E se Bibi cair em Israel?

netanyahu-bolsonaro-01012019170322338
R7.com

O descoberto “irmão” do presidente Jair Bolsonaro corre perigo: o primeiro-ministro de Israel, Bibi Netanyahu, se indiciado por corrupção antes das eleições que ele próprio antecipou para março, deverá renunciar e não se recandidatar para um quinto mandato. Esta é a opinião de 51% dos israelenses que responderam a uma pesquisa exclusiva do jornal The Jerusalem Post, divulgada hoje, 3/1/2019. Para outros 24%, ele, que é o candidato favorito, poderá, sim, concorrer. E 24% não sabem ainda o que responder.

A expectativa em Israel é de que o procurador-geral Avichai Mandelbit indicie Bibi, o “Rei Bibi” de um filme pronto, depois que ele depuser em fevereiro. O caso de agora, o terceiro, tem a ver com benefícios concedidos à maior companhia de telecomunicação israelense, Bezeq, dona do popular site de notícias Walla, em troca de cobertura positiva, para ele e a esposa, Sara. Por lei, Bibi pode continuar sua vida pública, até ser preso. Há precedentes: um ex-primeiro-ministro e um ex-presidente já cumpriram penas em cadeia.

Os abraços de Bolsonaro e a aclamação de evangélicos em Brasília reforçam a imagem de Bibi, uma preciosidade para a campanha eleitoral. Mas se Bibi não for mais o premiê de Israel em março, como sobreviverá a irmandade brasileiro-israelense? O candidato em segundo lugar, com 14% dos votos, é um ex-chefe da IDF (Força de Defesa de Israel), Benny Gantz, seguido de Yair Lapid, 9%, e de Naftali Bennett. Em último lugar, com 4%, está o líder trabalhista, Avi Gabbay. Nenhum deles irá desprezar a amizade e o apoio do Brasil, mas talvez não concordem com tudo que foi prometido por Bibi.

Todas as capas da presidentA

Este slideshow necessita de JavaScript.

As seis capas destacadas acima estão, a meu ver, fora da mesmice geral — embora a mesmice também possa ter sua beleza, em alguns casos. O critério para a seleção foi a criatividade, um trabalho a mais na edição em prol do eleitor — e pessoal, não sendo eu parâmetro objetivo. O gratuito Metro tem se esmerado. Poster, título curto — e só. Claro que não vai competir com os jornalões em conteúdo. Temos a intrigante capa do Super. Não sei se foi intencional, mas a manchete para o futebol NÃO VAI TER VOLTA, ao lado da chamadinha para Dilma, ficou curiosa. Criatividade em abundância, perigosa, na fronteira entre o genial e o ridículo, vai estampada no Diário de São Paulo. É uma carta manuscrita para Dilma, assinada por “eleitores”, e que termina com TCHAU, QUERIDA. Suponho que tenha sido especialmente produzida para a capa. O Correio Braziliense, pródigo em primeiras páginas premiadas, dá a impressão de que tem buscado ideias em seu baú glorioso. Abaixo da dobra, revirado, está o Temer; e acima, Dilma, ambos transformados em cartas, uma dando a ÚLTIMA CARTADA,  o outro pondo AS CARTAS EM JOGO. Está ótimo, mas, se não me engano, já vi os mesmos recursos antes no mesmo jornal. O Estado de Minas não rompeu o seu formato, como tem feito na cobertura de grandes acontecimentos, e saiu com a Dilma pedalando, numa foto super vertical, e um título curto, PEDALADAS FINAIS. O DC:, de Santa Catarina, deu por título O DIA D (seguem-se em tom rebaixado palavras corriqueiras no processo de impeachment que contenham D, grafado em vermelho, a silhueta de Dilma por cima, e o final DE DILMA, completando a frase. Abaixo temos dez jornais internacionais que deram o impeachment na capa. No The  New YorK Times está no cantinho à esquerda, no pé da página. Mas no Wall Street Journal é a foto principal. Nossos hermanos e vizinhos compareceram, como também o espanhol El Pais, interessadíssimos no futuro do Brasil.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Hors concours

_5__Facebook

 

 

 

 

Capas do impeachment

O sempre criativo Correio Braziliense inspirou-se na “carta fora do baralho” com que Dilma se equiparou. Lembrou o tempo em que os EUA tinham um “baralho” a eliminar no Iraque. Depois da bela capa que rompeu o padrão gráfico do Estadão, no domingo, a de segunda é de novo um poster. Difícil superar o próprio sucesso, day after. O Hoje em Dia agigantou o número 367, o de votos contra a presidente Dilma, que aparece com a faixa. Interessante. O Jornal de Santa Catarina fez uma bela capa, tão minimalista e com espaços brancos quanto a Gazeta do Povo no domingo. Mas ficará sherlock para muitos leitores, tão abstrata, assim à primeira vista, se antes não for lido o texto que a explica. Fala “Em Transformação”, ilustrada por um casulo. Nada mais, nem foto da sessão da Câmara ou de povo nas ruas. Ousado, sim. Mas sou de uma escola de diagramação em que visual que requer explicação textual não será bem sucedido. A Folha e o Liberal empataram na manchete de uma única palavra: IMPEACHMENT. O Notícias do Dia, de Florianópolis, usou um recurso guardado para momentos históricos: uniu capa e contracapa, com uma foto enorme.

O The New York Times e Washington Post deram manchete com Dilma, mas daquelas envergonhadas, uma coluna do lado direito, tipologia pequena. Manchetes grandes sobre o Brasil saíram em três jornais argentinos. E também no México e na Nicarágua.

Jornais nacionais

Este slideshow necessita de JavaScript.

 Jornais internacionais

Este slideshow necessita de JavaScript.

Seleção mundial de capas do Fifagate

Acima estão algumas das capas que driblaram a mesmice. Inclui a dos jornalões, sem grandes novidades, para mostrar como reagiram. Entre eles esqueci a Folha, que não vi na peneirada feita no Newseum. Acrescento-a agora, porém não a da primeira página, mas a da edição de Esportes, que chama mais a atenção.Folha_de_S_Paulo_-_Digital_Pages

GALERIA LAVA JATO

MAIS UMA OBRA PRODUZIDA PELA PETROBRAS:

ARTE LAVA JATO.

O ACERVO PARCIAL EXPOSTO AQUI VAI EM

BREVE ENRIQUECER A GALERIA DO MUSEU DA CORRUPÇÃO, HOJE

EXPONDO A COLEÇÃO DE ARTE DE EDEMAR CID FERREIRA,

DO EX-BANCO SANTOS (veja em www.muco.com.br).

OS “CURADORES” DA POLÍCIA FEDERAL REPASSARAM 48 OBRAS

ENCONTRADAS COM ZWI SKORNICKI, REPRESENTANTE DA

EMPRESA DE ENGENHARIA NAVAL DE SINGAPURA KEPPEL FELS,

AO MUSEU OSCAR NIEMEYER, EM CURITIBA.

A mansão de Zwi Skornicki, no Rio. (fotos Bernardes Jacobsen/Divulgação)

alx_mundo-mansao-banqueiro-zwi-skornicki-20150209-04_original

mansao-banqueiro-zwi-skornicki-20150209-04_original

banqueiro-zwi-skornicki-20150209-13_original

O PRISIONEIRO DA CLASSE EXECUTIVA

CERCA DE 25 ANOS ATRÁS, PC FARIAS ENCARNAVA

O MAIOR CORRUPTO DO BRASIL, CAPAZ DE DERRUBAR UM

PRESIDENTE  EXTERMINADOR DE MARAJÁS. VOEI NO ASSENTO À FRENTE DO

QUAL ELE VOLTAVA “PRESO” DA TAILÂNDIA (foto)

HOJE PC FARIAS SERIA CASO DE TRIBUNAL DE PEQUENAS

CAUSAS. AO TODO, ELE MOVIMENTOU US$ 8 BILHÕES. OU QUASE NADA,

COMPARADO AO MENSALÃO E AO PETROLÃO.

VOO BANGKOC-SP – Prisioneiro na classe executiva da Varig, Paulo César Farias bebeu champanha Veuve Clicquot, uísques 12 anos e vinhos franceses, jantou com refinamento, ganhou das aeromoças um tratamento só concedido aos famosos, e ainda violou com baforadas a área de não fumantes, roncou ao cochilar, posou para foto com uma admiradora da classe turística (ainda não havia selfie), e concedeu entrevistas como se fosse um herói de retorno à glória em sua Pátria — e, ainda por cima, em campanha eleitoral.

Antes de se candidatar, porém, ele avisou que “vou ter de resolver minhas pendências jurídicas”. (Foi morto antes por motivos até hoje não conhecidos).

     PC Farias recebeu a escolta dos dois delegados brasileiros que viajaram quase 20 mil quilômetros para prendê-lo com mordomia, até ser deportado de Bangcoc: mandou que dois tenentes tailandeses que o vigiavam carregassem as malas deles para o avião. Logo percebeu que “eram muito humildes, e amáveis”. Houve um instante de hesitação, mas logo executaram a ordem.

    “Não é doutor Edson?” – perguntou PC Farias ao delegado Edson Antônio de Oliveira, superintendente da Polícia Federal no Rio e chefe da Interpol no Brasil. Ele concordou. A retribuição foi rápida: o prisioneiro pôde passar pelo free-shop para comprar um pacote de seus longos Malboros a caminho de embarcar na poltrona 11L do segundo andar do Boeing 747-400.

     “Só fizeram uma malandragem comigo”, reclamou PC Farias de seus amigos tailandeses. “Acordaram-me às 5 horas da manhã, dizendo que eu deveria estar pronto dentro de 20 minutos”. Tomou banho “corrido” e entrou no carro de vidro fumê do próprio subcomandante do Departamento de Imigração de Bangcoc. No banco de trás, dois seguranças, apoiados por outros num segundo carro. Cruzaram a cidade de trânsito sempre caótico e alcançaram o aeroporto antes da chegada do voo 828, Bangkoc-SP, que só decolaria a noite, ao chegar de Hong-Kong.

     O prisioneiro da classe executiva passou o dia numa “sala espetacular”: até dormiu por quatro horas. Ao ser transferido do luxuoso Sheraton para a área de detenção dos miseráveis paquistaneses e bengladeshis que tentam entrar ilegais na Tailândia só dispunha de “um colchonete num quarto limpinho e arrumadinho”. Ele conseguiu armar uma “segurança pessoal” contratando dois guardas entre os deportáveis. “Vou colocar um advogado para soltá-los amanhã mesmo”, prometia já a bordo, agradecido.

     A camisa suada de quatro dias não combinava com o requinte da classe executiva. Por gentileza do embaixador do Brasil em Bangcoc, Paulo Monteiro Lima, os delegados Edson e Nascimento Alves Paulino, o Coordenador Central de Polícia no Brasil, trouxeram uma muda de roupa nova preparada por dona Elma, a mulher de PC. Ao entrar no toalete para trocar-se, ele constatou que também precisava barbear-se. Voltou feliz à sua poltrona. Só um olho o perturbava, vermelho de irritação. E não faltou um prestativo passageiro com colírio para aliviá-lo.

Com o delegado Oliveira.

Com o delegado Oliveira.

     O relógio de PC Farias estava ainda regulado pelo “horário equilibrado” que usou em todo o tempo de fuga: o GMT, de Londres. Assim nunca se confundia com o fuso horário para os telefonemas de toda terça-feira para o irmão, o deputado Augusto Faria, em Maceió ou Brasília. Às 20 horas de Bangcoc, 11 da manhã em São Paulo, e 13 horas em Londres, o Jumbo levantou para o voo de 10h15 até Joanesburgo, na África do Sul. As audiências a bordo começaram entre drinques. O prisioneiro da classe executiva só não deveria aparecer com copo nas fotos ou na TV para não comprometer os policiais que afinal o capturaram, o foragido mais procurado do Brasil. Estava monossilábico, para começo de conversa. Mas tomou gosto rápido e se tornou discursivo. Às vezes perguntava, após uma entrevista: “Então, como me saí?”

     PC Farias ditou os horários a todos os passageiros na classe executiva. Se concedia entrevista, o corredor interrompido por câmeras, o serviço de bordo esperava. Só no meio da noite que recomeçava, os ponteiros atrasando enquanto o avião avançava da Ásia para África, é que o delegado Edson reagiu. Cortou mais uma das entrevistas dizendo: “Estou aqui para proteger a integridade física do preso”. Fez-se escuro e silêncio, e o prisioneiro pôs-se a roncar. O tratamento tão famoso na Espanha, ele depois admitiu, “não resolveu”.

  Alguns passageiros da classe executiva lucraram com a presença de PC Farias a bordo: repórteres de primeira classe ofereceram-lhes os seus lugares em troca da vizinhança com o ex-foragido, na business. Um dos incrédulos promovidos voltou para contar que “nunca tinha comido tanto caviar na vida”. Os que permaneceram, e que só queriam uma viagem tranquila, assistindo a filmes como O Fugitivo e Proposta Indecente, previstos no programa da cabine, assistiram a uma longa noite de repentinos flashes e focos de luz, atropelamentos de repórteres por carrinhos com bebidas, cenas ao vivo da TV de “amanhã”, atrasos nas refeições, uma névoa de fumaça de um único cigarro no ar, e o desfile de curiosos de áreas mais remotas do avião. Para os brasileiros, a adaptação foi fácil, porque o assunto da maratona de entrevistas até os interessava. Mas um tailandês que nem entendia português, na primeira fila, mostrou-se irritado várias vezes.

     O “momento mais delicado” previsto no voo era a escala de 40 minutos em Joanesburgo. Era aqui que o prisioneiro poderia se livrar sacando um habeas-corpus contra a cassação de seu passaporte na Tailândia, e recomeçar a fuga pelo mundo. Ele próprio riu, quando soube que o imaginavam tão ardiloso. Mas o avião ficou cercado por 36 policiais. Dois grandalhões da Interpol se apresentaram ao chefe brasileiro, e se postaram no corredor, de reforço. Uma equipe médica plantonava no aeroporto: dizia-se também que PC Farias poderia simular um ataque diabético para escapar. Na verdade, ele só tomou um dos comprimidos para diabetes que dona Elma chorou tanto para lhe fazer chegar por via diplomática, caso contrário “poderia até morrer”. O embaixador do Brasil em Pretória, Antônio do Amaral Sampaio, comandou pessoalmente a operação. Mas dispensou uma visita ao prisioneiro da classe executiva.

     PC Farias preferiu contrafilé com cogumelos selvagens, e não o peixe de dupla nacionalidade do cardápio: “Peixe Tailandês à Parisiense”. O vinho tinto que o acompanhou foi o Château Grivière. Ele o sorveu até os queijos finais. Não quis nenhum licor, porque logo tomaria mais um uísque. “Jantei nos melhores restaurantes de Londres”, ele gabou-se a repórteres. No San Lorenzo, o Al Pacino em pessoa sentou-se numa mesa ao lado. Num outro foi cumprimentado por brasileiros que o reconheceram, mas não o denunciaram. Uma senhora até prometeu que rezaria por ele. Outra admiradora, a bordo desde Joanesburgo, Lilian Faria Passos, tomou coragem diante das câmeras, e perguntou, gaguejando: “Mas por que o senhor fez tantas coisas ruins?”

     PC, o “injustiçado”, respondeu: “Me acusam de coisas que não são verdadeiras. Produto da mídia… Mas daqui para frente vamos mostrar a realidade disso tudo”. Emocionada, Lilian então revelou: “Meu pai, sabe?, é JC Faria – João Lessa Faria”. Ela sublinhou que a distância entre os dois residia num “S”.

   pcapa  O delegado Edson também roncou um pouco. Vigia e vigiado, por um breve momento, roncaram lado a lado. O suspense para o final da viagem foi crescendo no café da manhã que indicou a proximidade do Brasil: afinal, o prisioneiro será algemado? PC parecia mais intrigado com as “refeições especiais” que as aeromoças insistiam em lhe dar, mesmo não as tendo pedido. Garantia que as algemas não se fechariam sobre seus pulsos. Mas depois que saiu do “horário equilibrado”, trocando-o pelo nacional, já com o aviso de apertar cinto aceso, e Guarulhos lá embaixo, ele começou a puxar a manga do braço esquerdo, como se as antecipasse. Um par delas brilhava na pasta aberta aos pés do delegado Edson.

A FUGA ACABOU

Quando foi tirar um novo visto para a Tailândia, em Cingapura, o fugitivo PC Farias enfrentou um inesperado perigo: do outro lado da rua estava, simplesmente, a embaixada do Brasil. “Se alguém me reconhecer?”, apavorou-se. Mesmo assim, correu o risco. Deixou o passaporte, e passou a noite “em elucubrações”. A mais recorrente era a de que algum tailandês resolvesse atravessar a rua para tomar informações. “Estaria terminado”.

     Outro momento perigoso foi quando PC Farias achou que deveria abandonar Londres. A Scotland Yard o procurava. Se fosse preso, esperava uma “fiança de primeiro mundo”, algo em torno de um milhão de libras. A mulher, Elma, esperava em Genebra, na Suíça, a resposta a um pedido de permanência na Inglaterra. “Se ela o ganhasse, aí eu também o pediria: era a nossa estratégia”, ele agora lembra, a fuga encerrada.

     cd1171aa-0a29-4de3-a471-de9799794a4aJá o tinham procurado em dois endereços em Londres. Ele próprio observara uma passeata do PT em sua homenagem de uma janela ao nível da rua, num hotel de subsolo. “Via os pés dos manifestantes, e escapei por uma porta lateral”. O cerco apertava. Então, ele apostou todas as cartas. Ligou para a Thai Airways, e reservou uma passagem para Bangkoc. Marcou de pegá-la no aeroporto de Heathrow, antes do embarque. Mas uma surpresa o irritou a ponto de descontrolá-lo, e então gritou. A caixa não aceitava dólares, só libras e cartão de crédito. “Não uso cartões. E imagina recusar dólares…” Adiante, os policiais da imigração. Se batessem o nome Farias no computador o descobririam. O cartão de embarque embaralhava o nome Cavalcante, por acaso, mas nada adiantaria. Foi em frente. Ninguém o parou.

     PC Farias deixou Londres na sexta-feira, 5 de novembro. Acabava de receber uma visita de fim de semana dos filhos, vindos da Suíça, onde estudam. Em Bangkoc, no dia seguinte, concluiu que estava na última escala de sua  fuga: “Aqui, ou fico, ou saio. Não dá para ter meio termo”. O que não sabia, então, é que “o povo tailandês pode ser muito bom, mas a Justiça no país está zerada”, como aprendeu. Ele explorava algum tipo de investimento nos “Tigres da Ásia”. Ainda acha que “o futuro do mundo estava ali nessa região”. Sem visto na primeira visita, só dispunha de 15 dias. Quando pediu mais tempo, deram-lhe o suficiente para providenciar tranquilamente uma viagem à Cingapura, onde obteria o visto.

    pcfariasmanchete Foi assim que PC Farias partiu em turismo solitário para Phuket, “uma das praias mais lindas do mundo, com infraestrutura moderníssima.” Ficou três dias deslumbrado até partir para Cingapura. Com o visto, começou a voltar à Tailândia, via Bali, onde ficou até segunda-feira, 22 de novembro. Elma o reencontrou em Bangcoc na terça.

     A noite de Loykratong, uma festa em homenagem a Lua, tinha tudo para ser agradável. O gerente do hotel Sheraton convidou os Farias para um jantar à beira da piscina. PC teve o cuidado de reservar uma mesa. Ao descer, porém, ela estava ocupada. Começou a discutir em inglês com um homem que também afirmava ter feito uma reserva antecipada. Os dois decidiram que era um caso para o gerente resolver. Foi então que o empresário paulista Nelson Scola descobriu com quem estava disputando a mesa. E o deixou com uma frase que ele não conseguiu esquecer:

     “Prazer em revê-lo”.

     PC Farias concluiu ter sido vítima de “uma ironia do destino”. Ele ainda tentou ser gentil: “Não sabia que você é brasileiro”, disse. Ficou tentado a convidá-lo a formar uma única mesa fraternal. Mas se conteve. “Falei para Elma: não gostei desse troço. Tem cheiro de rolo”. Foi pedir informações sobre o brasileiro. Daí soube seu nome, e mais os dados da ficha de hotel.

     “Não tenho ódio dele”, garante PC, “absolutamente convencido” de que Scola foi quem o denunciou à embaixada. Um dos delegados brasileiros que viajou a Bangcoc disse aos repórteres que, na verdade, fora “uma mulher”. Já o embaixador evitou atribuir sexo ao informante. A confusão foi proposital para proteger de vingança quem prendeu PC Farias antes da polícia brasileira, inglesa e internacional. Quando agentes da imigração, protegidos por policiais armados, pediram a PC Farias para ver seu passaporte, e o passaram ao embaixador brasileiro que o anulou, estava encerrada a grande fuga: o fugitivo não podia mais passar por turista legal, documentado, nem estava nas Alagoas, de onde partira 152 dias antes cruzando barreiras policiais que não o importunaram. “A PF estava em greve”,lembra. Mas elogia: “Os federais fizeram um bom trabalho”.

     PC Farias perdeu 10 quilos, baixando para 73. A prisão o magoou. Ele acha que os tailandeses “entraram no jogo brasileiro” porque o filho do rei da Tailândia havia sido muito bem recebido numa visita ao Brasil três meses antes. Ele contestou a legalidade da cassação do passaporte, mas não o recuperou. Se conseguisse, partiria para Hungria, sem tratado de extradição com o Brasil. Voando para a cela em Brasília já estava conformado: “Era o que queria, e até começava a preparar a volta para janeiro”, ele revelou. Um repórter o sondou sobre uma possível vingança: circulava a bordo um boato de que ao desembarcar mostraria um cheque de campanha eleitoral que comprometeria o presidente Itamar Franco. Ele desmentiu. Nem deu tanta importância assim: “Com certeza houve coleta de dinheiro para a campanha do vice-presidente”.  Aconselhou: “O que o Brasil precisa é de uma lei eleitoral”.

BEM-VINDA, CORRUPÇÃO!

Aceitamos corruptos e corruptores de portas abertas no Museu da Corrupção (MuCo). Mas estamos com um sério problema: a atual supersafra do Petrolão é muito maior do que podemos absorver.

O MuCo nasceu da constatação de que a corrupção que faz a manchete dos jornais de hoje relega a do dia anterior ao esquecimento. Vamos adiante, desmemoriados. Mas expor passado e presente escandalosos pode corrigir o futuro. É ferramenta para pesquisadores. Intimida corruptores.

O MuCo nasceu em 21 de abril de 2009, mais para coincidir com o dia seguinte, o do Descobrimento do Brasil, do que com o Dia de Tiradentes. A repórter Kássia Caldeira já pesquisava havia seis meses os processos e investigações da Polícia Federal, os arquivos de CPIs, da Justiça e dos jornais, e aprofundava mais em nosso passado imprevisível. Assim montamos o primeiro acervo.

O arquiteto Rodrigo Moreira

O arquiteto Rodrigo Moreira

Um historiador deu o mote para precipitar a estreia do MuCo: “A corrupção começou com as primeiras caravelas”. Portugal desterrava seus trambiqueiros em Pindorama. O editor de web Luiz Octávio formatou o conteúdo dentro do espaço projetado pelo arquiteto Rodrigo Araújo Moreira. A curadoria foi assumida por Regiane Bochichi, ex-AOL.

Em dois meses, o MuCo alcançou 1.839.765 page views. Em seis meses, ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa. Foi convidado a se exibir numa reunião da ONU, para o Mercosul, no Paraguai. Um grupo de Paris pediu, e ganhou, uma sala para expor la corruption française.

    Com um Congresso pródigo em corrupção, o MuCo teve que abrir uma galeria só para expor a produção diária de Brasília. Em outras salas, estão as operações da PF, o trabalho de CPIs, uma galeria especial para a arte apreendida com corruptos de bom gosto, uma biblioteca com integra de livros para baixar, alguns já esgotados, a pizzaria da ex-deputada Ângela Guadagnin em que a Sarney, o bigode feito de anchovas, é a mais apreciada. Há também uma lojinha, como em todo museu. Ela foi até disputada por interessados em vender produtos reais. Mas continua só vitrina, com cueca própria para esconder dólares, algemas preciosas, máquina de lavar dinheiro, camisas de colarinho branco, kit para escutas clandestinas e camisetas da hora. Cartões postais da Casa da Dinda e da mansão de Palocci, brasilienses; da refinaria de Pasadena, no Texas; e da Petrobras, no Rio e Pernambuco, entre outros, podem ser enviados do próprio MuCo. A Copa do Mundo deste ano ganhou uma área especial, alimentada pelo jornal Lance. Na sala de cinema passam vídeos e som coletados de várias fontes, inclusive da web. No depósito de ferramentas estão os telefones e e-mails de todos deputados e senadores.

O MuCo nunca teve nenhuma verba, ou investimento. E é uma pena que esteja hoje paralisado ante tanta corrupção jorrando da Petrobras. A alguns jornais, nas principais capitais do país, foi oferecido um anexo próprio, num conjunto de torres projetadas em torno do prédio inicial, já pequeno. Antes hospedado no recém-extinto Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo, era um espantalho: por que um jornal ia avalizar outro? E a concorrência? Agora liberado, o criador abdicando à sua criatura, ele poderia ser de todos, tipo Wikipédia. A forma de administrá-lo está aberta. Bobagem pensar em patrocínio. O Google o encamparia? Não, por incompatibilidade à sua operação no Brasil. Alguma empreiteira? Só por humor.

Agora, o MuCo (www.muco.com.br) também entrou no Facebook. Só como obra de todos, poderá crescer, digerir a corrupção que, de tanta, o imobilizou. Algumas ideias que aguardam condições de serem executadas: duas novas salas, uma para a Papuda, outra em homenagem a Paulo Francis, com a memória de suas denúncias sobre a Petrobras. Um museu de cera com os nossos corruptos mais conhecidos — forma eficaz de dissuadir futuros corruptores. Alguns suspeitos absolvidos revelaram o poder da memória preservada, pedindo à curadoria para acrescentar que foram julgados inocentes em casos de muita exposição. Em pouco tempo, a 9 de dezembro, será comemorado o Dia Mundial Contra a Corrupção. Hoje, o Brasil pode comemorar certo avanço contra a impunidade. Mas, e contra o esquecimento?DSC00429

Paraíso de dólares brasileiros

Tantos dólares de brasileiros

nos paraísos fiscais, tirei do baú a reportagem que

fiz para o Estadão em 1991, em Cayman.

 É do  caribe…

Transparência só na água do mar. Foto carib.com

Transparência só na água do mar

Bandeira de Cayman

Bandeira de Cayman

Entusiasmado com a multiplicação de negócios brasileiros no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe, um banqueiro suíço sugeriu: “Por não criar uma linha aérea direta com o Brasil?”. A resposta de um banqueiro brasileiro: “Só se a batizarmos de Capital Flight”.

A evasão de capitais, ou capital flight em inglês, já alcançou cerca de US$ 3 bilhões só em depósitos nos bancos brasileiros no exterior (em 1991), principalmente em Cayman. Se forem contabilizados os depósitos nos bancos internacionais, a evasão de capitais do Brasil já atinge  total estimado entre US$ 30 bilhões e 60 bilhões.

Uma pesquisa altamente reservada, pedida por um banco 1920x1080-Cayman-Islands-Airborneinternacional em Nova York, revela os níveis estimados de depósitos nas agências de alguns brasileiros no exterior. Ao total estimado em US$ 2.235 bilhões, devem ser acrescentados cerca de US$ 600 milhões em depósitos no banco Delta, que pertence ao Real. “A lista só inclui gente pequena”, garante um banqueiro com muita experiência em negócios com brasileiros. Os ricos do Brasil preferem os grandes bancos americanos ou suíços.

Os tesouros das Ilhas Cayman não são os aparentes. O esplendor do cristalino fundo do mar só está acessível a mergulhadores e aos passageiros de um submarino turístico, o Atlantis. O sigilo bancário é impenetrável, submerso em mistério e inviolável por lei.

Do Atlantis, a US$ 60 por hora de passeio, avista-se o monte multicolorido que emerge do mar chamado Grand Cayman, 768 quilômetros ao sul de Miami, entre Cuba e Jamaica. Ao lado, estão as ilhotas Cayman Brac e Little Cayman. Ao fundo, numa profundidade média de 4 mil metros, os abismo conhecido como Cayman Trench. Ao avistar duas ilhas muito pequenas, cheias de tartarugas, quando navegava perdido entre o Panamá e Hispaniola, em maio de 1503, Cristóvão Colombo as batizou de Las Tortugas. Mas, 20 anos depois, elas reapareceram como se fossem Lagartos num mapa italiano. As tartarugas e lagartos evoluíram, em 1530, para crocodilos – os Caimanas do Caribe.

Grand Cayman é um Grande Crocodilo, com 35 por 6,4 quilômetros, a metade pântano. Little Cayman, o Jacarezinho, tem 16 por 1,6 quilômetros, com o ponto mais alto a 12 metros acima do nível do mar. A origem do sobrenome Brac da terceira Cayman seria galega – blefe. Esse Crocodilo de Mentira, com 19,2 por 1,8 quilômetros, é, na verdade, um templo de mergulhadores.

Os crocodilos desaparecem na bandeira de Cayman, substituídos por um leão de ouro, uma tartaruga e uma inscrição: “Fundada sobre os mares”. As próprias tartarugas entraram em processo de extinção. Foram muito caçadas por navegantes e piratas, num holocausto que os caimaneiros tentam reparar. Perto do Inferno, na ponta norte da ilha Grand Cayman, as tartarugas são criadas em vários tanques e devolvidas ao mar, numa experiência única no mundo. Mas a fazenda foi atingida por uma violenta ventania, um dia antes do Natal do ano passado, e está se recuperando da perda de cinco mil tartarugas de três a 15 meses. Ainda falta tirar o bife de tartaruga do cardápio dos restaurantes, onde a oferecem como um prato típico. Uma ironia: a carne pode ser comprada, sob encomenda, na fazenda criada pelo ideal da preservação.

As fotos da rainha Elizabeth e do príncipe Philip decoram a alfândega do aeroporto internacional Owen Roberts, em George Town, a capital da Grand Cayman. As ilhas passaram da Espanha para a Inglaterra com o Tratado de Madri, em 1670. Os caimaneiros nunca quiseram ser independentes. Foram administrados pela Jamaica por quase cem anos, desde 1863. Optaram por manter a tutela direta da Coroa Inglesa quando os jamaicanos proclamaram a independência, em 1962. E, orgulhosos, dirigem os carros na contramão do Caribe, como se estivessem em Londres, mesmo com os volantes do lado esquerdo.

A fidelidade total à coroa compensa. As ilhas Cayman mantêm o mais alto nível de vida do Caribe. O Produto Nacional Bruto equivale a US$ 17.400 por pessoa e continua crescendo a uma média de 5,8% ao ano (em 1991). Cada dólar caimaneiro vale US$ 1,25. Não há desemprego. A inflação está em torno de 10%, importada, como 95% de todos os produtos à venda. A Inglaterra nomeia um governador para cuidar da defesa, relações exteriores, segurança interna e serviço público. Ele escolhe três dos sete membros de um Conselho Executivo e ainda preside a Assembleia Legislativa, com 12 deputados eleitos. Não há partidos políticos formais, mas apenas dois times: o Dignidade e o Unidade.

A isenção de impostos nas ilhas Cayman é lendária. Ela foi conquistada numa noite tempestuosa de novembro, em 1788, quando o primeiro de um comboio de dez navios mercantes bateu contra os recifes da Baía do Canhão. Todos naufragaram. Mas os bravos navegantes caimaneiros enfrentaram o mar para resgatar tripulantes e passageiros, entre eles até um membro da Família Real. O rei George III ficou tão grato que extinguiu os impostos e o serviço militar na colônia. Estava criado o paraíso fiscal, só concluído em 1976, com a adoção de uma legislação para garantir o total sigilo bancário.

O tesouro das ilhas Cayman é hoje avaliado em US$ 380 bilhões – o quinto no mundo. Um total de 538 bancos e 18.264 empresas já lançaram âncoras no paraíso de águas verde-claras e da estabilidade política e econômica em pleno Caribe. Outros ainda seguem o mapa da mina. Dos 50 maiores bancos mundiais, 44 já chegaram. E, dos brasileiros, 17 estão no registro oficial do Inspetor dos Bancos.

As igrejas também crescem nesse paraíso. Já são 60. E a população passou dos 25 mil, com 20% negros, 20% brancos e 60% de “inseguros” – mas nem um pouco preocupados, como explicou um caimaneiro à revista National Geographic.

snuba-cayman-grand-cayman-cayman-islands-1

Contas são movimentadas à distância

A abertura de uma conta num banco internacional de George Town, em Grand Cayman, seguiria uma burocracia rotineira não fossem as máquinas de picar papel. Podem nem ser usadas, mas estão sempre à disposição. Um banqueiro suíço ficou famoso por sentar os clientes ao lado de uma dessas devoradoras de papéis. Documentos comprometedores viram confete ou longas serpentinas. Uma cerimônia de triturar anotações muitas vezes marca solenemente o final das reuniões.

Mas nem sempre o cliente está presente. E nem mesmo o banco. As contas de brasileiros em Grand Cayman são abertas e movimentadas por fax, telefone, telex e computador a partir de Nova York, Miami, São Paulo, Rio de Janeiro, Assunção e Montevidéu. “Você é o primeiro brasileiro que aparece aqui em um ano e meio”, exclamou um executivo do Banco Econômico, André da Silveira Neeser. A maioria dos bancos não passa de uma plaquinha na parede e um número de caixa postal. Dos 538 registrados, apenas 69 existem fisicamente. Entre eles estão o Banco do Brasil, Real/Delta, Banespa, Unibanco e o Transworld Bank Trust Limited, ex-Econobank e ex-Econômico.

“Lucro no Exterior não é cobrado no Brasil”, diz um banqueiro para explicar o registro de bancos brasileiros em Cayman. E ele acrescenta: “Aqui, a operação é inteiramente legal. Em Nova York também, se você for estrangeiro. Mas em São Paulo ou Rio, não. Os gaúchos vão até Montevidéu para transferir dólares para Cayman. Lá, inclusive, o câmbio é livre. Os paranaenses cruzam a fronteira para o Paraguai. E o Banco do Brasil em Buenos Aires não estará cometendo nenhum crime perante as leis da Argentina se executar alguma operação de transferência. Na verdade, o cidadão brasileiro pode ter conta no exterior desde que a revele na declaração do Imposto de Renda. Não acredito que declarem. A maioria não quer nem receber os extratos das contas. Preferem um dia buscá-los”.

Alguns bancos abrem contas em Cayman para clientes especiais no próprio Brasil. Cobram uma taxa de remessa, outra para ordens de pagamento, e até apresentam um recibo de depósito em três dias. Pagam a Libor, os juros interbancários de Londres, que está em torno de 7%. E se livram ao mesmo tempo dos bancos centrais brasileiro e americano. Alguém que tenha mais de US$ 2 milhões vai certamente procurar um grande banco internacional, conta um corretor de Nova York. Será recebido com sofisticação. E poderá ter uma conta corrente completa, com talão de cheque, posições de investimento e um trabalho de administração de fundos pessoais. Ganhará um código de acesso por telefone. O Citibank, o Morgan, o Chase e os suíços possuem uma organização fantástica para atender clientes ricos. Mas, apesar de toda a infraestrutura de comunicações dos paraísos fiscais, ainda há quem carregue a própria mala de dinheiro.”