Corrupção no Brasil, by USA.

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astamatines.com

Incrível: estava passeando pelos últimos e-mails de Hillary Clinton desclassificados (no sentido de liberados), quando, curioso com que veria se pesquisasse “Brazilian corruption”, recebi um guia da corrupção no Brasil de 1992. Alguns nomes são os mesmos ainda hoje. No caso de Odebrecht, por exemplo, era Norberto, agora é Marcelo. Collor continua um case para estudo tanto ontem como agora. Se apenas copiasse o material, desformataria-o, e seria difícil de lê-lo com tudo em maiúsculas e sem parágrafos, empastelado. Assim, fotografei toda a aula de corrupção, que reproduzirei aqui em 14 quadrinhos. Não tenho

The Economist

The Economist

tempo para fazer a tradução do inglês para o português. Quem não o souber, porém, só de passar os olhos verá  “jeitinho”, siglas de partidos e nomes dos suspeitos de sempre. Quando um quadro acaba sem ponto final ele continuará no seguinte. Quando isso não acontecer, é porque o restante era insignificante para ocupar um espaço sozinho, lembrando que o texto, escrito em 1992 e desclassificado em 2012, não traz nenhuma novidade bombástica. Vale pela aula de corrupção para os diplomatas do Departamento de Estado e os agentes dos serviços de inteligência que lidavam com o Brasil. Vamos lá (os espaços em branco são censura):

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Tanta corrupção, tão pouca memória.

Tentei manter o Museu da Corrupção com a ajuda de um crowdfounding.

Ganhei o primeiro não.

Procurei um crowdsourcing. Prometeram responder em dois dias.

Passsaram-se mais de 30. Segundo não.

Ofereci o texto abaixo para os dois jornalões de São Paulo.

Um o considerou uma pauta. O outro nem respondeu.

Depois de quatro nãos fiquei muito inseguro.

Então, resolvi anunciar

pelas redes sociais que o Museu da Corrupção,

no país da corrupção, vai fechar.

O Museu da Corrupção. Ele é virtual, mas foi projetado por um arquiteto.

O Museu da Corrupção. Ele é virtual, mas foi projetado por um arquiteto.

O Museu da Corrupção parou de se atualizar todos os dias. Não por falta do que expor. Com o Petrolão jorrando daria até para montar uma exibição diária. Também não por problema de espaço, que é ilimitado na internet, onde ele foi aberto há seis anos, no endereço www.muco.com.br

O Museu da Corrupção pode acabar, por falta de recursos. Tanto sucesso fez ao abrir, em 22 de abril de 2009, que, em 9 meses,recebeu o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa. A coincidência com a data da Descoberta do Brasil foi proposital: pesquisas confirmam que corruptores degregados e Pindorama surgiram com as primeiras caravelas.

No início, o MuCo requeria poucas horas do trabalho de uma pequena equipe. Mas agora, não mais, afogando no mar de lama dos propinodutos abertos na Petrobras.

O MuCo chegou a ter um milhão de visitantes por mês. Foi notícia aqui e lá fora, tido como antídoto à venenosa corrupção. Do mundo digital o MuCo baixou fisicamente no Largo de São Francisco, convidado pelos alunos de Direito da USP. Materializou-se com paineis e uma seção multimídia especial sobre a Maranhão dos Sarney. Por acaso, uma banca oferecia ali, quentinha, a Pizza Sarney, o bigodão de aliche – a mais concorrida do cardápio da virtual do museu, mas assada de verdade por um pizaiolo do Bexiga. Havia fila para comprar um pedacinho desse maranhão, sabor impunidade.

O MuCo nasceu contra a impunidade – as pizzas do Planalto. Quem segue as manchetes de jornais vê que o escândalo de hoje empurra o de ontem para escanteio. Alguém aí se lembra da Operação Navalha, em 2007? Foram soltos todos os 46 presos acusados de comprar licitações do PAC e do Luz para Todos. Quem sabe que fim levou o desvio de R$ 214 milhões da Sudam, em 1999? Entre 143 presos e soltos, o ex-senador Jáder Barbalho conseguiu até ser reeleito, em 2011.

A geração pós-1964 herdou depoimentos, documentos, imagens, livros, testemunhos, aulas, jornais e revistas – enfim, memória da ditadura militar que durou 21 anos. Reuniu conhecimento para responder às tentações antidemocráticas,cíclicas e não deverá, por suposto,repetir erros do passado.

    O Brasil supercorrupto é, principalmente, um desmemoriado; reelege políticos flagrados recebendo propina, ou que lavam $$ em paraísos fiscais. Suspeitos são postos a investigar o butim que eles próprios compartilharam. A referência para a história está pulverizada em muitos arquivos da PF, das CPIs do Congresso, de jornais e revistas, do STF, de blogs, dos institutos de combate à corrupção nacionais e internacionais, e da ONU.

Um propósito do MuCo é coletar, organizar e expor, centralizado, online, e com acesso gratuito, a corrupção e os corruptos, não os deixando escapar pelo esquecimento. Hoje uma torre só, o museu já poderia ser um condomínio. De jornais convidados a ter sua própria torre, 3 aceitaram, um apenas restou – o Lance, de olho nos escândalos do esporte, em tempos de Copa do Mundo e das Olimpíadas.

  Difícil acreditar que tanto se reclame da corrupção galopante no Brasil, e nada seja feito para preservar sua história. E ela vai aumentando cada dia mais: Mensalão, Petrolão, quem sabe Apagão? (da Eletrobras). É o seu dinheiro, o meu e o nosso coletado para Saúde, Educação, Desenvolvimento, ou para 39 ministérios, embolsado por uns poucos em postos-chave e com mandatos políticos, foro privilegiado.

Pai do MuCo, compartilho sua paternidade. Que ele tenha muitos pais! Importante é que exista, se desenvolva e se torne referência nacional para pesquisas e para a história da corrupção no Brasil. Com recursos, ele poderá transmitir ao vivo operações e alertas da PF, ou julgamentos no STF e CPIs no Congresso, e promover visitas guiadas por temas ou casos.

O MuCo criou uma galeria que expõe as obras de arte apreendidas de refinados lavadores de dinheiro. Poderia ainda esculpir em cera os maiores corruptos do Brasil, exibindo-os como as estátuas de Madame Tussauds, em Londres. O museu estava preparando um salão para o acervo do Petrolão, homenageando quem foi processado até morrer, em New York, por dizer que havia corrupção na Petrobras – o escritor e jornalista Paulo Francis. E ele estava certo!

            Já aconteceu algumas vezes: absolvidos, suspeitos pedem para sair de exposição. Ninguém quer integrar uma coleção permanente sobre corrupção. O MuCo tem esse poder de dissuasão. Mas há muito ainda a fazer. Se não for alimentado, renovado e desenvolvido, ele vai acabar fechando as portas. Será uma pena.

    Alguém quer ajudar? Algum mecenas? Alguma fundação? Alguma sugestão? Crowdfounding? Crowdsourcing? (Só não são bem-vindos empreiteiras, Petrobras, partidos politicos e órgãos do governo federal, estadual e municipal).

GALERIA LAVA JATO

MAIS UMA OBRA PRODUZIDA PELA PETROBRAS:

ARTE LAVA JATO.

O ACERVO PARCIAL EXPOSTO AQUI VAI EM

BREVE ENRIQUECER A GALERIA DO MUSEU DA CORRUPÇÃO, HOJE

EXPONDO A COLEÇÃO DE ARTE DE EDEMAR CID FERREIRA,

DO EX-BANCO SANTOS (veja em www.muco.com.br).

OS “CURADORES” DA POLÍCIA FEDERAL REPASSARAM 48 OBRAS

ENCONTRADAS COM ZWI SKORNICKI, REPRESENTANTE DA

EMPRESA DE ENGENHARIA NAVAL DE SINGAPURA KEPPEL FELS,

AO MUSEU OSCAR NIEMEYER, EM CURITIBA.

A mansão de Zwi Skornicki, no Rio. (fotos Bernardes Jacobsen/Divulgação)

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O PRISIONEIRO DA CLASSE EXECUTIVA

CERCA DE 25 ANOS ATRÁS, PC FARIAS ENCARNAVA

O MAIOR CORRUPTO DO BRASIL, CAPAZ DE DERRUBAR UM

PRESIDENTE  EXTERMINADOR DE MARAJÁS. VOEI NO ASSENTO À FRENTE DO

QUAL ELE VOLTAVA “PRESO” DA TAILÂNDIA (foto)

HOJE PC FARIAS SERIA CASO DE TRIBUNAL DE PEQUENAS

CAUSAS. AO TODO, ELE MOVIMENTOU US$ 8 BILHÕES. OU QUASE NADA,

COMPARADO AO MENSALÃO E AO PETROLÃO.

VOO BANGKOC-SP – Prisioneiro na classe executiva da Varig, Paulo César Farias bebeu champanha Veuve Clicquot, uísques 12 anos e vinhos franceses, jantou com refinamento, ganhou das aeromoças um tratamento só concedido aos famosos, e ainda violou com baforadas a área de não fumantes, roncou ao cochilar, posou para foto com uma admiradora da classe turística (ainda não havia selfie), e concedeu entrevistas como se fosse um herói de retorno à glória em sua Pátria — e, ainda por cima, em campanha eleitoral.

Antes de se candidatar, porém, ele avisou que “vou ter de resolver minhas pendências jurídicas”. (Foi morto antes por motivos até hoje não conhecidos).

     PC Farias recebeu a escolta dos dois delegados brasileiros que viajaram quase 20 mil quilômetros para prendê-lo com mordomia, até ser deportado de Bangcoc: mandou que dois tenentes tailandeses que o vigiavam carregassem as malas deles para o avião. Logo percebeu que “eram muito humildes, e amáveis”. Houve um instante de hesitação, mas logo executaram a ordem.

    “Não é doutor Edson?” – perguntou PC Farias ao delegado Edson Antônio de Oliveira, superintendente da Polícia Federal no Rio e chefe da Interpol no Brasil. Ele concordou. A retribuição foi rápida: o prisioneiro pôde passar pelo free-shop para comprar um pacote de seus longos Malboros a caminho de embarcar na poltrona 11L do segundo andar do Boeing 747-400.

     “Só fizeram uma malandragem comigo”, reclamou PC Farias de seus amigos tailandeses. “Acordaram-me às 5 horas da manhã, dizendo que eu deveria estar pronto dentro de 20 minutos”. Tomou banho “corrido” e entrou no carro de vidro fumê do próprio subcomandante do Departamento de Imigração de Bangcoc. No banco de trás, dois seguranças, apoiados por outros num segundo carro. Cruzaram a cidade de trânsito sempre caótico e alcançaram o aeroporto antes da chegada do voo 828, Bangkoc-SP, que só decolaria a noite, ao chegar de Hong-Kong.

     O prisioneiro da classe executiva passou o dia numa “sala espetacular”: até dormiu por quatro horas. Ao ser transferido do luxuoso Sheraton para a área de detenção dos miseráveis paquistaneses e bengladeshis que tentam entrar ilegais na Tailândia só dispunha de “um colchonete num quarto limpinho e arrumadinho”. Ele conseguiu armar uma “segurança pessoal” contratando dois guardas entre os deportáveis. “Vou colocar um advogado para soltá-los amanhã mesmo”, prometia já a bordo, agradecido.

     A camisa suada de quatro dias não combinava com o requinte da classe executiva. Por gentileza do embaixador do Brasil em Bangcoc, Paulo Monteiro Lima, os delegados Edson e Nascimento Alves Paulino, o Coordenador Central de Polícia no Brasil, trouxeram uma muda de roupa nova preparada por dona Elma, a mulher de PC. Ao entrar no toalete para trocar-se, ele constatou que também precisava barbear-se. Voltou feliz à sua poltrona. Só um olho o perturbava, vermelho de irritação. E não faltou um prestativo passageiro com colírio para aliviá-lo.

Com o delegado Oliveira.

Com o delegado Oliveira.

     O relógio de PC Farias estava ainda regulado pelo “horário equilibrado” que usou em todo o tempo de fuga: o GMT, de Londres. Assim nunca se confundia com o fuso horário para os telefonemas de toda terça-feira para o irmão, o deputado Augusto Faria, em Maceió ou Brasília. Às 20 horas de Bangcoc, 11 da manhã em São Paulo, e 13 horas em Londres, o Jumbo levantou para o voo de 10h15 até Joanesburgo, na África do Sul. As audiências a bordo começaram entre drinques. O prisioneiro da classe executiva só não deveria aparecer com copo nas fotos ou na TV para não comprometer os policiais que afinal o capturaram, o foragido mais procurado do Brasil. Estava monossilábico, para começo de conversa. Mas tomou gosto rápido e se tornou discursivo. Às vezes perguntava, após uma entrevista: “Então, como me saí?”

     PC Farias ditou os horários a todos os passageiros na classe executiva. Se concedia entrevista, o corredor interrompido por câmeras, o serviço de bordo esperava. Só no meio da noite que recomeçava, os ponteiros atrasando enquanto o avião avançava da Ásia para África, é que o delegado Edson reagiu. Cortou mais uma das entrevistas dizendo: “Estou aqui para proteger a integridade física do preso”. Fez-se escuro e silêncio, e o prisioneiro pôs-se a roncar. O tratamento tão famoso na Espanha, ele depois admitiu, “não resolveu”.

  Alguns passageiros da classe executiva lucraram com a presença de PC Farias a bordo: repórteres de primeira classe ofereceram-lhes os seus lugares em troca da vizinhança com o ex-foragido, na business. Um dos incrédulos promovidos voltou para contar que “nunca tinha comido tanto caviar na vida”. Os que permaneceram, e que só queriam uma viagem tranquila, assistindo a filmes como O Fugitivo e Proposta Indecente, previstos no programa da cabine, assistiram a uma longa noite de repentinos flashes e focos de luz, atropelamentos de repórteres por carrinhos com bebidas, cenas ao vivo da TV de “amanhã”, atrasos nas refeições, uma névoa de fumaça de um único cigarro no ar, e o desfile de curiosos de áreas mais remotas do avião. Para os brasileiros, a adaptação foi fácil, porque o assunto da maratona de entrevistas até os interessava. Mas um tailandês que nem entendia português, na primeira fila, mostrou-se irritado várias vezes.

     O “momento mais delicado” previsto no voo era a escala de 40 minutos em Joanesburgo. Era aqui que o prisioneiro poderia se livrar sacando um habeas-corpus contra a cassação de seu passaporte na Tailândia, e recomeçar a fuga pelo mundo. Ele próprio riu, quando soube que o imaginavam tão ardiloso. Mas o avião ficou cercado por 36 policiais. Dois grandalhões da Interpol se apresentaram ao chefe brasileiro, e se postaram no corredor, de reforço. Uma equipe médica plantonava no aeroporto: dizia-se também que PC Farias poderia simular um ataque diabético para escapar. Na verdade, ele só tomou um dos comprimidos para diabetes que dona Elma chorou tanto para lhe fazer chegar por via diplomática, caso contrário “poderia até morrer”. O embaixador do Brasil em Pretória, Antônio do Amaral Sampaio, comandou pessoalmente a operação. Mas dispensou uma visita ao prisioneiro da classe executiva.

     PC Farias preferiu contrafilé com cogumelos selvagens, e não o peixe de dupla nacionalidade do cardápio: “Peixe Tailandês à Parisiense”. O vinho tinto que o acompanhou foi o Château Grivière. Ele o sorveu até os queijos finais. Não quis nenhum licor, porque logo tomaria mais um uísque. “Jantei nos melhores restaurantes de Londres”, ele gabou-se a repórteres. No San Lorenzo, o Al Pacino em pessoa sentou-se numa mesa ao lado. Num outro foi cumprimentado por brasileiros que o reconheceram, mas não o denunciaram. Uma senhora até prometeu que rezaria por ele. Outra admiradora, a bordo desde Joanesburgo, Lilian Faria Passos, tomou coragem diante das câmeras, e perguntou, gaguejando: “Mas por que o senhor fez tantas coisas ruins?”

     PC, o “injustiçado”, respondeu: “Me acusam de coisas que não são verdadeiras. Produto da mídia… Mas daqui para frente vamos mostrar a realidade disso tudo”. Emocionada, Lilian então revelou: “Meu pai, sabe?, é JC Faria – João Lessa Faria”. Ela sublinhou que a distância entre os dois residia num “S”.

   pcapa  O delegado Edson também roncou um pouco. Vigia e vigiado, por um breve momento, roncaram lado a lado. O suspense para o final da viagem foi crescendo no café da manhã que indicou a proximidade do Brasil: afinal, o prisioneiro será algemado? PC parecia mais intrigado com as “refeições especiais” que as aeromoças insistiam em lhe dar, mesmo não as tendo pedido. Garantia que as algemas não se fechariam sobre seus pulsos. Mas depois que saiu do “horário equilibrado”, trocando-o pelo nacional, já com o aviso de apertar cinto aceso, e Guarulhos lá embaixo, ele começou a puxar a manga do braço esquerdo, como se as antecipasse. Um par delas brilhava na pasta aberta aos pés do delegado Edson.

A FUGA ACABOU

Quando foi tirar um novo visto para a Tailândia, em Cingapura, o fugitivo PC Farias enfrentou um inesperado perigo: do outro lado da rua estava, simplesmente, a embaixada do Brasil. “Se alguém me reconhecer?”, apavorou-se. Mesmo assim, correu o risco. Deixou o passaporte, e passou a noite “em elucubrações”. A mais recorrente era a de que algum tailandês resolvesse atravessar a rua para tomar informações. “Estaria terminado”.

     Outro momento perigoso foi quando PC Farias achou que deveria abandonar Londres. A Scotland Yard o procurava. Se fosse preso, esperava uma “fiança de primeiro mundo”, algo em torno de um milhão de libras. A mulher, Elma, esperava em Genebra, na Suíça, a resposta a um pedido de permanência na Inglaterra. “Se ela o ganhasse, aí eu também o pediria: era a nossa estratégia”, ele agora lembra, a fuga encerrada.

     cd1171aa-0a29-4de3-a471-de9799794a4aJá o tinham procurado em dois endereços em Londres. Ele próprio observara uma passeata do PT em sua homenagem de uma janela ao nível da rua, num hotel de subsolo. “Via os pés dos manifestantes, e escapei por uma porta lateral”. O cerco apertava. Então, ele apostou todas as cartas. Ligou para a Thai Airways, e reservou uma passagem para Bangkoc. Marcou de pegá-la no aeroporto de Heathrow, antes do embarque. Mas uma surpresa o irritou a ponto de descontrolá-lo, e então gritou. A caixa não aceitava dólares, só libras e cartão de crédito. “Não uso cartões. E imagina recusar dólares…” Adiante, os policiais da imigração. Se batessem o nome Farias no computador o descobririam. O cartão de embarque embaralhava o nome Cavalcante, por acaso, mas nada adiantaria. Foi em frente. Ninguém o parou.

     PC Farias deixou Londres na sexta-feira, 5 de novembro. Acabava de receber uma visita de fim de semana dos filhos, vindos da Suíça, onde estudam. Em Bangkoc, no dia seguinte, concluiu que estava na última escala de sua  fuga: “Aqui, ou fico, ou saio. Não dá para ter meio termo”. O que não sabia, então, é que “o povo tailandês pode ser muito bom, mas a Justiça no país está zerada”, como aprendeu. Ele explorava algum tipo de investimento nos “Tigres da Ásia”. Ainda acha que “o futuro do mundo estava ali nessa região”. Sem visto na primeira visita, só dispunha de 15 dias. Quando pediu mais tempo, deram-lhe o suficiente para providenciar tranquilamente uma viagem à Cingapura, onde obteria o visto.

    pcfariasmanchete Foi assim que PC Farias partiu em turismo solitário para Phuket, “uma das praias mais lindas do mundo, com infraestrutura moderníssima.” Ficou três dias deslumbrado até partir para Cingapura. Com o visto, começou a voltar à Tailândia, via Bali, onde ficou até segunda-feira, 22 de novembro. Elma o reencontrou em Bangcoc na terça.

     A noite de Loykratong, uma festa em homenagem a Lua, tinha tudo para ser agradável. O gerente do hotel Sheraton convidou os Farias para um jantar à beira da piscina. PC teve o cuidado de reservar uma mesa. Ao descer, porém, ela estava ocupada. Começou a discutir em inglês com um homem que também afirmava ter feito uma reserva antecipada. Os dois decidiram que era um caso para o gerente resolver. Foi então que o empresário paulista Nelson Scola descobriu com quem estava disputando a mesa. E o deixou com uma frase que ele não conseguiu esquecer:

     “Prazer em revê-lo”.

     PC Farias concluiu ter sido vítima de “uma ironia do destino”. Ele ainda tentou ser gentil: “Não sabia que você é brasileiro”, disse. Ficou tentado a convidá-lo a formar uma única mesa fraternal. Mas se conteve. “Falei para Elma: não gostei desse troço. Tem cheiro de rolo”. Foi pedir informações sobre o brasileiro. Daí soube seu nome, e mais os dados da ficha de hotel.

     “Não tenho ódio dele”, garante PC, “absolutamente convencido” de que Scola foi quem o denunciou à embaixada. Um dos delegados brasileiros que viajou a Bangcoc disse aos repórteres que, na verdade, fora “uma mulher”. Já o embaixador evitou atribuir sexo ao informante. A confusão foi proposital para proteger de vingança quem prendeu PC Farias antes da polícia brasileira, inglesa e internacional. Quando agentes da imigração, protegidos por policiais armados, pediram a PC Farias para ver seu passaporte, e o passaram ao embaixador brasileiro que o anulou, estava encerrada a grande fuga: o fugitivo não podia mais passar por turista legal, documentado, nem estava nas Alagoas, de onde partira 152 dias antes cruzando barreiras policiais que não o importunaram. “A PF estava em greve”,lembra. Mas elogia: “Os federais fizeram um bom trabalho”.

     PC Farias perdeu 10 quilos, baixando para 73. A prisão o magoou. Ele acha que os tailandeses “entraram no jogo brasileiro” porque o filho do rei da Tailândia havia sido muito bem recebido numa visita ao Brasil três meses antes. Ele contestou a legalidade da cassação do passaporte, mas não o recuperou. Se conseguisse, partiria para Hungria, sem tratado de extradição com o Brasil. Voando para a cela em Brasília já estava conformado: “Era o que queria, e até começava a preparar a volta para janeiro”, ele revelou. Um repórter o sondou sobre uma possível vingança: circulava a bordo um boato de que ao desembarcar mostraria um cheque de campanha eleitoral que comprometeria o presidente Itamar Franco. Ele desmentiu. Nem deu tanta importância assim: “Com certeza houve coleta de dinheiro para a campanha do vice-presidente”.  Aconselhou: “O que o Brasil precisa é de uma lei eleitoral”.