O terrorista sem nome

Premiê Jacinda Ardern

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, está dando um exemplo ao não citar o nome do atirador que massacrou 50 pessoas em duas mesquitas na cidade de Christchurch:

– Ele é um terrorista. Um criminoso. Ele é um extremista. Mas ele, enquanto falo, não será nomeado – disse Ardern num discurso no Parlamento.

O atirador não terá o que mais o mobilizou: ser conhecido, ou reconhecido, chamar a atenção.

Os dois atiradores da escola em Suzano queriam superar o ataque em Columbine há 20 anos, com 15 mortos, incluindo os dois atacantes. Aí está uma prova da influência causada pela espalhafatosa cobertura de jornais e tevês a atentados terroristas. O terror é reinventado sempre mais para conquistar atenção e ocupar espaços na mídia. O assassino neozelandês apresentou sua façanha ao vivo, online, e distribuiu os links antes de apertar o gatilho.

– Eu imploro a vocês – continuou a premiê Ardern aos membros do Parlamento: -Falem os nomes dos que morreram, no lugar do nome de quem os matou. Ele pode ter querido notoriedade, mas nós, na Nova Zelândia, não lhe daremos nada. Nem mesmo o seu nome.

Transmissão ao vivo do massacre nas mesquitas

Como a mídia deveria reagir a atentados? Não noticiá-los me parece muito difícil. É notícia. Em Utrecht, na Holanda, depois de um atirador matar três pessoas dentro de um bonde, a polícia divulgou mensagens on-line pedindo que a população ficasse em suas casas. Advertia: há um terrorista à solta. Pelo tuíte, os desdobramentos do atentado eram atualizados às centenas, a cada segundo. Não há como interromper o fluxo das notícias na internet. O Facebook levou tempo para retirar do ar a transmissão do massacre nas mesquitas.

Utrecht (foto EFE)

Os provedores neozelandeses pediram ao Facebook, Twitter e Google que participem da discussão do governo da premiê Ardern sobre como negar acesso a conteúdo criado por assassinos.

O Estado Islâmico (EI) divulgou vídeos da degola de prisioneiros e até criou uma revista de boa qualidade gráfica para manter vivo o seu esforço de recrutamento de mais jihadistas. Perdido o Califado que construía na Síria, o EI não morreu. O porta-voz dele ressurgiu agora, depois de seis meses de silêncio, para clamar por retaliação aos mortos da Nova Zelândia.

“As cenas do massacre nas duas mesquitas devem despertar aqueles que foram enganados e incitar os apoiadores do Califado a vingar por sua religião” – disse Abu Hassan al-Muhajir, num áudio de 44 minutos. Para ele, o atirador seria um prolongamento da campanha contra o EI.

O terror em 102 capas

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O Daily News responsabiliza a poderosa National Rifle Association, que zela pelos direitos de quem quer se armar nos Estados Unidos, pela carnificina na boate gay em Orlando, com 50 mortos e 53 feridos.

“Sem palavras”, o Tampa Bay Times (TBT), da cidade vizinha à tragédia de Orlando, publica uma rosa multicolorida. Na capa do Orlando Sentinel, um editorial para cicatrizar feridas abertas pelo massacre. Os jornais RedEye (Chicago) e Oregonian (Oregon) optaram por frases, como “Diante do ódio e violência, amaremos uns aos outros”, ou apelos à união, em suas capas sem fotos nem manchetes.

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Aqui o panorama da noite do terror em Orlando em 102 capas de jornais dos EUA e do mundo

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Terrorismo Judeu

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Enterro do bebê morto em Duma (The Guardian)

Neto de um rabino assassinado que inspirou a militância religiosa e de extrema-direita em Israel, Meir Ettinger foi preso pelo serviço secreto interno israelense três dias depois do incêndio que matou um bebê palestino de 18 meses e feriu seu pai e irmão de quatro anos com graves queimaduras, na aldeia de Duma, na Cisjordânia, provocado por um coquetel molotov lançado, ao que tudo indica, por um grupo terrorista judeu.

Banido da Cisjordânia e proibido de entrar em Jerusalém, Ettinger, 18 anos, estava morando na

Meir Ettinger, o primeiro suspeito preso. (AFP PHOTO / JACK GUEZ)

Meir Ettinger, o primeiro suspeito preso. (AFP PHOTO / JACK GUEZ)

cidade cabalística de Safed, ao Norte de Israel. Ao ser preso, acusou o Shin Bet, o serviço secreto, de usá-lo para “relações públicas”, mostrando alguma ação depois que o atentado em Duma, perto de Nablus, repercutiu mundialmente e em Israel.

“A verdade tem que ser dita” — e ele a escreveu como se fosse universal, não a de uma minoria: “Não há organização terrorista em Israel, mas um grande grupo de judeus, mais do que se imagina, cujos valores são completamente diferentes dos da Suprema Corte de Justiça e do Shin Bet. Não somos guiados pelas leis de Estado, mas por leis eternas, as verdadeiras leis”.

O Shin Bet não acusou Ettinger, formalmente, pelo atentado. A prisão é atribuída a um cerco

Aviator Slonim (Tomer Appelbaum/Haaretz)

Aviator Slonim (Tomer Appelbaum/Haaretz)

geral a grupos radicais e religiosos. Ele seria o chefe de uma célula de terror que tem atacado muçulmanos e cristãos, conhecida por Price-Tag, o preço da Israel que idealizam. Outros dois judeus suspeitos foram presos, Mordechai Mayer, 18, e Aviator Slonim, ambos com detenções precedentes, a última das quais pelo incêndio da igreja da Multiplicação dos Pães, em Tabghana, na Galiléia, em junho.

Rabino Meir Kahane

Rabino Meir Kahane

Bandeira do Kach: punho dentro da estrela de David

Bandeira do Kach: punho dentro da estrela de David

O avô Kahane lutou para deportar todos os árabes de Israel — e, para ele, o país era ainda maior, a bíblica Judea e Samaria, sem as fronteiras da Cisjordânia. Quando correspondente acompanhei a Marcha da Vitória que ele promoveu ao ser eleito membro do Parlamento, para grande surpresa e tristeza da maioria dos eleitores israelenses. A eleição de um racista, no povo dizimado pelo racismo, provocou mudança na legislação eleitoral, para evitar outros candidatos com plataformas antiárabes.

Os primeiros terroristas religiosos judeus foram os autoplocamados Zelotes, no primeiro século, rebelados contra o império Romano. Muitos os sucederam até os atentados contra ingleses e palestinos ao tempo do Mandato Britânico. Forças secretas lutaram pela criação do estado de Israel. Um de seus grandes atentados explodiu o hotel King David, em Jerusalém.

Rabino Moshe Levinger na celebração da criação da colônia Kiriat Arba pelo Gush Emunim  (EPA/JIM HOLLANDER)

Rabino Moshe Levinger na celebração da criação da colônia Kiriat Arba pelo Gush Emunim (EPA/JIM HOLLANDER)

O movimento Gush Emunim, ou Bloco da Fé, entre 1979-84, tinha planos de explodir as mesquitas na Esplanada do Templo, acima do Muro das Lamentações. Desistiu, mas levou adiante atentados a bombas contra vários prefeitos da Cisjordânia, entre eles Bassam Shakaa, de Nablus, que perdeu os braços e as pernas. O grupo Terror contra Terror, TNT na sigla em hebraico, foi formado para represálias a atentados palestinos.

Baruch Goldstein: 29 mortos na mesquita.

Baruch Goldstein: 29 mortos na mesquita.

Um americano-israelense, Yaakov Teitel, atentou contra um intelectual de esquerda em Israel, Zeev Sternhell, e matou um taxista e um pastor palestinos, em 1997. Outro americano religioso vivendo numa colônia da Cisjordânia, Baruch Goldstein, foi morto por sobreviventes entre 125 feridos depois de matar 29 muçulmanos que rezavam na Mesquita Ibrahimi, na Caverna dos Patriarcas, em Hebron. Ele pertencia ao Kach, do rabino Kahane, posto fora da lei ao elogiar o atentado.

O primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado em 4 de novembro de 1995, enquanto cantava no encerramento de uma manifestação pela paz, na praça dos Reis de Israel, em Tel-Aviv, por duas balas disparadas pelo israelense Yigal Amir, que alegou ter seguido “ordens de Deus”.

Yigal Amir, assassino de Yitzhak Rabin (foto Jerusalem Post)

Yigal Amir, assassino de Yitzhak Rabin (foto Jerusalem Post)

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Jerusalém, 27/07/1984 — Que o chamem de “louco”, ele tolera. Mas de “extremista”? Aí não! O rabino Meir Kahane não concorda.

— Vamos enlouquecer este país… Vamos fazer este país ser de novo judeu – ele prometia em sua “marcha da vitória” pelas ruas de Jerusalém, ao confirmar-se a sua surpreendente eleição para o parlamento de Israel.

Louco, sim, mas não extremista. Qual a diferença? “Eu não tento dizer que não sou louco”, explicou-se o rabino Kahane ao correspondente da revista Time em Jerusalém. Mas a distinção não ficou clara. Então supõe-se a mesma diferença que ele próprio estabeleceu entre judaísmo e democracia:

— Se tiver que escolher entre judaísmo e democracia, claro que escolherei ser judeu.

A loucura que o rabino Kahane admite ter relaciona-se mais à religião do que à politica. Louco como ele seria, talvez, aiatolá Khomeini. Extremista, o coronel Muammar Kadafi.

As últimas eleições de Israel produziram este controvertido rabino Kahane, 51 anos, nascido no Brooklyn, em Nova York, além de um grande impasse político ainda não resolvido. Todos já procuraram dissociar-se dele: o ex-primeiro ministro Menachem Beguin, os candidatos rivais à formação de um novo governo, Shimon Peres e Yitzhak Shamir, os partidos políticos, os grupos de colonização na Cisjordânia, até o Departamento de Estado americano, que está querendo cassar a sua cidadania. Mesmo os terroristas judeus presos divulgaram um manifesto reagindo a sua promessa de anistiá-los: “Deixe-nos em paz”.

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Rabino Kahane (foto shameproject.com)

Mas 22 mil pessoas votaram no rabino Kahane. E agora ele vai assumir uma cadeira no parlamento, que ele quer transformar numa grande sinagoga, um de seus projetos. O parlamento deverá ser como ao tempo de Ezra e Nehemiah, 2500 anos atrás, uma “grande assembleia” — ou, em hebraico, “Knesset Há-gedolah”.

Loucura? Isto é só o princípio, se comparado com o objetivo fixado pelo rabino Kahane quando imigrou para Israel, em 1971. Ele quer deportar dois milhões de árabes – os 700 mil com cidadania israelense e os 1.3 milhão que vivem na Cisjordânia e Gaza.

Numa das vinte vezes que já esteve preso por incitamento ou distúrbios anti-árabes, o rabino Kahane escreveu um manifesto a que deu este título: “Eles precisam ir”. Eles quem? Os árabes. A teoria é a de que “sionismo, democracia e explosão demográfica da população árabe não podem coexistir em Israel.”

Aqui, outra vez, a distinção: “Israel é um estado religioso, e não político”. E seus demônios seriam a democracia e a demografia.

— Israel tem um encontro marcado com o suicídio nacional. E os seus lideres estão cegos – prega o rabino Kahane, ordenado pela Yeshivá Mir, em 1956. A única solução que ele vê é a de que “eles precisam ir embora”. E se não forem, terão que aceitar o status de não cidadãos, jurando lealdade ao estado judeu e reconhecendo a sua soberania.

A quem preferir partir, o rabino Kahane dará uma compensação pela propriedade abandonada, e uma gratificação. Ele acha que reuniria os primeiros 25 mil árabes se publicasse um aníncio pelos jornais. A quem ficar, e recusar lealdade, a solução é drástica: será posto num caminhão, e deixado na fronteira de um pais árabe.

O rabino Kahane ridiculariza quem equaciona a sua deportação de árabes com o genocídio de judeus por Hitler. E citando a bíblia: “Não há espaço para uma Segunda nação em Israel. Os árabes têm que partir. Não há escolha: são eles ou os judeus. E não serão os judeus”.

Loucura, mas não extremismo? Há quem diga que Israel não será mais o mesmo depois de eleito Kahane. E há quem prometa partir do país agora – os próprios judeus, não os árabes. O “fenômeno Kahane” foi condenado, lamentado e até mesmo ameaçado. Um dos principais jornais independentes do pais, o Haaretz, lembra que a corte suprema de justiça permitiu que o movimento “Kach”, do Rabino Kahane, entrasse na campanha eleitoral, depois que sua inscrição fora recusada. “Mas mesmo que a justiça tenha errado em seu julgamento, a democracia israelense não pode ficar indefesa contra às maquinações de Kahane”. Uma das ideias seria a de promulgar uma lei antirracista, inexistente num paÍs vítima do racismo, como Israel. Quem a pede é o prefeito de Jerusalém, Teddy Kollek, do Partido Trabalhista. A deputada Shulamit Aloni quer que se retire o status de rabino do “profano Kahane”.

Mas o rabino Kahane representa 22 mil eleitores – a maioria oriunda de países islamitas, segundo as estatísticas publicadas na primeira página do Jerusalem Post — na última, num editorial, “racismo na Knesseth”, Kahane é definido como “político patológico”, e suas últimas declarações, “repugnantes”.

A polícia está investigando se a “marcha da vitória” do rabino Kahane não deveria merecer a abertura de um novo processo. Nela, militantes do “Kach”, seu partido, amassaram um carro e ameaçaram os comerciantes árabes nas ruelas da velha cidade, a caminho do Muro das Lamentações. No jornal Davar, do Partido Trabalhista, foi publicado um raríssimo editorial na primeira página, assinado pelo seu editor, Hannah Zemer: “Nós devemos agir. Este é o dever do procurador jurídico do Estado. Precisamos remover esta marcha”.

O rabino Kahane anunciou logo depois de ser eleito que abriria um escritório de emigração na aldeia árabe de Umm-al-Fahm, dando inicio às suas deportações. Mas da aldeia foi divulgado um conselho a Kahane: “não se atreva a vir aqui”.

O prefeito de Belém, Elias Freij, já tinha um bom motivo de frustração – a derrota do Partido Trabalhista, que vencendo abriria o dialogo com o reino da Jordânia, de que é um dos súditos. Ele não podia imaginar a eleição do rabino Kahane:

— Isto é um fenômeno extremamente perigoso e revoltante. Kahane é um racista apelando para a expulsão dos árabes de terras onde eles estão vivendo há séculos. Como isto pode acontecer? Como se pode dar imunidade ao racismo?

No parlamento, diante de Kahane, deverá estar constantemente o bloco de sete deputados árabes também eleitos. Um deles, em especial, será uma vítima diária: o comunista Tawfik Toubi. Kahane está prometendo lembrá-lo:

— Toubi, pode preparar-se para partir deste país… Eu não terei maioria, mas só o fato de poder subir a tribuna e propor uma lei de expulsão dos árabes… Imaginem o que vai acontecer no parlamento, o que dirá o mundo… — ele comentava nesta semana.

O rabino meir Kahane formou-se em direito pela universidade de Nova York, em 1954. E foi entre a comunidade judaica dos Estados Unidos que começou a ficar célebre, ao fundar a Liga de Defesa Judaica, em 1968 – ele atacava com bombas objetivos considerados antissionistas.

Esta semana, os líderes da comunidade judaica americana compararam a ideologia de Meie Kahane á dos neonazistas, passando a chamá-lo de “Farakhan israelense” – o muçulmano negro Louis Farrakhan ativo na campanha do pastor Jesse Jackson.

Ele próprio, o rabino Kahane, que alguns israelenses dizem ser um “american export”, publicou um anúncio nos jornais para “o primeiro discurso”, cobrando um dólar de entrada. O que chama mais a atenção nele é a frase em negrito:

“Novo membro da Knesseth”.

(Mas 98.7 por cento dos israelenses não votaram nele.)

No túmulo do rabino Kahane (Foto: Yonatan Sindel/Flash90)

No túmulo do rabino Kahane (Foto: Yonatan Sindel/Flash90)

Morte em Manhattan

O rabino Kahane alertava os judeus ortodoxos de Nova York, em 5 de novembro de 1990: “Partam para Israel antes que seja muito tarde”. Ao final de seu apelo, enquanto uma pequena multidão o cercava, no segundo andar do hotel Marriott East Side de Manhattan, o egípcio-americano El Sayyid Nosair aproximou-se e lhe acertou um tiro mortal.

Nosair foi absolvido e libertado, porque a família do rabino Kahane não permitiu a autópsia que daria subsídios para incriminá-lo, com a extração da bala. Solto, ele se envolveu no primeiro atentado a bomba contra o World Trade Centre, em 1993 — e, de novo julgado, foi condenado à prisão perpétua. Na cadeia, ele confessou o assassinato de Meir Kahane.

JE SUIS AHMED

AHMED, POLICIAL MUÇULMANO, MORREU EM DEFESA DOS "INFIEIS"

AHMED, POLICIAL MUÇULMANO, MORREU EM DEFESA DOS “INFIÉIS”

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A tevê de Israel perguntou a um soldado do batalhão que invadia o Líbano se ele sabia qual era a sua missão. Sem titubear, ele respondeu: “Acabar com as katiushas” — os foguetes russos que choviam sobre o norte de Israel, em 1978, disparados pela OLP. A entrevista prosseguiu: “E onde estão as katiushas?” A resposta, totalmente inesperada: “Em Moscou”.

Ouvi um diálogo parecido na tevê francesa. Perguntado como acabar com o crescente terror jihadista na França, um especialista advertiu: “O que assistimos é só o começo; para que não mais se repita, será preciso pegar quem dá as ordens”. Um segundo silencioso de surpresa, ele arrematou: “E os chefes que dão as ordens estão no Oriente Médio e no Norte da África”.

A França está refém da jihad, ou guerra santa. Um dos irmãos que “vingaram” a “profanação” de Maomé, com 12 mortos no ataque à revista Charlie Hebdo, estava em duas listas dos serviços secretos dos EUA. Por uma delas, não podia embarcar em avião de nenhum aeroporto. Noutra, era um da seleção dos mais perigosos terroristas no momento. Os franceses tinham ambas as listas. Por que os deixaram em liberdade? No caso de um deles, por que o soltaram, depois de prendê-lo?

A França relaxou, permissiva, a ponto de ser paralisada por dois dias da trama que foi ao ápice com dois sequestros simultâneos — uma première em Paris. Foi tolerante ante ataques antissemitas. Não entrou em alerta com o êxodo de judeus franceses para Israel. Fechou os olhos para os extremos dos seus cinco a 10% de cidadãos muçulmanos. Agora, acorda para uma nova realidade. Liberdade, Igualdade e Fraternidade não são para quem aspira impor com violência seus valores ou sua religião a outros povos e credos, um choque de civilizações.

Não por acaso o escritor Michel Houellebeca acaba de lançar o já bestsellerSoumission (Submissão) cujo enredo é a islamização da França, que então contagia todos os outros países da União Europeia. Aliás, ele é a capa da edição ensanguentada de Charlie Hebdo. Mas, atenção, nem todos os muçulmanos são jihadistas — ainda uma minoria. O policial muçulmano francês Ahmed Merabet foi morto protegendo exatamente aquilo que o fanatismo tentou destruir, a liberdade de expressão.

No mesmo dia do ataque ao Charlie Hebdo, uma afiliada da rede CBS, em Maryland, EUA, foi invadida por hackers. Nos monitores da redação surgiu a frase: “Infiéis, o novo ano lhes trará sofrimento”. Assinado: “Cybercalifado” — o grupo de apoio ao Estado Islâmico, Iraque e Síria. Mas não só: o sobrevivente dos irmãos que explodiram uma bomba na linha de chegada da maratona de Boston, em abril de 2014, deverá ser julgado na semana que vem.

Se não vamos a Maomé, Maomé vem a nós. O temor aos jihadistas cresce a cada cabeça degolada diante de uma câmera de tevê, ao vivo. O patrulhamento jihadista aumentou a paranoia nos aeroportos, profere sentenças de morte, ou fatwas, contra “profanadores”, mesmo quem só se arma com um lápis, e destampou da garrafa o gênio do mal que assombrou a França — e que promete mais. Quando aiatolá Khomeini saiu de seu exílio francês para assumir o Irã, um “vento” xiita soprou todo o Oriente Médio, contagiante. Mas arrefeceu com o tempo, limitado aos muçulmanos. Já os jihadistas do Estado Islâmico, no Iraque e na Síria, e também no Iêmen, são vulcões que irrompem sem aviso prévio, e em qualquer lugar em que haja infiéis para justiçar em nome de Alá.

Je suis Ahmed  brown