra. O livro foi banido pelo governo inglês. Seu preço: 1.200 dólares.

A estante de criptografia é bastante popular. “Muita gente quer aprender a se comunicar com códigos, ou a decifrá-los”, diz Rose. Um dos livros, “Cryptograms and Spygrams”, de Norma Gleason, promete “muitas horas de desafios” aos leitores. A parte de “serviços” e manuais surpreende. Aqui não só se encontram os testes de admissão para a CIA e FBI, ospy10u a lista dos diplomatas em Washington, ou dicionários inglês-russo e russo-inglês, ou as dicas para comprar uma carteira de identidade pelo correio, mas, também, uma obra tão insólita e estranha como a “Técnicas do Interrogatório Físico”, de Richard Krousher, que tem um capítulo chamado “Humilhação”, outro para “auto tortura física”, e mais ”Derivação Sensorial”, “Intrusão nos orifícios do Corpo”, “Batendo”, “Queimando”, “Esmagando” e “Mutilações”. Um repórter do “City Paper” de Washington, Robert Cwiklik, levanta a hipótese de que o manual possa ter sido encontrado entre agentes da CIA operando na América Central. Rose Mary não o confirma. Nem o desmente.

Alguns outros títulos sugestivos: “O Guia do Arrombador”, por Eddie “Arame”; “O livro de cabeceira dos espiões”; a biografia do presidente George Bush em russo; “Spyclopaedia”; “A nova KGB”; “Métodos de Disfarce”; “Mapa de Bolso da USRR”; “Guia Ilustrado das Técnicas e Equipamentos da Guerra Eletrônica”; “A agenda Secreta: Watergate, a Garganta spy6Profunda e a CIA”; e “Revelações de um contra-terrorista”. A ficção cobre apenas um por cento dos livros e só inclui dois autores, John le Carre e Tom Clancy. Há uma prateleira repleta de documentos iranianos, e outra para periódicos, como o “Intelligence Quarterly”, “The International Journal of Intelligence and Counterintelligence”, e um boletim sobre ações clandestinas. As versões em vídeo começam a aparecer. Uma delas, por exemplo, é “Por Dentro da CIA”. E há uma seção de bibliografias e de clássicos, com os famosos livros de espiões e espionagem.

Não há nada proibido à venda no NIBC, garante Rose Mary. E qualquer livro pode ser comprado por telefone (202) 797-1234, ou por fax (202) 331-7456, mesmo fora dos Estados Unidos, pagando com cartão de crédito, ordem postal ou cheque. O catálogo de livros custa 5 dólares, e pode ser pedido pelo correio, ao endereço do NIBC, 1700 K Street, NW, Suíte 607, Washington, DC 20006.

“Ainda não temos nenhum cliente no Brasil”, comenta Rose Mary. Entre os fregueses norte-americanos, estão o escritor Norman Mailer e Jacqueline Onassis. E dezenas de assíduos anônimos.

Nota

A livraria NIBC sumiu deixando poucos rastros, em 1999. Aos clientes foi informado que seus livros poderiam ser encontrados na tradicional livraria Olsson, no Dupont Circle, em Washington, DC, fechada abruptamente em 2008, depois de 36 anos de clientes fieis.

Elizabeth Bancroft reapareceu como diretora executiva da Association of Former Intelligence Officers (AFIO), em 2003. Tanto era do ramo que assessorou diversos segmentos da inteligência civil e militar dos Estados Unidos. Assim se explica porque ela não gostava de ser fotografada nem gravada: ao repórter que a entrevistava com o gravador ligado, dizia: “Quando você atravessar aquela porta, para sair, sua fita será apagada”.

Sorrisos de Silício

Eu não rio fácil com piadas que fazem rir os gênios do vale do Silício. (Invejo-os porque gostaria de morar em San Francisco). Os “geniuses” riem de ingenuidades. Ou quando se auto-criticam.

Hoje vi alguns cartuns minimalistas que provocam ao menos um leve sorriso ao confrontarem o mundo da invenção com o mundo real. Entre tempo real e tempo atemporal.  Veja:

1

Quem explora este veio é uma designer freelance, Liz Fossilien, que trabalhou numa empresa de música por acaso chamada… Genius. Ela agora tem um site em que expõe o contraste entre o mundo real e o mundo plugado, não só com cartuns únicos mas mas também com histórias em quadrinhos. Ei-la coroada em sua home em… http://fosslien.com/

ela

No site Design You Trust (http://main-designyoutrust.netdna-ssl.com/wp-content/uploads/2015/08/2129.jpg) Fosslien diz:

“Eu trabalho em tech, vivo em San Francisco, bebo café caro… e sou alvo dessas piadas”.

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Terrorismo Judeu

bebe the guardian

Enterro do bebê morto em Duma (The Guardian)

Neto de um rabino assassinado que inspirou a militância religiosa e de extrema-direita em Israel, Meir Ettinger foi preso pelo serviço secreto interno israelense três dias depois do incêndio que matou um bebê palestino de 18 meses e feriu seu pai e irmão de quatro anos com graves queimaduras, na aldeia de Duma, na Cisjordânia, provocado por um coquetel molotov lançado, ao que tudo indica, por um grupo terrorista judeu.

Banido da Cisjordânia e proibido de entrar em Jerusalém, Ettinger, 18 anos, estava morando na

Meir Ettinger, o primeiro suspeito preso. (AFP PHOTO / JACK GUEZ)

Meir Ettinger, o primeiro suspeito preso. (AFP PHOTO / JACK GUEZ)

cidade cabalística de Safed, ao Norte de Israel. Ao ser preso, acusou o Shin Bet, o serviço secreto, de usá-lo para “relações públicas”, mostrando alguma ação depois que o atentado em Duma, perto de Nablus, repercutiu mundialmente e em Israel.

“A verdade tem que ser dita” — e ele a escreveu como se fosse universal, não a de uma minoria: “Não há organização terrorista em Israel, mas um grande grupo de judeus, mais do que se imagina, cujos valores são completamente diferentes dos da Suprema Corte de Justiça e do Shin Bet. Não somos guiados pelas leis de Estado, mas por leis eternas, as verdadeiras leis”.

O Shin Bet não acusou Ettinger, formalmente, pelo atentado. A prisão é atribuída a um cerco

Aviator Slonim (Tomer Appelbaum/Haaretz)

Aviator Slonim (Tomer Appelbaum/Haaretz)

geral a grupos radicais e religiosos. Ele seria o chefe de uma célula de terror que tem atacado muçulmanos e cristãos, conhecida por Price-Tag, o preço da Israel que idealizam. Outros dois judeus suspeitos foram presos, Mordechai Mayer, 18, e Aviator Slonim, ambos com detenções precedentes, a última das quais pelo incêndio da igreja da Multiplicação dos Pães, em Tabghana, na Galiléia, em junho.

Rabino Meir Kahane

Rabino Meir Kahane

Bandeira do Kach: punho dentro da estrela de David

Bandeira do Kach: punho dentro da estrela de David

O avô Kahane lutou para deportar todos os árabes de Israel — e, para ele, o país era ainda maior, a bíblica Judea e Samaria, sem as fronteiras da Cisjordânia. Quando correspondente acompanhei a Marcha da Vitória que ele promoveu ao ser eleito membro do Parlamento, para grande surpresa e tristeza da maioria dos eleitores israelenses. A eleição de um racista, no povo dizimado pelo racismo, provocou mudança na legislação eleitoral, para evitar outros candidatos com plataformas antiárabes.

Os primeiros terroristas religiosos judeus foram os autoplocamados Zelotes, no primeiro século, rebelados contra o império Romano. Muitos os sucederam até os atentados contra ingleses e palestinos ao tempo do Mandato Britânico. Forças secretas lutaram pela criação do estado de Israel. Um de seus grandes atentados explodiu o hotel King David, em Jerusalém.

Rabino Moshe Levinger na celebração da criação da colônia Kiriat Arba pelo Gush Emunim  (EPA/JIM HOLLANDER)

Rabino Moshe Levinger na celebração da criação da colônia Kiriat Arba pelo Gush Emunim (EPA/JIM HOLLANDER)

O movimento Gush Emunim, ou Bloco da Fé, entre 1979-84, tinha planos de explodir as mesquitas na Esplanada do Templo, acima do Muro das Lamentações. Desistiu, mas levou adiante atentados a bombas contra vários prefeitos da Cisjordânia, entre eles Bassam Shakaa, de Nablus, que perdeu os braços e as pernas. O grupo Terror contra Terror, TNT na sigla em hebraico, foi formado para represálias a atentados palestinos.

Baruch Goldstein: 29 mortos na mesquita.

Baruch Goldstein: 29 mortos na mesquita.

Um americano-israelense, Yaakov Teitel, atentou contra um intelectual de esquerda em Israel, Zeev Sternhell, e matou um taxista e um pastor palestinos, em 1997. Outro americano religioso vivendo numa colônia da Cisjordânia, Baruch Goldstein, foi morto por sobreviventes entre 125 feridos depois de matar 29 muçulmanos que rezavam na Mesquita Ibrahimi, na Caverna dos Patriarcas, em Hebron. Ele pertencia ao Kach, do rabino Kahane, posto fora da lei ao elogiar o atentado.

O primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado em 4 de novembro de 1995, enquanto cantava no encerramento de uma manifestação pela paz, na praça dos Reis de Israel, em Tel-Aviv, por duas balas disparadas pelo israelense Yigal Amir, que alegou ter seguido “ordens de Deus”.

Yigal Amir, assassino de Yitzhak Rabin (foto Jerusalem Post)

Yigal Amir, assassino de Yitzhak Rabin (foto Jerusalem Post)

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Jerusalém, 27/07/1984 — Que o chamem de “louco”, ele tolera. Mas de “extremista”? Aí não! O rabino Meir Kahane não concorda.

— Vamos enlouquecer este país… Vamos fazer este país ser de novo judeu – ele prometia em sua “marcha da vitória” pelas ruas de Jerusalém, ao confirmar-se a sua surpreendente eleição para o parlamento de Israel.

Louco, sim, mas não extremista. Qual a diferença? “Eu não tento dizer que não sou louco”, explicou-se o rabino Kahane ao correspondente da revista Time em Jerusalém. Mas a distinção não ficou clara. Então supõe-se a mesma diferença que ele próprio estabeleceu entre judaísmo e democracia:

— Se tiver que escolher entre judaísmo e democracia, claro que escolherei ser judeu.

A loucura que o rabino Kahane admite ter relaciona-se mais à religião do que à politica. Louco como ele seria, talvez, aiatolá Khomeini. Extremista, o coronel Muammar Kadafi.

As últimas eleições de Israel produziram este controvertido rabino Kahane, 51 anos, nascido no Brooklyn, em Nova York, além de um grande impasse político ainda não resolvido. Todos já procuraram dissociar-se dele: o ex-primeiro ministro Menachem Beguin, os candidatos rivais à formação de um novo governo, Shimon Peres e Yitzhak Shamir, os partidos políticos, os grupos de colonização na Cisjordânia, até o Departamento de Estado americano, que está querendo cassar a sua cidadania. Mesmo os terroristas judeus presos divulgaram um manifesto reagindo a sua promessa de anistiá-los: “Deixe-nos em paz”.

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Rabino Kahane (foto shameproject.com)

Mas 22 mil pessoas votaram no rabino Kahane. E agora ele vai assumir uma cadeira no parlamento, que ele quer transformar numa grande sinagoga, um de seus projetos. O parlamento deverá ser como ao tempo de Ezra e Nehemiah, 2500 anos atrás, uma “grande assembleia” — ou, em hebraico, “Knesset Há-gedolah”.

Loucura? Isto é só o princípio, se comparado com o objetivo fixado pelo rabino Kahane quando imigrou para Israel, em 1971. Ele quer deportar dois milhões de árabes – os 700 mil com cidadania israelense e os 1.3 milhão que vivem na Cisjordânia e Gaza.

Numa das vinte vezes que já esteve preso por incitamento ou distúrbios anti-árabes, o rabino Kahane escreveu um manifesto a que deu este título: “Eles precisam ir”. Eles quem? Os árabes. A teoria é a de que “sionismo, democracia e explosão demográfica da população árabe não podem coexistir em Israel.”

Aqui, outra vez, a distinção: “Israel é um estado religioso, e não político”. E seus demônios seriam a democracia e a demografia.

— Israel tem um encontro marcado com o suicídio nacional. E os seus lideres estão cegos – prega o rabino Kahane, ordenado pela Yeshivá Mir, em 1956. A única solução que ele vê é a de que “eles precisam ir embora”. E se não forem, terão que aceitar o status de não cidadãos, jurando lealdade ao estado judeu e reconhecendo a sua soberania.

A quem preferir partir, o rabino Kahane dará uma compensação pela propriedade abandonada, e uma gratificação. Ele acha que reuniria os primeiros 25 mil árabes se publicasse um aníncio pelos jornais. A quem ficar, e recusar lealdade, a solução é drástica: será posto num caminhão, e deixado na fronteira de um pais árabe.

O rabino Kahane ridiculariza quem equaciona a sua deportação de árabes com o genocídio de judeus por Hitler. E citando a bíblia: “Não há espaço para uma Segunda nação em Israel. Os árabes têm que partir. Não há escolha: são eles ou os judeus. E não serão os judeus”.

Loucura, mas não extremismo? Há quem diga que Israel não será mais o mesmo depois de eleito Kahane. E há quem prometa partir do país agora – os próprios judeus, não os árabes. O “fenômeno Kahane” foi condenado, lamentado e até mesmo ameaçado. Um dos principais jornais independentes do pais, o Haaretz, lembra que a corte suprema de justiça permitiu que o movimento “Kach”, do Rabino Kahane, entrasse na campanha eleitoral, depois que sua inscrição fora recusada. “Mas mesmo que a justiça tenha errado em seu julgamento, a democracia israelense não pode ficar indefesa contra às maquinações de Kahane”. Uma das ideias seria a de promulgar uma lei antirracista, inexistente num paÍs vítima do racismo, como Israel. Quem a pede é o prefeito de Jerusalém, Teddy Kollek, do Partido Trabalhista. A deputada Shulamit Aloni quer que se retire o status de rabino do “profano Kahane”.

Mas o rabino Kahane representa 22 mil eleitores – a maioria oriunda de países islamitas, segundo as estatísticas publicadas na primeira página do Jerusalem Post — na última, num editorial, “racismo na Knesseth”, Kahane é definido como “político patológico”, e suas últimas declarações, “repugnantes”.

A polícia está investigando se a “marcha da vitória” do rabino Kahane não deveria merecer a abertura de um novo processo. Nela, militantes do “Kach”, seu partido, amassaram um carro e ameaçaram os comerciantes árabes nas ruelas da velha cidade, a caminho do Muro das Lamentações. No jornal Davar, do Partido Trabalhista, foi publicado um raríssimo editorial na primeira página, assinado pelo seu editor, Hannah Zemer: “Nós devemos agir. Este é o dever do procurador jurídico do Estado. Precisamos remover esta marcha”.

O rabino Kahane anunciou logo depois de ser eleito que abriria um escritório de emigração na aldeia árabe de Umm-al-Fahm, dando inicio às suas deportações. Mas da aldeia foi divulgado um conselho a Kahane: “não se atreva a vir aqui”.

O prefeito de Belém, Elias Freij, já tinha um bom motivo de frustração – a derrota do Partido Trabalhista, que vencendo abriria o dialogo com o reino da Jordânia, de que é um dos súditos. Ele não podia imaginar a eleição do rabino Kahane:

— Isto é um fenômeno extremamente perigoso e revoltante. Kahane é um racista apelando para a expulsão dos árabes de terras onde eles estão vivendo há séculos. Como isto pode acontecer? Como se pode dar imunidade ao racismo?

No parlamento, diante de Kahane, deverá estar constantemente o bloco de sete deputados árabes também eleitos. Um deles, em especial, será uma vítima diária: o comunista Tawfik Toubi. Kahane está prometendo lembrá-lo:

— Toubi, pode preparar-se para partir deste país… Eu não terei maioria, mas só o fato de poder subir a tribuna e propor uma lei de expulsão dos árabes… Imaginem o que vai acontecer no parlamento, o que dirá o mundo… — ele comentava nesta semana.

O rabino meir Kahane formou-se em direito pela universidade de Nova York, em 1954. E foi entre a comunidade judaica dos Estados Unidos que começou a ficar célebre, ao fundar a Liga de Defesa Judaica, em 1968 – ele atacava com bombas objetivos considerados antissionistas.

Esta semana, os líderes da comunidade judaica americana compararam a ideologia de Meie Kahane á dos neonazistas, passando a chamá-lo de “Farakhan israelense” – o muçulmano negro Louis Farrakhan ativo na campanha do pastor Jesse Jackson.

Ele próprio, o rabino Kahane, que alguns israelenses dizem ser um “american export”, publicou um anúncio nos jornais para “o primeiro discurso”, cobrando um dólar de entrada. O que chama mais a atenção nele é a frase em negrito:

“Novo membro da Knesseth”.

(Mas 98.7 por cento dos israelenses não votaram nele.)

No túmulo do rabino Kahane (Foto: Yonatan Sindel/Flash90)

No túmulo do rabino Kahane (Foto: Yonatan Sindel/Flash90)

Morte em Manhattan

O rabino Kahane alertava os judeus ortodoxos de Nova York, em 5 de novembro de 1990: “Partam para Israel antes que seja muito tarde”. Ao final de seu apelo, enquanto uma pequena multidão o cercava, no segundo andar do hotel Marriott East Side de Manhattan, o egípcio-americano El Sayyid Nosair aproximou-se e lhe acertou um tiro mortal.

Nosair foi absolvido e libertado, porque a família do rabino Kahane não permitiu a autópsia que daria subsídios para incriminá-lo, com a extração da bala. Solto, ele se envolveu no primeiro atentado a bomba contra o World Trade Centre, em 1993 — e, de novo julgado, foi condenado à prisão perpétua. Na cadeia, ele confessou o assassinato de Meir Kahane.

Entre Amigos (e inimigos)

Amos Oz    Taken by Kobi Kalmanovitz © for:

Amos Oz
Taken by Kobi Kalmanovitz © for:”Sofshavua” Magazine – Maariv

Todos se conhecem num kibutz. Chamam-se pelos nomes. Comem juntos as refeições. Resolvem problemas ou decidem sobre tudo juntos. A roupa suja é lavada na mesma lavanderia. As crianças vivem juntas num minikibutz. O armazém, carros, piscina, o cinema e os lucros, ou prejuízos, a todos pertencem. Uma grande família reunida pelo ideal socialista para ocupar, plantar e defender Israel desde antes de sua independência, forjando o até então raríssimo judeu agrário. O detalhe oculto: é uma comunidade, sim, mas também o seu contrário, porque constituída de membros solitários. Quanta solidão os separa!

O maior novelista israelense Amós Oz está de volta ao kibutz com um belo livro de oito contos entrelaçados, Entre Amigos (tradução de Paulo Geiger, Companhia das Letras). Na verdade, nunca saiu dele. Tinha 14 anos quando entrou em Hulda, fundado por um pioneiro ucraniano entre Tel-Aviv e Jerusalém. Estava destroçado pelo suicídio da mãe, Fania, aos 38 anos, e rebelado contra o pai. “Ele era acadêmico; eu seria tratorista; era de direita, e eu, então, socialista”. Adotou o sobrenome Oz (poder, força, em hebraico) no lugar de Klausner.

Kibbutz Hulda

Kibbutz Hulda

De força, Oz precisava. Foi kibutznik por mais de 30 anos. Ele e a mulher, Nily, só partiram porque Daniel, o terceiro filho, com asma aguda, viveria melhor na Meca dos Asmáticos, a pequena Arad, no deserto do Neguev. No tempo de Hulda ele conseguiu trocar as beterrabas pelo trabalho de escrever, um dia por semana. Quando ficou conhecido, deram-lhe dois dias. E quando passou a dar lucro, perguntaram-lhe se queria um ou dois assistentes. Havia um chaver (companheiro) que penteava o cabelo antes de passar por sua janela, para “sair bem” no próximo livro.

O kibutz em que Oz passeia seus personagens ganhou o nome de Ikhat (Yekhat, na edição em inglês), pela distante associação entre afiado e monótono, em hebraico. Lá está Provizor, o jardineiro que colhe notícias ruins. Como muitos israelenses, o rádio ligado nas hadashot (noticiários), ele se aproxima das pessoas com aviões caindo, vulcões em erupção, ameaça de guerra nas fronteiras – o mensageiro de tragédias. A professora viúva Luna Blank aceita ser sua ouvinte. Os dois se encontram, ela lhe faz biscoitos; ele lhe dá mudas. Tomam chá à noite e visitam os jardins impecavelmente tratados. As fofocas e a relação crescem. Até que ela pega a mão dele e a leva ao peito. Daqui em diante, surpresa! Mas só o livro a revelará.

Ali está indo trabalhar no galinheiro a divorciada Ariella, também chefe do comitê de cultura de Ikhat. Acaba de seduzir e tomar Boaz, marido de Osnat, que trabalha na lavanderia. A ex-mulher, conformada, envia à sucessora um bilhete com os remédios e hábitos alimentares com que ela terá, doravante, de se preocupar. É então que recebe de volta uma longa carta com a proposta de compartilharem ambas solidões. O final, no livro.

Os personagens de cada conto são marcantes. O professor Degan, marxista devoto, é um dom Juan. Ante o convite de um tio rico para estudar na Itália, Yotam se debate: terá coragem de trocar o kibutz pelo mundo? E Nina, que não consegue ficar com seu marido sequer uma noite mais? A traída Osnat volta no conto final, cuidando do moribundo sobrevivente do holocausto Martin Vandenberg, sapateiro que ainda quer ensinar Esperanto, a linguagem universal, para que a humanidade possa se entender.

Os kibutzim já representaram 4% da população de Israel. Hoje, menos que 2%. Alguns começaram a empregar mão-de-obra árabe. Muitos agora produzem startups de programas para computadores ou sites para internet. Oz conta que dois terços de seus caracteres jazem no cemitério de Hulda. E é lá que quer também ser enterrado. Mas Entre Amigos não sepulta seus tempos de kibutznik. Ainda há muito que escrever, como ele próprio declarou ao jornal Haaretz: “O kibutz é uma universidade da natureza humana”.

livroFora os livros, Oz escreve ensaios para jornais e revistas. Logo que um deles aparece na imprensa israelense é traduzido para publicação em jornais e revistas europeus e americanos. Ele lutou nas colinas do Golan, fronteira com a Síria, nos anos 50 e em 1973, e foi tanquista em 1967, no Sinai, durante a Guerra dos Seis Dias. Ao deixar o exército, fundou, com outros oficiais, o movimento Shalom Arshav, ou Paz Agora. A paz com os árabes, para ele, só virá após a aceitação por todas as partes de dois estados independentes – um palestino, outro israelense. Tema, talvez, para outro livro, Entre Inimigos.