REVELADO O PLANO DOS EUA PARA A PAZ EM GAZA

Eis o plano de 21 pontos para acabar com a guerra em Gaza que o presidente Donald Trump elaborou com oito países árabes e vai apresentar ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nessa segunda-feira.
O plano foi obtido pelo jornal Times of Israel que certificou sua autenticidade com duas fontes diferentes. Nele há pontos que devem desagradar a Israel, ao Hamas e a Autoridade Palestina. Mas não há plano possível que agrade a todos.
Os 21 pontos foram traduzidos por IA porque extensos e para que possam ser conhecidos imediatamente.


PLANO DE 21 PONTOS
O conteúdo do plano foi parafraseado a pedido das fontes que o forneceram.
 1.⁠ ⁠Gaza será uma zona desradicalizada, livre de terrorismo e não representará uma ameaça aos seus vizinhos.
 2.⁠ ⁠Gaza será reconstruída para o benefício de seu povo.
 3.⁠ ⁠Se ambos os lados concordarem com a proposta, a guerra terminará imediatamente, com as forças israelenses interrompendo todas as operações e se retirando gradualmente da Faixa de Gaza.
 4.⁠ ⁠Dentro de 48 horas após Israel aceitar publicamente o acordo, todos os reféns vivos e mortos serão devolvidos.
 5.⁠ ⁠Assim que os reféns forem devolvidos, Israel libertará centenas de prisioneiros de segurança palestinos que cumprem penas de prisão perpétua e mais de 1.000 moradores de Gaza presos desde o início da guerra, juntamente com os corpos de centenas de palestinos.
 6.⁠ ⁠Assim que os reféns forem devolvidos, os membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica receberão anistia, enquanto os membros que desejarem deixar a Faixa de Gaza receberão passagem segura para os países receptores.
 7.⁠ ⁠Uma vez alcançado esse acordo, a ajuda chegará à Faixa a taxas não inferiores às metas estabelecidas no acordo de reféns de janeiro de 2025, que incluía 600 caminhões de ajuda por dia, juntamente com a reabilitação de infraestrutura crítica e a entrada de equipamentos para remoção de escombros.
 8.⁠ ⁠A ajuda será distribuída — sem interferência de nenhum dos lados — pelas Nações Unidas e pelo Crescente Vermelho, juntamente com outras organizações internacionais não associadas a Israel ou ao Hamas.
(O texto desta cláusula parece intencionalmente vago e aparentemente deixa uma abertura para a operação contínua da Fundação Humanitária de Gaza, já que tecnicamente é uma organização americana, mesmo tendo sido uma criação de israelenses ligados ao governo e criada para se adequar à condução da guerra pelo governo israelense.)
 9.⁠ ⁠Gaza será governada por um governo temporário e transitório de tecnocratas palestinos, responsáveis por fornecer serviços diários à população da Faixa de Gaza. O comitê será supervisionado por um novo organismo internacional estabelecido pelos EUA em consulta com parceiros árabes e europeus. Ele estabelecerá uma estrutura para o financiamento da reconstrução de Gaza até que a Autoridade Palestina conclua seu programa de reformas.
(Esta é a primeira menção do plano dos EUA à Autoridade Palestina, sediada em Ramallah. Israel descartou a autoridade como potencial governante de Gaza, rejeitando assim o que se tornou a chave para recrutar assistência árabe na gestão pós-guerra da Faixa, visto que a comunidade internacional considera a unificação da Cisjordânia e de Gaza sob um único órgão de governo reformado como essencial para a estabilidade e a paz a longo prazo. A aparente decisão de reservar o papel da AP para uma data posterior não especificada provavelmente será difícil para Ramallah engolir, mas também tem influência limitada nessas discussões.)
10.⁠ ⁠Um plano econômico será criado para reconstruir Gaza por meio da convocação de especialistas com experiência na construção de cidades modernas no Oriente Médio e por meio da consideração de planos existentes que visam atrair investimentos e criar empregos.
11.⁠ ⁠Será estabelecida uma zona econômica, com tarifas reduzidas e taxas de acesso a serem negociadas pelos países participantes.
12.⁠ ⁠Ninguém será forçado a deixar Gaza, mas aqueles que optarem por sair poderão retornar. Além disso, os moradores de Gaza serão incentivados a permanecer na Faixa de Gaza e terão a oportunidade de construir um futuro melhor lá.
13.⁠ ⁠O Hamas não terá qualquer papel na governança de Gaza. Haverá o compromisso de destruir e interromper a construção de qualquer infraestrutura militar ofensiva, incluindo túneis. Os novos líderes de Gaza se comprometerão com a coexistência pacífica com seus vizinhos.
14.⁠ ⁠Uma garantia de segurança será fornecida pelos parceiros regionais para garantir que o Hamas e outras facções de Gaza cumpram suas obrigações e que Gaza deixe de representar uma ameaça a Israel ou ao seu próprio povo.
15.⁠ ⁠Os EUA trabalharão com parceiros árabes e outros parceiros internacionais para desenvolver uma força internacional temporária de estabilização , que será imediatamente enviada a Gaza para supervisionar a segurança na Faixa de Gaza. A força desenvolverá e treinará uma força policial palestina, que servirá como um órgão de segurança interna de longo prazo.
16.⁠ ⁠Israel não ocupará nem anexará Gaza, e as IDF entregarão gradualmente o território que ocupam atualmente, à medida que as forças de segurança substitutas estabelecerem o controle e a estabilidade na Faixa.
17.⁠ ⁠Se o Hamas atrasar ou rejeitar esta proposta, os pontos acima prosseguirão em áreas livres de terrorismo, que as IDF entregarão gradualmente à força internacional de estabilização.
(Esta é a primeira menção à possibilidade de que o acordo possa ser implementado pelo menos parcialmente, mesmo que o Hamas não concorde.)
18.⁠ ⁠Israel concorda em não realizar futuros ataques no Catar. Os EUA e a comunidade internacional reconhecem o importante papel mediador de Doha no conflito de Gaza.
19.⁠ ⁠Será estabelecido um processo para desradicalizar a população. Isso incluirá um diálogo inter-religioso com o objetivo de mudar mentalidades e narrativas em Israel e Gaza.
20.⁠ ⁠Quando a reconstrução de Gaza tiver avançado e o programa de reforma da AP tiver sido implementado, as condições poderão estar reunidas para um caminho confiável para a criação de um Estado palestino, que é reconhecido como a aspiração do povo palestino.
(A cláusula não fornece detalhes sobre o programa de reforma palestina e não é definitiva sobre quando o caminho para a criação de um estado pode ser estabelecido.)
21.⁠ ⁠Os EUA estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para chegar a um acordo sobre um horizonte político para a coexistência pacífica.

Mortes e acordos entre Israel-Síria-Jordânia e Libano.

Foto do exército de Israel, hoje, na Ponte Allenby

Um jordaniano que dirigia um caminhão carregado com ajuda humanitária para Gaza estacionou para inspeção israelense na Ponte Allenby, perto de Jericó, na Cisjordânia. Tinha um revólver. E o disparou até ele não funcionar, engasgado com uma bala. Então, sacou uma faca e matou duas pessoas, uma de 60 e outra de cerca de 20 anos. Foi morto. A passagem entre Jordânia e Israel foi fechada.

(Em Gaza, quase ao mesmo tempo, um comandante e três oficiais foram mortos ao passarem sobre uma mina improvisada.)
Ano passado, nessa mesma ponte Allenby, três israelenses morreram baleados, também por um motorista de caminhão jordaniano de alimentos para Gaza.
Algumas horas depois do atentado desta quinta-feira, o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, confidente do premiê Benjamin Netanyahu, sugeriu que o Vale do Jordão pode ser anexado sem maiores consequências, se for uma reação ao reconhecimento do estado da Palestina, na semana que vem, na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A expectativa sobre a reação dos Emirados Árabes Unidos foi reduzida a uma retirada de seu embaixador de Tel-Aviv, não mais uma ruptura.


O ministro Dermer esteve negociando um pacto de convivência entre Síria e Israel, em Londres, onde também se encontrou com o secretário de Estado Marco Rubio, que esteve em Jerusalém e Doha, no Catar, há poucos dias. Não foi a primeira vez que ele propôs a anexação de parte da Cisjordânia, mas a que tem mais chance de ocorrer, antecipada pelo próprio premiê Netanyahu e exigida, praticamente, por seus aliados da extrema-direita na coligação governamental.
O presidente sírio Ahmed al-Sharaa revelou-se otimista com as negociações com o ministro Dermer, nesta quinta-feira, prevendo um acordo para “os próximos dias”. Para ele, o pacto é necessário para acabar com as incursões aéreas e terrestres do vizinho israelense. Mas não está claro como foi ou será resolvido o impasse sobre as Colinas do Golã, anexadas por Israel depois de conquistadas, na Guerra dos Seis Dias (1967).
Em Londres, o primeiro-ministro Keir Starmer e Trump concordaram em discordar sobre o reconhecimento da Palestina, durante uma entrevista coletiva, nesta quinta-feira. O Reino Unido iria se antecipar à França, anunciando-o antes. Mas a recepção real ao presidente dos EUA o dissuadiu.
Ao afirmar que “o Hamas não deve ser parte de nenhum futuro governo na Palestina”, o que não impedirá o seu reconhecimento, Starmer recebeu um tapinha nas costas de um Trump satisfeito, e que declarou: “Discordo do primeiro-ministro (sobre reconhecer a Palestina) … É um nossos poucos desacordos.” Ele acrescentou que os reféns cativos do Hamas devem ser libertados imediatamente: “Não um, não dois ou ‘vamos lhe dar dois amanhã’. Temos que receber os reféns imediatamente. É isso que o povo de Israel quer. E queremos que a guerra acabe, e ela vai acabar”.


Israel distribuiu panfletos no sul do Líbano, na manhã desta quinta-feira (foto acima): “Aviso urgente”, alertou em árabe. “As IDF (Forças de Defesa de Israel) atacarão a infraestrutura militar pertencente ao terroristas Hezbollah em todo o sul do Líbano, para combater suas tentativas proibidas de reconstruir suas atividades”. Num mapa, foram indicados os edifícios que seriam atacados em Kafr Tibnit e Dubna, recomendando a seus moradores a permanecer a uma distância de 500 metros.

Um fim de semana trágico paira sobre Israel

(Venice) La distruzione del tempio di Gerusalemme -Francesco Hayez – gallerie Accademia Venice

Ao pôr do sol de sábado terá início o dia destinado à tragédia para os judeus de Israel e do mundo. É o Tishá B’Av, o 9 Av, no calendário lunar hebraico.

Ao longo de séculos, o 9 Av marcou a destruição dos dois templos de Jerusalém, em 586 a.C. e 70 d.C.; a matança de meio milhão de judeus pelos romanos na cidade de Betar, em 135 d.C.; a expulsão dos judeus da Inglaterra (1290), da França (1306) e da Espanha (1942); o início da Primeira Guerra Mundial (1941) e as deportações do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio nazista de Treblinka (1942).

Que nova tragédia pode acontecer no 9 Av deste ano, além da já trágica guerra em Gaza, que chega ao seu 666º dia no sábado?

O professor de História e escritor Yuval Noah Harari previu a destruição metafórica do “terceiro templo” se o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continuar no poder em Israel. Foi quando ele discursou para manifestantes contra o governo:

“Basta Bibi! (o apelido de Netanyahu). Vocês não estão destruindo apenas o Estado de Israel, mas todo o povo judeu (…) Todas as comunidades judaicas, de Nova York a Sidney, terão de decidir se se mantém fiéis aos valores de ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’, ou se se alinham com o novo judaísmo negro que está sendo criado, o judaísmo dos incendiários de Huwara” (cidade palestina, em Nablus, na Cisjordânia, atacada por colonos judeus, em 2023.)

Então, Harari concluiu: “Não dá para esperar por Tishá B’Av e pela destruição do Templo. A hora de parar o governo Netanyahu é agora”.

A primeira da série de tragédias em 9 Av é contada no Livro de Números, capítulos 13 e 14. O povo de Israel estava acampado à entrada da Terra Prometida, por volta de 1.500 a.C., à espera do relato dos 12 espiões enviados por Moisés para explorar Canaã. Só dois dos espiões, Josué e Calebe, trouxeram um relato positivo. Os outros dez viram habitantes gigantes em cidades fortificadas, o que gerou pânico e descrença. Os israelitas choraram. E então, segundo um texto rabínico, Deus falou:

“Vocês choraram diante de mim sem motivo, eu fixarei para vocês (este dia com um dia de) choro para as gerações”. Era um 9 Av. E os judeus, punidos, peregrinaram pelo deserto durante 40 anos, até o fim da geração que duvidou de Deus.

O profeta Jeremias atribuiu a destruição do Primeiro Templo pelos babilônios aos “pecados do rei, dos líderes da nação e do povo de Judá, bem como à falta de arrependimento”. Por uma interpretação moderna, o Segundo Templo caiu por ações de extremistas, que “nunca veem ou querem ver as consequências de suas ações”. Outra causa para as catástrofes de 9 Av é que “a História não ocorre por acaso; os acontecimentos — mesmo os terríveis — são parte de um plano divino, e têm um significado espiritual”.

As tragédias coincidentes num mesmo dia ao longo do tempo são reais, registradas em documentos históricos, descobertas arqueológicas e relatos cronológicos. A História analisa causas políticas, econômicas e sociais, mas não faz um juízo religioso. As visões histórica e teológica podem se complementar, para muitos estudiosos.

Em 9 Av, 1941, o comandante Heinrich Himmler recebeu a aprovação do Partido Nazista para a Solução Final, que marcou o início do Holocausto. Em 10 Av de 1994, uma bomba explodiu no centro comunitário judaico da AMIA, em Buenos Aires, matando 85 pessoas. Em 1995, o premiê Yitzhak Rabin foi assassinado por um fanático judeu de extrema direita. E em 9 Av de 2005 Israel se retirou de Gaza, abrindo o caminho para a vitória do Hamas em 2006 e a expulsão da Autoridade Palestina (AP) para Ramallah, na Cisjordânia.

Agora, em 2025, o povo judeu está vivendo várias causas para a produção de uma nova catástrofe em Tishá B’Av. O pensador israelense-americano, Doron Weber, fez uma lista em que destaca que o governo de Benjamin Netanyahu minou a coesão militar de Israel; abalou a sua economia; rompeu o tecido social; deu liberdade a colonos judeus para atacar palestinos na Cisjordânia; prejudicou as relações com os EUA e alienou os judeus da diáspora, que estão sofrendo uma onda antissemita no mundo todo. Israel, hoje, é um vilão internacional, um pária, isolado de seus amigos e aliados.

A observância do Tishá B’Av é tão rigorosa, para os judeus, quanto o Yom Kippur, o Dia do Perdão. O jejum começa ao pôr do sol do sábado, e deve ser mantido por 25 horas. Não se pode tomar banho, passar cremes ou óleos no corpo, usar sapatos de couro, ter relações sexuais, trabalhar, cumprimentar pessoas e dar presentes. Nas sinagogas, lê-se o Livro de Lamentações e lembra-se a destruição dos dois templos de Jerusalém, dos quais resta o Muro das Lamentações. Os oito dias que antecedem o 9 Av são de luto, não se come carne nem se toma vinho, não se usa roupa nova e nem se participa de festas.

O Tishá B’Av poderá se tornar um dia alegre, se o Terceiro Templo for construído. No lugar dele, porém, estão hoje as mesquitas de Al-Aksa e do Domo da Rocha, de onde Maomé subiu aos céus num cavalo alado. Jerusalém, ou Al Quds (A Santa, para os muçulmanos), é a cidade disputada para capital por israelenses e palestinos.

No Oriente Médio, Estado e Religião se embaralham. Em muitos países árabes, o islamismo serve como base moral, política e estrutura legal. Em Israel, “um Estado judeu e democrático”, os partidos religiosos têm uma influência muito grande em decisões políticas. Atualmente, dois ministros ultra religiosos e radicais de direita ameaçam derrubar a coligação que sustenta o premiê Netanyahu, que está com um único voto de maioria no Parlamento, se ele aceitar o fim da guerra sem exterminar o Hamas e criar colônias judaicas em Gaza.

Entre religiosos judeus circula os versículos 51-55, do livro de Números, capítulo 33, em que Deus diz a Moisés:

“Quando vocês atravessarem o Jordão para entrar em Canaã, expulsem da frente de vocês todos os habitantes da terra. Destruam todas as imagens esculpidas e todos os ídolos fundidos e derrubem todos os santuários locais deles. Tomem posse da terra e instalem se nela, pois eu dei a vocês a terra para que dela tomem posse. Distribuam a terra por sorteio, de acordo com os seus clãs. Aos clãs maiores, vocês darão uma herança maior; aos menores, uma herança menor. Cada clã receberá a terra que lhe cair por sorte. Distribuam na entre as tribos dos seus antepassados. Se, contudo, vocês não expulsarem os habitantes da terra, aqueles que vocês permitirem ficar se tornarão farpas nos seus olhos e espinhos nas suas costas. Eles causarão problemas para vocês na terra em que vocês irão morar.”

Que o Tisha B’Av de 2025 (ou 5785, no calendário hebraico) passe sem novas tragédias.

AS DUAS GAZA DE ISRAEL

(Na Faixa de Gaza, os mortos já passam de 50 mil)
(Na rua Gaza, residência de Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, aumenta o número de manifestantes que exigem a sua saída.)

Israel está reocupando as ruínas de bairros e cidades de onde havia se retirado em Gaza, durante a frágil trégua de dois meses rompida na última terça-feira. A nova ofensiva matou 673 palestinos, um terço dos quais crianças, elevando para 50.021 o número de mortos em 17 meses de guerra.
Com a ajuda humanitária bloqueada, cortada a energia para a dessalinização da água do mar, e novas ordens de deslocamento aos palestinos que armaram tendas no lugar de suas casas destruídas, Gaza voltou a ser o “inferno” que o presidente Donald Trump propôs transformar em Riviera do Oriente Médio.
Da tarde de sábado até o anoitecer do domingo, mais 41 pessoas foram mortas, entre elas um popular líder do Hamas, Salah al-Bardawill, que rezava com sua esposa em al-Mawasi, em Khan Yunis, neste mês sagrado do Ramadã. Outros altos funcionários civis do Hamas também foram assassinados, numa série de alvos seletivos, entre eles o primeiro-ministro interino Essam Al-Da’alis. A lista de mortos do Ministério de Saúde de Gaza não distingue civis de militares. Israel calcula ter matado cerca de 20 mil combatentes.
O Crescente Vermelho da Palestina comunicou ter perdido contato com uma de suas equipes de paramédicos em Rafah. A Defesa Civil de Gaza partiu para tentar resgatá-la, mas seus socorristas também ficaram retidos.
O Comissário-Geral das Nações Unidas, Phillippe Lazzarini, postou no X a advertência: “Cada dia sem comida aproxima Gaza de uma crise aguda de fome”.
Israel justifica o fim da trégua como forma de pressionar o Hamas a devolver 59 reféns israelenses, dos quais 24 estariam vivos. Mas não há negociações para novo cessar-fogo. O enviado da Casa Branca para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse à Fox News, neste domingo, que foi “enganado” pelo Hamas no início deste mês. Ele achou que sua proposta de estender a trégua até 19 de abril, em troca da libertação de cinco reféns vivos por centenas de prisioneiros palestinos, tivesse sido aceita. Mas não: o Hamas colocou à mesa a entrega de um refém americano-israelense vivo, e mais quatro mortos, numa negociação inédita, direta, entre um funcionário do governo americano e líderes do Hamas, em Doha, no Catar. Israel exigiu 11 reféns libertados em vez de cinco.
“Infelizmente, a guerra se tornou a alternativa”, lamentou Witkoff.
Há outra Gaza, em Israel. É a rua Azza (Gaza, força ou coragem, em hebraico, alusão ao mitológico Sansão, que foi cidadão de Gaza). Na rua Azza, no bairro Rehavia, em Jerusalém, fica a residência oficial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. E para lá foram muitos dos manifestantes que protestam contra o reinício da guerra em Gaza, pedem prioridade para a libertação dos reféns e estão querendo a prisão de Netanyahu por ter tentado demitir o chefe da espionagem interna israelense, Ronen Bar, na sexta-feira, e, neste domingo, promoveu um voto de desconfiança à procuradora-geral Baharav-Miara, primeiro passo para demiti-la também.
“Um suspeito não demite um investigador” — a palavra de ordem surgiu em cartazes nos protestos de domingo em Jerusalém e Tel-Aviv. Em carta aos ministros que a estão fritando, Baharav-Miara disse que o governo pretende estar “acima da lei”. O primeiro-ministro Netanyahu, réu em três processos de corrupção, pivô de um escândalo de milhares de dólares do Catar enviados aos palestinos e desviados para o Hamas, o Catargate, e acusado por críticos de ter reiniciado a guerra para se manter no poder, enfrenta ameaças de greve geral, a Justiça e manifestações cada vez maiores.

Israel está reocupando as ruínas de bairros e cidades de onde havia se retirado em Gaza, durante a frágil trégua de dois meses rompida na última terça-feira. A nova ofensiva matou 673 palestinos, um terço dos quais crianças, elevando para 50.021 o número de mortos em 17 meses de guerra.
Com a ajuda humanitária bloqueada, cortada a energia para a dessalinização da água do mar, e novas ordens de deslocamento aos palestinos que armaram tendas no lugar de suas casas destruídas, Gaza voltou a ser o “inferno” que o presidente Donald Trump propôs transformar em Riviera do Oriente Médio.
Da tarde de sábado até o anoitecer do domingo, mais 41 pessoas foram mortas, entre elas um popular líder do Hamas, Salah al-Bardawill, que rezava com sua esposa em al-Mawasi, em Khan Yunis, neste mês sagrado do Ramadã. Outros altos funcionários civis do Hamas também foram assassinados, numa série de alvos seletivos, entre eles o primeiro-ministro interino Essam Al-Da’alis. A lista de mortos do Ministério de Saúde de Gaza não distingue civis de militares. Israel calcula ter matado cerca de 20 mil combatentes.
O Crescente Vermelho da Palestina comunicou ter perdido contato com uma de suas equipes de paramédicos em Rafah. A Defesa Civil de Gaza partiu para tentar resgatá-la, mas seus socorristas também ficaram retidos.
O Comissário-Geral das Nações Unidas, Phillippe Lazzarini, postou no X a advertência: “Cada dia sem comida aproxima Gaza de uma crise aguda de fome”.
Israel justifica o fim da trégua como forma de pressionar o Hamas a devolver 59 reféns israelenses, dos quais 24 estariam vivos. Mas não há negociações para novo cessar-fogo. O enviado da Casa Branca para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse à Fox News, neste domingo, que foi “enganado” pelo Hamas no início deste mês. Ele achou que sua proposta de estender a trégua até 19 de abril, em troca da libertação de cinco reféns vivos por centenas de prisioneiros palestinos, tivesse sido aceita. Mas não: o Hamas colocou à mesa a entrega de um refém americano-israelense vivo, e mais quatro mortos, numa negociação inédita, direta, entre um funcionário do governo americano e líderes do Hamas, em Doha, no Catar. Israel exigiu 11 reféns libertados em vez de cinco.
“Infelizmente, a guerra se tornou a alternativa”, lamentou Witkoff.
Há outra Gaza, em Israel. É a rua Azza (Gaza, força ou coragem, em hebraico, alusão ao mitológico Sansão, que foi cidadão de Gaza). Na rua Azza, no bairro Rehavia, em Jerusalém, fica a residência oficial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. E para lá foram muitos dos manifestantes que protestam contra o reinício da guerra em Gaza, pedem prioridade para a libertação dos reféns e estão querendo a prisão de Netanyahu por ter tentado demitir o chefe da espionagem interna israelense, Ronen Bar, na sexta-feira, e, neste domingo, promoveu um voto de desconfiança à procuradora-geral Baharav-Miara, primeiro passo para demiti-la também.
“Um suspeito não demite um investigador” — a palavra de ordem surgiu em cartazes nos protestos de domingo em Jerusalém e Tel-Aviv. Em carta aos ministros que a estão fritando, Baharav-Miara disse que o governo pretende estar “acima da lei”. O primeiro-ministro Netanyahu, réu em três processos de corrupção, pivô de um escândalo de milhares de dólares do Catar enviados aos palestinos e desviados para o Hamas, o Catargate, e acusado por críticos de ter reiniciado a guerra para se manter no poder, enfrenta ameaças de greve geral, a Justiça e manifestações cada vez maiores.

Trigo Manchado de Sangue

Na Terra Prometida, testemunho de um momento de paz numa história feita de guerras.

Às 6h30, encobertos por cerca de 5 mil foguetes disparados de Gaza por 20 minutos, centenas dos cerca de 3 mil terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina (PIJ) que invadiram Israel por terra, ar e mar, penetraram no kibutz Tel-Reim. A luz vermelha que daria até 15 segundos para que seus 422 habitantes corressem para os abrigos não acendeu. Tiros e granadas alertaram para o ataque, entre gritos de fugitivos do festival de música Supernova, onde foram assassinados 364 jovens que dançaram a noite toda.

Do trator no deserto do Neguev ao massacre de 1.200 israelenses e a captura de 251 reféns pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023, transcorreram 56 anos unidos por uma relação de causa e efeito. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou Gaza e o deserto do Sinai, do Egito; a Cisjordânia, da Jordânia, com a bíblica Jerusalém, sagrada para o Islã, o Judaísmo e o Cristianismo; e as Colinas do Golã, da Síria, ampliando seu território de 20.720 km2 para 73.635 km2, e assumindo a tutela de 3,1 milhões de palestinos.

Com um radinho de pilha em Tel-Reim, quando meu amigo druso não o levava em nome do socialismo do kibutz, ouvia as notícias, em inglês e francês. O principal assunto eram os territórios conquistados, que deveriam ser trocados por paz.

À espera da paz, os israelenses os invadiam, como turistas., e não eram hostilizados. Que judeu não queria conhecer a terra de seus ancestrais, a Judeia e Samaria, os nomes bíblicos da Cisjordânia, a Terra Prometida? Ou rezar no Muro das Lamentações? — o último vestígio do antigo Templo de Herodes, o segundo local mais sagrado do judaísmo, abaixo das mesquitas de Al Aqsa e Domo da Rocha, o terceiro lugar mais sagrado do islamismo. Gaza logo se tornou a oficina de carros dos israelenses, com preços muito abaixo dos cobrados em Tel-Aviv.

Havia políticos em Israel que propunham correções territoriais antes da devolução de terras, pretendendo mais espaço estratégico para o aeroporto internacional Ben Gurion; e uma unanimidade cobiçava a anexação Jerusalém. Outros sugeriam criar colônias na Cisjordânia, Gaza e Golã, condenadas pela ONU e consideradas “obstáculos para a paz” pelos EUA. No final, só o deserto do Sinai foi devolvido para o Egito, com o acordo assinado em 1978 pelos prêmios Nobel da Paz Anuar Sadat e o primeiro-ministro Menachem Beguin, que dizia que não devolveria um grão de areia do deserto.

Nos 56 anos desde 1967, mais de 700 mil judeus foram viver em 146 colônias plantadas na Cisjordânia, onde deveria brotar a Palestina. O impasse que incentivou a colonização foi cimentado pela Liga Árabe ao adotar os três “nãos” em Cartum, três meses do fim da guerra: “não” ao reconhecimento de Israel, “não” a negociações e “não” à paz.

O Hamas (“Zelo”, em árabe; “Violência”, em hebraico) quer a destruição de Israel — e não um acordo de paz. A sua carta de fundação de 1988 decreta: “A Palestina é uma pátria islâmica que nunca poderá ser entregue a não-muçulmanos”. E um texto extra corânico de Maomé complementa: “O mundo só conhecerá a redenção final e a ressurreição dos mortos quando os muçulmanos conseguirem aniquilar todos os judeus, ou convertê-los ao Islã.”

O Hamas nasceu da Irmandade Muçulmana, fundada em 1928 pelo ideólogo islâmico Hassan al-Banna, que pregava a volta ao mundo muçulmano do século VIII com o extermínio da civilização ocidental, em geral, e a dos Estados Unidos, em particular, por sua “licenciosidade demoníaca e arrogância pecaminosa”. Foi ela que assassinou o presidente Anuar Sadat, do Egito, em 1981, por causa do acordo de paz que ele assinou com Israel. Acusada de tentar um golpe contra o presidente sírio Hafez al-Assad, em 1982, cerca de 500 “irmãos” foram assassinados no massacre de 10 a 25 mil civis sírios em Hama, ao norte de Damasco. Os jornais só publicaram notinhas. É que o simultâneo massacre de palestinos em Sabra e Chatila, em Beirute, dominou as manchetes na imprensa mundial, com 500 a 3.500 mortos. O saldo dos dois massacres é incerto mais de 40 anos depois.

Em Gaza, em 1987, a Irmandade Muçulmana foi rebatizada de “Haraqat al-Muqawame al-Islamiya”, ou HAMAS, o “ramo palestino da Irmandade Muçulmana”. O comando dos palestinos de variadas facções estava unificado na OLP (a Organização de Libertação da Palestina), de Yasser Arafat, um dos fundadores do Fatah, em 1959, que se converteria de inimigo mortal a amigo e parceiro de Israel, em 1988, ao aceitar a solução de dois estados para o conflito israelense-palestino. Com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, que titubeou em lhe dar a mão na Casa Branca, ele assinou os acordos de Oslo, em 1993.

Dirigido pelo xeque tetraplégico e quase cego Ahmed Yassin, o Hamas ganhava cada vez mais popularidade em Gaza por prestar assistência social à população. Opunha-se à OLP e à divisão da Palestina com Israel. Em 1995, um jovem judeu ortodoxo de extrema direita, Yigal Amir, assassinou Rabin, enquanto ele entoava uma canção de paz num comício na Praça dos Reis de Israel, em Tel Aviv. Um ano depois, em 1996, o líder da direita Benjamin Netanyahu era eleito primeiro-ministro, cargo que ocupa hoje pela sexta vez.

Em comum, Amir, Yassin e Netanyahu se opunham à solução de dois estados. Há uma lei no Oriente Médio que dispõe que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Seguindo-a, o governo de Israel começou a usar o Hamas como um contrapeso à OLP, já enfraquecida com a morte de Arafat, em 2004, e por denúncias de corrupção. Em 2005, Gaza foi entregue aos palestinos. Nas eleições de 2006, o Hamas venceu o Fatah e o expulsou para Ramallah, na Cisjordânia, com uma guerra civil. A causa Palestina passou a ter dois interlocutores, um a favor de negociações com Israel, e outro, pela sua destruição.

Eis que a solução de dois estados foi resgatada pelo presidente Joe Biden, em 2023. E como brinde para que fosse aceita ele oferecia a normalização de relações com a Arábia Saudita tão ambicionada por Israel. Netanyahu não teve como rejeitar a iniciativa americana. Mas também não a aceitou.

Os sauditas faziam questão de algum progresso palpável na questão palestina. Só que Israel estava amotinado pela decisão do governo de Netanyahu, formado por uma coligação mais à extrema-direita de todos os tempos, de subordinar as decisões da Suprema Corte de Justiça ao Parlamento, que teria o poder de revogá-las. Para muitos israelenses, tratava-se de um golpe de estado. E a maioria, inclusive reservistas, foi para as ruas protestar, durante dez meses.

Nos túneis de Gaza, o líder do Hamas, Yahya Sinwar, ficou diante do seguinte dilema: a Autoridade Palestina está envolvida nas negociações entre Arábia Saudita e Israel, e ele, o Hamas, não — foi abandonado. E mais: nunca Israel revelou-se tão vulnerável a um ataque, absorto nos protestos opondo seculares e religiosos, direita e esquerda.

O Hamas vinha se mantendo propositadamente tão bem-comportado a ponto de militares israelenses sugerirem premiá-lo com a admissão de mais palestinos de Gaza para trabalhar em Israel. Secretamente, porém, já fazia mais de dois anos que o líder das brigadas palestinas Izz ad-Din al-Qassan, Mohammed Deif, elaborava um plano de invasão às cidades e kibutzim da fronteira a que batizou de “Inundação Al Aqsa” (“Al Aqsa Flood”), em memória à invasão de soldados de Israel à mesquita Al Aqsa, para desalojar jovens entrincheirados com pedras e fogos de artifício, em maio de 2021. Foram 15 dias de pandemônio na Cisjordânia, com bombardeios contra mísseis de Gaza e 250 palestinos mortos.

O comandante Deif, 58, sobreviveu a sete ataques de Israel, perdeu um dos olhos e foi ferido em uma das pernas. A sua esposa, o filho de sete meses e a filha de três anos, morreram em ataque aéreo israelense, em 2014. Em 2023, foi a vez do irmão e de dois familiares, e a casa do pai, destruída. Conheciam-no por “Homem das Sombras”, porque vivia nas sombras, e a única foto dele, além de uma com máscara e outra aos 20 anos, era sua própria sombra projetada numa parede.

O dia para abrir o dique da Inundação Al Aqsa foi escolhido por ser um feriado religioso, Shemini Atseret, o “oitavo dia da convocação” após os sete do Sukot, que comemora a proteção de Deus aos judeus que fugiram da escravidão no Egito. Além de feriado, era Shabat. Milhares de soldados gozavam de licença. De repente, a barragem de 5 mil mísseis, às 6h30, assustou. O sistema de defesa aérea Iron Dome não interceptou tantos mísseis de uma só vez. Mas eles miravam a distração de Israel.

De Gaza, drones voaram para explodir postos de observação já do lado israelense. Destruíram câmeras e sensores sofisticados. Milhares de homens do Hamas detonaram a fronteira, ou a derrubaram com tratores. Muitos tinham a missão de eliminar soldados que guardavam posições destacadas em mapas bem precisos encontrados em bolsos de palestinos mortos.

Por quase duas horas, cerca de 3 mil terroristas do Hamas penetraram, livres, em Israel, em suas picapes brancas, motos, bicicletas, paragliders motorizados, barcos e lanchas — uma invasão por terra, mar e ar.

A Inundação Al Aqsa transbordava de sangue — o ódio represado desde a Nakba, a “Tragédia” de 1948, como a independência de Israel foi traduzida em árabe. Alguns milicianos faziam selfies ao lado dos corpos de quem acabavam de matar para enviar à família e amigos em Gaza. Em vários kibutzim, filhos foram mortos diante dos pais, e mulheres mortas depois de estupradas, bebês queimados, casas saqueadas e incendiadas. Quem conseguiu correr e se trancar nos abrigos antiaéreos também não escapou, as portas arrombadas e granadas atiradas para dentro.

O massacre maior ocorreu no festival de música Supernova, ao lado do kibutz Tel Reim (“A Colina dos Amigos”). A festa atravessou a noite e ia animada, já dia claro. De repente, a barragem de mísseis riscando o céu azul de traços brancos. Todos pararam para ver. E surgiu o inesperado: tiros e granadas, e corpos caindo no descampado — 364, o total de mortos. O estacionamento era uma armadilha: quem corria para lá, morria. Motoristas mortos aos volantes bloquearam as saídas, baleados enquanto tentavam pegar a estrada. Dois rapazes, Geva, 20, e Shaked, 23, que fugiram para o kibutz Tel Reim pulando cadáveres, ligaram para o pai, o chefe de polícia Eyal Aharon. Ele partiu para salvá-los. Pelo caminho encontrou soldados confusos à espera de ônibus que não chegavam, caos e pânico, e as primeiras barreiras militares. Ele fez inúmeras escalas para salvar vítimas de emboscadas do Hamas, ou recolher caronas que queriam combater os invasores.

À medida que chegava à fronteira de Gaza, Aharon foi percebendo a dimensão do que sucedia. Era o mais trágico dia de Israel desde sempre, ou dos judeus desde o holocausto. Em Tel Reim, os filhos estavam encurralados. Soube pelo celular que um deles tinha sido baleado duas vezes numa perna. Quando se preparava para tentar o resgate, alguém o segurou pelo ombro. O comandante de um pelotão que acabava de chegar lhe disse: “Deixe com a gente; vamos pegar seus filhos”. Os filhos sobreviveram, e ele foi honrado como herói pelo socorro prestado na estrada.

Às 8h23, duas horas desde a Inundação Al Aqsa, Israel declarou estado de alerta. Mais de 350 mil reservistas começaram a ser mobilizados. A aviação fez sua primeira blitz em Gaza, para onde os terroristas do Hamas voltavam com 251 reféns, alguns feridos e outros mortos, valiosos para troca com prisioneiros palestinos. Uma refém quase nua foi exibida como troféu na boleia de uma picape, sob aplausos de uma multidão. No dia seguinte, Israel declarou estado de guerra. E o Hezbollah, no sul do Líbano, comemorou disparando mísseis contra cidades do norte israelense, obrigando 60 mil de seus moradores a se deslocarem para Sul. E por “solidariedade”, os disparos continuaram, diários.

“Por que Israel, dos 195 países do planeta, está sozinho em ser condicional, como se sua existência dependesse da boa vontade das outras nações do mundo?” — perguntou o escritor israelense David Grossman, em um artigo sobre a invasão do Hamas. Ele, que já perdera o filho, Uri, na guerra do Líbano, em 2006, completou: “Os judeus não chegaram à terra de Israel por conquista, mas buscando segurança; e sua poderosa afinidade com esta terra tem quase 4 mil anos; foi aqui que eles emergiram como uma nação, uma religião, uma cultura e uma língua”. O editor da revista New Yorker, David Remick, conta que ficou chocado ao ouvir israelenses lhe dizerem: “Não somos mais israelenses; somos judeus”.

As referências a Gaza, na Bíblia, parecem atuais: “Por isso meterei fogo aos muros de Gaza, fogo que consumirá os seus castelos” (Amós 1:6-10). “Porque Gaza será desamparada, e Ashkelon ficará deserta” (Sofonias). A primeira menção está no Gênesis, localizando Gaza na fronteira de Canaã e “na direção de Sodoma e Gomorra”. Gaza vem do hebraico Az, forte, e talvez o “forte” aqui tenha sido Sansão, que pediu, traído por Dalila: “‘Deixe-me morrer com os filisteus’. E ele se curvou com toda a sua força; e a casa caiu sobre os senhores, e sobre todo o povo que ali estava…” (Juízes,16:30).

Em árabe, Gaza é “Tesouro”. Muitas de suas ruas têm o mesmo nome, Al Awda — O Retorno. O retorno ao que se tornou Israel, de onde muitos foram expulsos na Guerra da Independência, em 1948. Um palestino me mostrou a chave da casa que tinha em Ashdot e a escritura do tempo do Mandato Britânico. Em outra ocasião, em Nablus, na Cisjordânia, o prefeito Bassam Shakaa, sem as pernas e os braços, amputados num atentado terrorista judeu, pediu que o empurrasse na cadeira de rodas até o quintal de sua casa. E mostrou: “Ali estão enterrados meu pai, avô e tetravô. Esta terra me pertence”. Ao sair, parei na Administração Militar, e cobrei uma resposta. O porta-voz apontou para Hebron à distância: “Lá está enterrado Abraão”.

No dia seguinte à invasão a Israel, o primeiro-ministro Netanyahu advertiu aos não integrantes do Hamas, entre os 2,1 milhões de habitantes de Gaza: “Saíam daí agora. Nós estaremos em toda parte, e com toda a nossa força”. E assim foi, e está sendo. Quase um ano depois, 49 mil palestinos estão mortos, a maioria civis, com mulheres e crianças contando 2/3 das vítimas. Israel inclui nesse total 20 mil combatentes, que não são singularizados pelo Ministério da Saúde do Hamas. Feridos, quase 100 mil. Os deslocados alcançaram 90% da população, ou 1,9 milhões. Entre os israelenses, morreram 340 soldados.

Gaza voltou à sua condição de ruínas, uma das cidades mais conquistadas e destruídas no mundo, desde os tempos bíblicos. No terceiro mês da invasão, em janeiro, um órgão da ONU, com base em imagens de satélite, registrou: 22.131 estruturas arrasadas, 14.066 severamente danificadas e 32.950, moderadamente, num total de 69.147 casas, prédios, escolas, hospitais e instalações do Hamas.

Cada bombardeio israelense com alvo militar preciso, e munição selecionada para evitar vítimas e danos colaterais, causa, no mais das vezes, uma tragédia. O Hamas se esconde por baixo de áreas residenciais, sob mesquitas e hospitais. Os moradores de prédios recebem um telefonema ou mensagem alertando para um ataque iminente, dando-lhes tempo de fugir.

O assassinato do “Homem das Sombras”, Mohammed Deif, custou 90 vidas, em 13 de julho. Ele morreu porque saiu de seu túnel em Khan Yunis para a luz do dia, algo raríssimo. Ao que se soube, teria um encontro. E ele próprio escolheu um local de sua infância, al-Mawasi. Mas alguém avisou Israel. E logo surgiu um caça que despejou nele a bomba que abre cratera no solo. Foi seu oitavo atentado, o último. Junto, morreu Rafaa Salameh, comandante de uma brigada do Hamas, alguns seguranças e dezenas de civis.

Deif virou mártir, herói para os palestinos do Hamas. A sua herança inclui o “metrô de Gaza”, de que seria um dos idealizadores. São 500 quilômetros de túneis, completados ao longo dos anos, ao custo de 10 milhões de dólares. Alguns trechos têm 18 metros de profundidade. Os primeiros abertos, em 2007, serviram para contrabandear armas e material de construção, por baixo dos 17 quilômetros de fronteira com o Egito, conhecida por Corredor Filadélfia, o mesmo do impasse para o acordo de cessar-fogo, pela insistência de Israel em patrulhá-lo com seus soldados.

No “metrô de Gaza”, blindado contra bombardeios aéreos, estaria o cativeiro de cerca de 100 reféns, os restantes dos 251 sequestrados. Formariam um escudo dos líderes do Hamas no QG com computadores, luz elétrica e sistema de ventilação. De suas saídas, as “estações” que são buracos camuflados no deserto, partiram emboscadas contra soldados israelenses. Uma extensão desembocava perto de um kibutz dentro de Israel. Em alguns trechos podiam se concentrar 200 homens armados. Em outros, circulavam caminhões e blindados. Havia arsenais de mísseis. Um atirador punha a ponta do lançador para fora, apertava o gatilho e desaparecia fechando a tampa, da cor do deserto. Os israelenses procuravam o local do disparo, e não o encontravam.

O Hamas construiu o “metrô de Gaza”, mas nenhum abrigo antibomba para a superfície, uma das mais densamente populadas do mundo. Os civis abrigaram-se em hospitais, escolas e mesquitas fugindo dos bombardeios, mas seguiam alvos de bombas, com o Hamas no subsolo. Criaram-se áreas de proteção humanitária. E foi numa delas que o “Homem das Sombras” morreu.

O escritor David Grossman lembrou um ditado do filósofo Gershom Sholem, fundador do estudo moderno da cabala, o misticismo judeu: “Todo sangue flui para a ferida”. E ele agrega: “Assim Israel se sente. O medo, o choque, a fúria, o luto, a humilhação e o desejo de vingança, as energias mentais de uma nação inteira — todas elas não param de fluir para a ferida, o abismo no qual ainda estamos caindo”.

Em Israel, as manifestações contra o premiê Netanyahu viraram rotina. Acusam-no de sabotar os acordos de libertação dos reféns acrescentando itens inaceitáveis para o Hamas. Os protestos crescem com a adesão dos israelenses que denunciam que Netanyahu prolonga a guerra para se manter no poder, imune a dois processos de corrupção e suborno que podem condená-lo, e ainda para se livrar da responsabilidade do grande fracasso de segurança que permitiu a invasão do Hamas — logo ele, eleito como “Mister Segurança”.

Por causa das guerras em Gaza e no Líbano, mesmo que Israel não as tenha iniciado, os judeus da diáspora se sentem acuados. Uma onda de antissemitismo aflorou no mundo. Os campi universitários e ruas de vários países ficaram em favor da Palestina “do rio até o mar”. Nove embaixadores foram embora de Tel Aviv batendo a porta. O Tribunal Penal de Haia julga uma acusação de genocídio em Gaza. E Israel vai se tornando um país pária no mundo, isolado pelos excessos de sua retaliação com milhares de mortos civis, crianças e mulheres. A relação privilegiada com os EUA entrou em declínio.

Véspera do primeiro aniversário, a Inundação Al Aqsa está secando. Em Gaza, 22 dos 24 batalhões do Hamas foram dizimados. Aos sobreviventes, resta a opção de uma guerra de guerrilhas.

No Líbano, o Hezbollah foi decapitado: seu líder há 32 anos, o xeque Hassan Nasrallah, morreu soterrado sob as ruínas de 8 toneladas de bombas, depois da sequência de assassinatos de seus principais comandantes e da explosão de pagers e walkie talkies de suas tropas. Só os Houthis iemenitas, entre os membros do Eixo da Resistência criado pelo Irã, reagiram com um míssil balístico, abatido por Israel.

E no 361º, a guerra chegou à sua origem, o Irã, o patrocinador do Hamas, do Hezbollah, dos Houthis e de milicias no Iraque e na Síria: 181 mísseis balísticos disparados contra Israel. A próxima volta da espiral, com a ponta inicial em Gaza, espera a retaliação israelense. Lembra Beirute arrasada, 1982, Yasser Arafat partindo para o exílio na Tunísia, num navio chamado Atlântida, o continente perdido. A última vez que o encontrei foi em 1994, em Gaza. Ele então dizia que iria plantar uma Singapura no deserto. Era próprio dele: buscar o ideal, perdendo o possível. O meu trigal floresceu. Quando parti de Israel, no final de 1967, as espigas chegavam à minha altura.

Shalom, Sharon

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Ariel Sharon:  1928 – 2014

 

Ariel Sharon e Shimon Peres:

ambos sofreram derrame cerebral

e morreram no mesmo hospital,

Sheba, com a diferença de 2 anos.

 Sharon passou 8 anos em coma.

 

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Shimon Peres: 1923 – 2016

“Aharai, aharai!” – era o grito de guerra do jovem capitão Ariel Sharon. “Sigam-me, sigam-me!”, gritava, e partia à frente das mais audaciosas e inesperadas batalhas da história militar israelense. Os soldados iam atrás. Iriam onde quer que fosse, avançando sob fogo cerrado. Só recuariam se perdessem dois terços das tropas.

Se hoje o general Sharon gritasse aharai, Israel ainda o seguiria. Mas ele sofreu um maciço ataque de um inimigo invencível, o próprio corpo de 77 anos, gordo, frágil, comandado por nervos de aço. Sem ele, seu país não será mais o mesmo.

Foi na sua Unidade 101, base lendária do moderno Exército israelense, que Sharon teve seu primeiro encontro com a morte. Era a Guerra da Independência, 1948, e sua brigada lutava para conquistar o convento de Latrun, entre Jerusalém e Tel-Aviv. Uma bala jordaniana perfurou-lhe o estômago. Um soldado o carregou para a vida. Até recentemente os dois se encontravam, amigos. Ordens do capitão Arik (leão em hebraico, o seu apelido): não deixar nenhum ferido em campo de batalha, mesmo à custa de mais feridos, ou mortos.

Arik também viveu a morte em família. Margalit, a primeira mulher, morreu num acidente de carro. A irmã dela, Lily, com quem ele se casou depois, morreria de câncer, deixando-o inconsolado. E Gur, um dos filhos, morreu aos 10 anos mexendo numa das armas antigas do pai.

Aharai, aharai (pronuncia-se arrarai) – e a tropa o seguia. Nascido Ariel Scheinermann em 1928, e criado em Kfar Malal, na Palestina sob mandato britânico, aos 14 anos ele já carregava armas, operando em organizações paramilitares clandestinas que defendiam os colonos judeus. Tinha a fama de rebelde, não cumpria ordens, e geralmente as excedia. Excesso: esta sempre foi a marca de Sharon. Para ele, não era “olho por olho”, e sim “dois olhos por um olho”.Talvez por isso também o chamavam de Trator, Elefante e Rei de Israel. Nada o brecava. Uma vez, em 1956, ele levou seus paraquedistas a saltar atrás das linhas egípcias, no passo de Mitla, no Deserto do Sinai, para um furioso ataque em que perdeu dezenas de soldados. Outra vez, penetrou com um comando em território jordaniano para vingar o assassinato de uma israelense e seus dois filhos por terroristas – a Operação Kibia. Uma tragédia: 42 casas de pedra foram dinamitadas, matando seus ocupantes, ao todo 69 pessoas, entre elas muitas crianças.113553

Aquele capitão era tão rebelde que o general Ezer Weizman, pai da Força Aérea israelense, escreveu em suas memórias: “Na guerra, eu o seguirei no meio do fogo e da tormenta, mas a vida política tem valores diferentes.” Tão rebelde que o fundador de Israel, David Ben Gurion, perguntou-lhe: “Arik, você já parou de mentir?” Tão rebelde, que o primeiro-ministro Menachem Beguin, em seu primeiro governo, lhe recusava a promoção a ministro da Defesa, justificando-se: “Sharon é capaz de cercar com tanques o prédio do governo.”

Mas Sharon se tornou ministro da Defesa de Beguin por um único motivo: só ele, então o “rei da colonização” na Cisjordânia e Gaza, ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, seria capaz de retirar os colonos fixados em Yamit, no Sinai devolvido ao Egito em troca do primeiro acordo de paz com um vizinho árabe. Assim como só ele, outra vez, conseguiu retirar, em setembro de 2005, os colonos de Gaza. Ambos os lados o respeitavam e o temiam.

Aharai! A rebeldia de Sharon deu-lhe a completa confiança de seus soldados. Ele os comandou na contraofensiva da guerra de 1973, lançada pelo Egito quando os israelenses se recolhiam ao seu dia religioso mais trágico, o Yom Kippur, o Dia do Perdão. Cumpria sua própria agenda, e não ordens superiores. De repente, lá estava ele, no outro lado do Canal de Suez, cercando todo o 3º Exército egípcio. Negou-lhe água e comida, estrangulando-o enquanto o mundo inteiro protestava. Mas o mundo nunca lhe importou. O mundo, ele dizia, nada fez enquanto Israel era atacado de surpresa, por todos os lados, e sua população estava jejuando e rezando nas sinagogas.

“Quem não é meu amigo, é meu inimigo” – ele não fazia concessões. Ao estourar a guerra no Líbano, em 1982, a marca do excesso de Sharon brilhou. O porta-voz militar israelense deixou de falar com os jornalistas locais ou estrangeiros. Os ministros do núcleo duro do governo Beguin se diziam por fora do que acontecia, desinformados, não consultados. Prevista para chegar só até a 45 km da fronteira Norte de Israel, a invasão do Líbano excedeu, entrando em Beirute e envolvendo a Síria. Sharon perseguiu seu arqui-inimigo Yasser Arafat casa a casa, pulverizando edifícios em que ele passava a noite, até expulsá-lo para a Argélia. E, 20 anos depois, ironia do destino, o primeiro-ministro Sharon e o presidente da Autoridade Palestina, Arafat, se reencontraram para transformar a Cisjordânia numa nova Beirute.

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Beguin e Sharon queriam impor uma nova ordem no Líbano. Com tanques e soldados, elegeram o cristão maronita Bashir Gemayel, soterrado em seu QG por uma poderosa bomba às vésperas da posse. As forças cristãs tomaram as ruas para uma vingança, quando Israel era senhor absoluto em Beirute. As milícias falangistas cristãs penetraram nos campos palestinos de Sabra e Chatila e perpetraram um massacre, matando cerca de 800 homens, mulheres e crianças em três dias. Uma comissão de inquérito israelense responsabilizou Sharon “indiretamente” por nada ter feito para impedir ou interromper o massacre. E ele caiu do Ministério da Defesa.

Eu vivi um dos excessos de Sharon. Estava em Beirute quando o cessar-fogo foi obtido pelo diplomata americano Philip Habib, no verão de 1984. Os sinos das igrejas repicavam. Tiros eram disparados para o ar por libaneses eufóricos. Mas… o que vinham fazer naquele momento os aviões israelenses sobre Beirute? Eles cruzaram 220 vezes os céus da cidade. Despejaram 44 mil bombas. O presidente Ronald Reagan chamou Beguin ao telefone e transformou a saudação israelense, shalom (paz), numa ordem.

Esse era Sharon. O general Moshe Dayan só não o levou certa vez à Corte Marcial porque não ficaria bem julgar um oficial por ter feito mais do que o mandado. Normalmente, julgam-se militares que nada fizeram, acovardaram-se, ou fizeram de menos. Fora do governo, só lembrado nas ruas como o “buldôzer”, ele mudou de vida. Tentou ser recebido na Casa Branca. Ignoraram-no. Costurou um acordo secreto com o Líbano. Invalidaram-no imediatamente. Organizou excursões turísticas e políticas às colônias da Cisjordânia e Gaza, quando os EUA as denunciaram como “obstáculos para a paz”. Repudiaram-no. Mas ele voltou. E precisou apenas passear provocativamente pela esplanada do Templo, onde hoje estão as mesquitas de Omar e Al-Aqsa, para provocar uma nova intifada palestina que o reconduziu ao poder, há cinco anos.

2014151223_ariel-sharon020114Os israelenses o elegeram como antídoto ao terrorismo crescente e aos distúrbios permanentes na Cisjordânia e Gaza. Só ele, Arik, para enfrentá-los. Aharai! Dominante, durão, Sharon reduziu a sua própria oposição a fragmentos no Parlamento. Com a estratégia militar de surpreender a todos, mas agora em guerra política, ele abandonou o partido nacionalista de direita Likud, que fundou à revelia de Beguin, e criou o Kadima, ou “Pra Frente”, mais ao centro. Causou um terremoto em Israel. Agora, ele admitia a ideia de desterrar algumas das colônias da Cisjordânia de que tanto antes se orgulhara e defendera. O herói de guerra passou a ser visto também como um herói da paz. E um traidor.

Aharai! O Kadima já era o favorito das eleições de março. Mas o Kadima era Sharon. E Sharon retirou-se para o seu rancho no dia 4 de janeiro de 2006, onde se preparava para uma míni cirurgia no coração na manhã seguinte, quando foi surpreendido pelo seu último e imbatível inimigo, o próprio corpo. Um acidente vascular cerebral (AVC) o derrubou ao chão. Levaram-no de picape para o hospital. Se fosse de helicóptero, lamentaram médicos na época, haveria mais chances de salvá-lo. O general resistiu oito anos até render-se: seus órgãos o abandonaram, um a um.

Um âncora da TV israelense, Yair Lapid, perguntou-lhe numa entrevista pouco antes de sua última batalha chegando agora ao fim: “O que o povo ainda não conhece a seu respeito?” Ele sorriu timidamente, e revelou: “Eu adoro filmes românticos.”

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Os dias em que não morri

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Foto Creative Commons

Por duas vezes, na guerra do Líbano, vivi a morte bem de perto. Mas sobrevivi e estou aqui, agora, relembrando. Nada heroico. Apenas o dia a dia de um correspondente.

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Moussa Sadr

 

Saí correndo de Beirute atrás de um telex ao norte de Israel. Estava sem contato com a redação do jornal, em SP, desde que uma bomba destruíra, três horas antes, o gerador do hotel Commodore, onde ficávamos os repórteres que cobriam a guerra no Líbano. Sabotagem ou coincidência, sempre que o noticiário do dia era desfavorável à OLP, buuuum!, acabava a luz — e adeus transmissão de filmes, fotos e textos.

Peguei a estrada do litoral, deformada pelas sapatas dos tanques no asfalto amolecido pelo sol. Os correspondentes de tevês iam até Damasco, mais perto. Mas eu, barbudo, com carro com placa israelense e nome judeu, não seria bem recebido pelos sírios. Perto da veneranda cidade de Tyre, fundada em 2750 a.C., entrei num desvio sem mais asfalto, uma reta poeirenta com poucas casas do lado direito. Avistei uma multidão em passeata. Era muita gente, segurando cartazes e gritando.

E aí? Que fazer? Dar meia-volta, fugir? Isto já faria de mim uma presa, ou alvo de tiros. Ficar? Prisão certa, ou linchamento imediato. Não poderia acelerar contra a multidão… Então, travei portas e vidros automáticos, à espera.

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Israel no sul do Líbano, foto Creative Commons

A turba vinha furiosa. Reconheci a foto que muitos brandiam. Era o imã Moussa Sadr, líder xiita do sul do Líbano, nascido na cidade sagrada de Qom, no Irã.

A multidão engolfou meu carro, que balançou, balançou, mas ninguém tentou abrir a porta. Cegos de ódio, nem me notaram. Eu tremia. De repente, vi a frente livre. Saí devagar, depois acelerei fundo. Alguns quilômetros adiante, no asfalto de novo, parei para comprar água e saber o que estava acontecendo. Ouvi: Moussa Sadr havia desaparecido desde que seu avião fez escala em Trípoli, na Líbia, a caminho de Roma. Certos de que ele fora assassinado, seus súditos exigiam a cabeça do coronel Muamar Kadafi. O mistério não foi desfeito até hoje.

No mesmo Citroën esportivo branco, com placa do país invasor, me perdi uma noite em Beirute. Não existiam GPS, Waze e nem celular. Um sinal indicara que tinha entrado na “terra de ninguém”, uma zona neutra separando os inimigos. Como sair dali? E, dependendo da saída, quem encontraria?

Rodei a 20 km/h até ler uma placa em francês, Café du Brésil. Só podia ser um sinal para mim. O problema era um monte de terra, talvez uma trincheira abandonada, bloqueando o caminho. Mas fui! Acelerei, saltei ao bater na barreira, e pousei diante de alguns soldados que apontavam os fuzis para mim. Talvez não tenham atirado por causa da placa israelense. Ou deveriam, por isso mesmo: poderia ser um camicase com carro roubado. Pegaram meus papéis e foram checar com o serviço de imprensa, em Jerusalém, se eu era mesmo repórter credenciado. E a guerra continuou por mais cinco meses.

 

Feliz ano novo, Israel?

Americanos no Sinai

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Foreign Policy

Os Estados Unidos estão reforçando suas tropas de paz no Sinai. A Rússia tem elevado o número de seus instrutores militares na Síria. O Irã já mandou centenas de seus Guardas Revolucionários para Zabadani, ao norte de Damasco, nos últimos dias.

E Israel? Os israelenses vão comemorar o ano novo judaico de 5776, a partir de domingo ao pôr do sol.

Essa escalada ao sul e ao norte de Israel não prenuncia um feliz ano novo.

EUA — O contingente americano no Sinai foi reforçado por um batalhão de infantaria e cirurgiões para emergências, além de novos equipamentos de observação e alerta precoce. Estão agora no deserto 720 soldados. O reforço foi decidido depois que uma bomba detonada numa estrada, enquanto passava uma patrulha, feriu quatro, na semana passada. A presença de terroristas do Estado Islâmico não é miragem: eles já atacaram israelenses e egípcios, em apoio ao Hamas, em Gaza.

Iranianos na Síria

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General Mohammad Ali Jafari, comandante dos Guardas Revolucionários (foto YouTube/Press TV)

IRÃ — Os Guardas Revolucionários do Irã são uma novidade. Antes, os iranianos apenas treinavam o Hezbollah libanês para a guerra contra o EI, que plantou a semente de um Califado entre a Síria e o Iraque. Agora eles chegam às centenas e tomam posição nos altos de Zabadani, de onde controlam a estrada entre Damasco e Beirute. Os militares israelenses asseguram que o Irã está coordenado com a Rússia, citando encontros entre generais em Moscou. Como se fosse um voto de final de ano para os judeus, o líder religioso iraniano, aiatolá Khamenei, desejou apenas o máximo de mais 25 anos de vida para Israel que, segundo ele, deixará de existir.

Aeroporto russo na Síria?

Members of Al-Qaeda's Syrian affiliate and its allies sit on top of a former Syrian army figther jet after they seized the Abu Duhur military airport, the last regime-held military base in northwestern Idlib province on September 9, 2015 in the latest setback for President Bashar al-Assad's forces. Al-Nusra Front and a coalition of mostly Islamist groups captured the military airport after a siege that lasted two years, the Syrian Observatory for Human Rights monitor said. AFP PHOTO / OMAR HAJ KADOUR

Al Qaeda com caça russo, AFP PHOTO / OMAR HAJ KADOUR

RÚSSIA — Os russos estão com o presidente Bashar Assad há 4,5 anos e cerca de 250 mil mortos. Há vários sinais de que se dispõem a ampliar a parceria. Israel acompanha as obras russas em Latakia: um aeroporto militar? É o que antecipam. Também, no porto de Tartus, o movimento de navios russos cresceu notavelmente. O analista do Instituto de Política do Oriente Médio em Washington Jeffrey White, ouvido pela agência France Press, informa que “muito material de combate e veículos logísticos” atravessa a Turquia desde abril.

O ministro da defesa de Israel, Moshe Yaalon, deixou claro, num encontro com repórteres, que só intervirá na escalada russo-iraniana se houver transferência de armas para o Hezbollah no Sul do Líbano. Numa intervenção anterior, em janeiro, a aviação israelense matou o comandante dos Guardas Revolucionários, general-brigadeiro Mohammad Ali Allahdadi, ao atacar um comboio de armas na Síria.

Zabadani: cenário de guerra?

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Dia apocalítico

Um

Templo de Jerusalém: duas vezes destruído, no mesmo mês Av, no espaço de 656 anos.

Papa reza no que restou dos templos: o Muro das Lamentações.

Papa reza no que restou dos templos: o Muro das Lamentações.

O dia das maiores tragédias na história do povo judeu, entre o pôr do sol do sábado ao de domingo, 25 e 26/7 neste ano, e a guerra apocalítica de Gogue e Magogue contra Israel, anunciada pelo profeta Ezequiel em seu livro do Velho Testamento, estão próximos.

“Muito próximos” – há quem o diga.

Av é o quinto mês lunar do calendário judaico, o 11 do ano laico; e Tishá b’Av, 9 de Av, o dia mais triste do judaísmo — dia de jejum até de água e luto fechado, como se algum parente estivesse morto. No calendário gregoriano, a combinação forma uma surpresa extra ao lembrar os atentados aéreos contra os Estados Unidos há 14 anos: o 9/11.

Tishá b’Av é precedido por Três Semanas de pesar e lamentações pela destruição dos dois templos de Jerusalém e o exílio do povo judeu. A lamentar neste ano de 5775 (equivalente ao 2015, até 13/9, ano novo judaico) foi a conclusão do acordo entre os EUA e mais cinco potências com o Irã, porque Israel não se convenceu das boas intenções iranianas. Ao contrário: está em pé de guerra.

Adoração ao bezerro de ouro

Adoração ao bezerro de ouro

O primeiro trágico Av foi o da morte de Aarão, aos 123 anos, no alto do monte Hor, perto de Petra, na Jordânia. Ele era o irmão mais velho de Moisés. Enquanto um estava demorando a voltar com o que seria os Dez Mandamentos, o outro não proibiu que seu povo, impaciente no deserto, passasse a adorar um bezerro de ouro. Adveio o castigo divino: Deus decretou que a geração do Êxodo morreria sem pisar a Terra Prometida. E assim se fez: só seus filhos foram para Canaã.

O primeiro Templo de Jerusalém, construído pelo rei Salomão, foi destruído pelos babilônios de Nabucodonosor em Tishá b’Av do ano 586 AC.; e 656 anos depois, em 70 AC., de novo num 9 de Av, os romanos de Tito arrasaram o segundo Templo de Jerusalém, erguido por decreto de Cyrus, o rei da Pérsia.

A revolta dos judeus contra Roma foi liquidada no Tishá b’Av de 135 AC.. Seu líder Simón bar Kochba e toda uma geração de líderes religiosos, inclusive o célebre rabino Akiva, foram executados.

As calamidades continuam em Tishá b’Av:

1095: o papa Beato Urbano II proclama a Primeira Cruzada na Terra Santa;

1290: judeus expulsos da Inglaterra pelo rei Eduardo I.

1492 (2/8): judeus expulsos da Espanha pelo rei Fernando;

1555 (26/7): papa Paulo IV confina os judeus no primeiro gueto de Roma;

1914 (1/8): Alemanha declara guerra à Rússia. Começa a Primeira Guerra Mundial;

1942 (8 de Av): inauguração do campo nazista de extermínio de Treblinka; e

1994 (10 de Av): atentado terrorista mata 85 judeus na Argentina.

Só tragédias? Não. Tishá b’Av também é vivido por muitos judeus como renascimento, 3.500 anos depois de Moisés quebrar as Tábuas da Lei, com os 10 mandamentos, ao descer do Monte Sinai. São sobreviventes de ruinas e perseguições, guardiões da memória viva de um povo vítima de genocídios. Derrotados, triunfaram. Mas estão agora diante de nova ameaça. As peças da terrível profecia de Ezequiel 38-39, a Guerra de Gogue e Magogue contra Israel, vão se encaixando como ao final de um quebra-cabeças.

Gogue e Magogue

A peça agora encaixada foi o Irã. Reabilitado ao mundo pelos EUA e mais cinco potências, em 14/7, com um acordo feito para retardar a produção de sua bomba atômica, o bíblico povo persa invadiu as Três Semanas das tragédias judaicas que culminam no Tishá B’Av, iniciadas em 17 de Tamuz, o domingo 5/7, dia em que os romanos derrubaram as muralhas de Jerusalém, no ano 70 da Era Cristã, e partiram para a destruição do Segundo Templo, encerrada em 9 de Av. Nos novos tempos, a Terra teve seu primeiro encontro com o último planeta então desconhecido do sistema solar, Plutão.

São 21 dias aflitivos, conhecidos por “entre os apertos”. Os judeus ortodoxos os vivem sem se casar, ouvir música, dançar, cortar cabelo, barbear-se, viajar a turismo, vestir roupa nova, comer frutas fora de estação e envolver-se em situações perigosas. Tempo de reflexão. Mas como esquecer o maior dos perigos, o Irã?

Israel é definido como “país de uma bomba só” porque basta apenas uma, detonada em Tel-Aviv, para desaparecer do mapa. Restariam-lhe cinco submarinos nucleares que submergeriam para retaliar. Ouça o que disse o ex-presidente do Irã, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani — e tenha a dimensão do terror em que vivem os israelenses:

“Bem-vinda uma guerra nuclear com Israel. Ela pode matar 15 milhões de pessoas, mas ainda restarão dois bilhões de muçulmanos na Terra, enquanto não haverá mais nenhum judeu onde existiu Israel”.

Apenas 1529 palavras no livro de Ezequiel, capítulos 38 e 39, anunciam e descrevem a guerra devastadora que paira sobre a Terra Santa. Já renderam milhões de outras palavras que as tentaram decifrar, em muitas línguas e em várias religiões. Volta e meia alguém as retoma para anunciar: o fim está próximo. É o que está acontecendo.

A profecia


Profeta Ezequiel

Profeta Ezequiel

38.1   Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:

38.2   Filho do homem, volve o rosto contra Gogue, da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal; profetiza contra ele

38.3   e dize: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal.

38.4   Far-te-ei que te volvas, porei anzóis no teu queixo e te levarei a ti e todo o teu exército, cavalos e cavaleiros, todos vestidos de armamento completo, grande multidão, com pavês e escudo, empunhando todos a espada;

38.5   persas e etíopes e Pute com eles, todos com escudo e capacete;

38.6   Gômer e todas as suas tropas; a casa de Togarma, do lado do Norte, e todas as suas tropas, muitos povos contigo.

38.7   Prepara-te, sim, dispõe-te, tu e toda a multidão do teu povo que se reuniu a ti, e serve-lhe de guarda.

38.8   Depois de muitos dias, serás visitado; no fim dos anos, virás à terra que se recuperou da espada, ao povo que se congregou dentre muitos povos sobre os montes de Israel, que sempre estavam desolados; este povo foi tirado de entre os povos, e todos eles habitarão seguramente.

38.9   Então, subirás, virás como tempestade, far-te-ás como nuvem que cobre a terra, tu, e todas as tuas tropas, e muitos povos contigo.

38.10   Assim diz o SENHOR Deus: Naquele dia, terás imaginações no teu coração e conceberás mau desígnio;

38.11   e dirás: Subirei contra a terra das aldeias sem muros, virei contra os que estão em repouso, que vivem seguros, que habitam, todos, sem muros e não têm ferrolhos nem portas;

38.12   isso a fim de tomares o despojo, arrebatares a presa e levantares a mão contra as terras desertas que se acham habitadas e contra o povo que se congregou dentre as nações, o qual tem gado e bens e habita no meio da terra.

38.13   Sabá e Dedã, e os mercadores de Társis, e todos os seus governadores rapaces te dirão: Vens tu para tomar o despojo? Ajuntaste o teu bando para arrebatar a presa, para levar a prata e o ouro, para tomar o gado e as possessões, para saquear grandes despojos?

38.14   Portanto, ó filho do homem, profetiza e dize a Gogue: Assim diz o SENHOR Deus: Acaso, naquele dia, quando o meu povo de Israel habitar seguro, não o saberás tu?

38.15   Virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte, tu e muitos povos contigo, montados todos a cavalo, grande multidão e poderoso exército;

38.16   e subirás contra o meu povo de Israel, como nuvem, para cobrir a terra. Nos últimos dias, hei de trazer-te contra a minha terra, para que as nações me conheçam a mim, quando eu tiver vindicado a minha santidade em ti, ó Gogue, perante elas.

38.17   Assim diz o SENHOR Deus: Não és tu aquele de quem eu disse nos dias antigos, por intermédio dos meus servos, os profetas de Israel, os quais, então, profetizaram, durante anos, que te faria vir contra eles?

38.18   Naquele dia, quando vier Gogue contra a terra de Israel, diz o SENHOR Deus, a minha indignação será mui grande.

38.19   Pois, no meu zelo, no brasume do meu furor, disse que, naquele dia, será fortemente sacudida a terra de Israel,

38.20   de tal sorte que os peixes do mar, e as aves do céu, e os animais do campo, e todos os répteis que se arrastam sobre a terra, e todos os homens que estão sobre a face da terra tremerão diante da minha presença; os montes serão deitados abaixo, os precipícios se desfarão, e todos os muros desabarão por terra.

38.21   Chamarei contra Gogue a espada em todos os meus montes, diz o SENHOR Deus; a espada de cada um se voltará contra o seu próximo.

38.22   Contenderei com ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que estiverem com ele.

38.23   Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha santidade e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o SENHOR.

39.1   Tu, pois, ó filho do homem, profetiza ainda contra Gogue e dize: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal.

39.2   Far-te-ei que te volvas e te conduzirei, far-te-ei subir dos lados do Norte e te trarei aos montes de Israel.

39.3   Tirarei o teu arco da tua mão esquerda e farei cair as tuas flechas da tua mão direita.

39.4   Nos montes de Israel, cairás, tu, e todas as tuas tropas, e os povos que estão contigo; a toda espécie de aves de rapina e aos animais do campo eu te darei, para que te devorem.

39.5   Cairás em campo aberto, porque eu falei, diz o SENHOR Deus.

39.6   Meterei fogo em Magogue e nos que habitam seguros nas terras do mar; e saberão que eu sou o SENHOR.

39.7   Farei conhecido o meu santo nome no meio do meu povo de Israel e nunca mais deixarei profanar o meu santo nome; e as nações saberão que eu sou o SENHOR, o Santo em Israel.

39.8   Eis que vem e se cumprirá, diz o SENHOR Deus; este é o dia de que tenho falado.

39.9   Os habitantes das cidades de Israel sairão e queimarão, de todo, as armas, os escudos, os paveses, os arcos, as flechas, os bastões de mão e as lanças; farão fogo com tudo isto por sete anos.

39.10   Não trarão lenha do campo, nem a cortarão dos bosques, mas com as armas acenderão fogo; saquearão aos que os saquearam e despojarão aos que os despojaram, diz o SENHOR Deus.

39.11   Naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de sepultura em Israel, o vale dos Viajantes, ao oriente do mar; espantar-se-ão os que por ele passarem. Nele, sepultarão a Gogue e a todas as suas forças e lhe chamarão o vale das Forças de Gogue.

39.12   Durante sete meses, estará a casa de Israel a sepultá-los, para limpar a terra.

39.13   Sim, todo o povo da terra os sepultará; ser-lhes-á memorável o dia em que eu for glorificado, diz o SENHOR Deus.

39.14   Serão separados homens que, sem cessar, percorrerão a terra para sepultar os que entre os transeuntes tenham ficado nela, para a limpar; depois de sete meses, iniciarão a busca.

39.15   Ao percorrerem eles a terra, a qual atravessarão, em vendo algum deles o osso de algum homem, porá ao lado um sinal, até que os enterradores o sepultem no vale das Forças de Gogue.

39.16   Também o nome da cidade será o das Forças. Assim, limparão a terra.

39.17   Tu, pois, ó filho do homem, assim diz o SENHOR Deus: Dize às aves de toda espécie e a todos os animais do campo: Ajuntai-vos e vinde, ajuntai-vos de toda parte para o meu sacrifício, que eu oferecerei por vós, sacrifício grande nos montes de Israel; e comereis carne e bebereis sangue.

39.18   Comereis a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos príncipes da terra, dos carneiros, dos cordeiros, dos bodes e dos novilhos, todos engordados em Basã.

39.19   Do meu sacrifício, que oferecerei por vós, comereis a gordura até vos fartardes e bebereis o sangue até vos embriagardes.

39.20   À minha mesa, vós vos fartareis de cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos os homens de guerra, diz o SENHOR Deus.

39.21   Manifestarei a minha glória entre as nações, e todas as nações verão o meu juízo, que eu tiver executado, e a minha mão, que sobre elas tiver descarregado.

39.22   Desse dia em diante, os da casa de Israel saberão que eu sou o SENHOR, seu Deus.

39.23   Saberão as nações que os da casa de Israel, por causa da sua iniqüidade, foram levados para o exílio, porque agiram perfidamente contra mim, e eu escondi deles o rosto, e os entreguei nas mãos de seus adversários, e todos eles caíram à espada.

39.24   Segundo a sua imundícia e as suas transgressões, assim me houve com eles e escondi deles o rosto.

39.25   Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Agora, tornarei a mudar a sorte de Jacó e me compadecerei de toda a casa de Israel; terei zelo pelo meu santo nome.

39.26   Esquecerão a sua vergonha e toda a perfídia com que se rebelaram contra mim, quando eles habitarem seguros na sua terra, sem haver quem os espante,

39.27   quando eu tornar a trazê-los de entre os povos, e os houver ajuntado das terras de seus inimigos, e tiver vindicado neles a minha santidade perante muitas nações.

39.28   Saberão que eu sou o SENHOR, seu Deus, quando virem que eu os fiz ir para o cativeiro entre as nações, e os tornei a ajuntar para voltarem à sua terra, e que lá não deixarei a nenhum deles.

39.29   Já não esconderei deles o rosto, pois derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel, diz o SENHOR Deus.


mapa

Na geografia do Velho Testamento, Magog hoje seria a Rússia; Pérsia, o Irã; Meseque e Tubal, repúblicas da ex-União Soviética; Gômer, Europa do Leste e Alemanha; Togorma, Turquia; Cush, Sudão; e Pute, Líbia.

A faísca capaz de acender o apocalipse é um ataque de Israel a um aliado de Gogue — no caso, o Irã, ex-pérsia. O primeiro-ministro israelense Bibi Netanyahu o ameaça constantemente, desconfiado dos aiatolás que já armam grupos terroristas no Líbano e em Gaza em duas fronteiras de Israel. A seu favor, ele tem dois precedentes: em 1981, o premiê Menachem Beguin mandou sua força aérea destruir o reator nuclear Osirak perto de Bagdá, no Iraque — e quando ele próprio telefonou para dar a notícia a uma rádio em Tel-Aviv, o repórter desligou comentando: “Um louco ligou para dizer que bombardeamos a central nuclear de Saddam Hussein”.

Em 2007 houve outro ataque preventivo que destruiu uma usina atômica na Síria montada por norte-coreanos. Imperou o silêncio total, sírio e israelense, só rompido, quase um ano depois, com o vazamento de correspondência diplomática dos EUA pelo WikiLeaks. Curioso: Barack Obama, então senador, na época, deu o seu apoio ao direito de Israel a atacar para se defender.

Magog é introduzido no Gênesis 10:2 como neto de Noé. Seus descendentes acabaram se instalando ao “norte distante” de Israel, certamente a Rússia. As terras de Meseque e Tubal são identificadas como duas das ex-republicas soviéticas, então novamente conquistadas. A invasão da Geórgia, em 2008, que deu independência a Ossetia do Sul, e a da Ucrânia, em 2014, com a Crimeia trocando de soberania, serve como um prenúncio.

Na profecia de Ezequiel, Gogue só sairá da terra de Magogue para guerrear contra Israel depois de muita relutância. Tanto resistiu que Deus, ele próprio, o provocou ao confronto. A formidável aliança russa, incluindo turcos, sudaneses, líbios, etíopes e alemães, marcha então para a Terra Santa com “hábeis guerreiros”, escudos e capacetes, para punir os judeus pelo ataque aos persas.

Israel estará só na guerra, tendo perdido todos os antigos aliados. Os Estados Unidos só observam. Mas Deus vem ao socorro de seu povo. Ezequiel descreve o final:

E sucederá que, naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de sepultura em Israel, o vale dos que passam ao oriente do mar; e pararão os que por ele passarem; e ali sepultarão a Gogue, e a toda a sua multidão, e lhe chamarão o vale da multidão de Gogue.

E a casa de Israel os enterrará durante sete meses, para purificar a terra.

(Ezequiel 39:11,12)

Veja também: Ah Jerusalém.

Link para Sinai

Tempestade de mísseis

Destino: Ashkelon. Mas ficou dentro de Gaza

Destino: Ashkelon. Mas ficou dentro de Gaza

As sirenes de ataque aéreo soaram esta noite ao sul de Israel. Mas eu as estou escutando há alguns dias.

O último míssil mirou Ashkelon. Os indícios são de que ele não passou de Gaza. Uma semana atrás, foi disparado um Grad, com mais potência e mira, na direção de Ashdot. Em ambos, a surpresa: o grupo Hamas, normalmente o suspeito número um dos dois ataques, conseguiu avisar a Israel que não pôs o dedo no gatilho.

Se não foi o Hamas, foi Gaza. O grupo que está assumindo os disparos tem ligação direta com o Estado Islâmico, EI. Autodenomina-se Brigadas do Sheik Amar Hadid.

É este o alarme que ando escutando.

Patrulhas do Hamas em Gaza

Patrulhas do Hamas em Gaza

Em Israel prevê-se uma tempestade no verão que está chegando. Tempestade de mísseis. Cem mil mísseis, de uma vez só, disparados das fronteiras síria, libanesa e de Gaza. Não há sistema de defesa antiaérea capaz de formar um guarda-chuva protetor para a população civil em todo território israelense.

A estimativa é de que haverá 4 mil mortos nos primeiros dias da tempestade. No Líbano, milhares de refugiados, com a retaliação israelense.

“O Irã quer cobrir Israel com fogo intenso” — disse o primeiro-ministro Bibi Netanyahu à imprensa internacional em Jerusalém, na semana passada.

Os iranianos têm seus representantes no Líbano, o Hezbollah, equipado com armamento moderno. O califado islamita sendo implantado no Iraque e na Síria já chegou a Gaza e dá tiros no lugar do Hamas. O Irã é visível também nas colinas do Golã, preparando o novo front.

Ex-ministro da Defesa e primeiro-ministro, Ehud Barak pediu aos israelenses que não sejam presunçosos, certos de sua superioridade militar. “Nunca estivemos sob 100 mil mísseis, ainda por cima mais certeiros. Isto é uma situação completamente diferente”.

As Forças de Defesa de Israel estão ensaiando alguma resposta ao “tapete” de mísseis previsto para o verão, que é quando começa a maioria das guerras no Oriente Médio. Os túneis usados pelos palestinos do Hamas para vencer a fronteira israelense em Gaza, ano passado, já não representam mais tanto perigo, porque agora são levados em conta, sem surpresas.

Se os aiatolás atômicos iranianos forem responsabilizados pela tempestade de 100 mil mísseis, a próxima guerra não deverá se limitar às fronteiras tradicionais dos países vizinhos. Alcançará Teerã, provavelmente.

As nuvens que prenunciam a tempestade devem encobrir as negociações para a limitação nuclear do Irã, reiniciando agora. O chefe supremo das Forças Armadas americanas passou esta semana por Israel. Foi chamado de “grande amigo dos israelenses”. As sirenes voltaram a soar. Baterias antimísseis foram armadas em pontos vitais. O exército ensaiou uma mobilização geral.

Quando o míssil padrão era a katiusha, disparado de caminhões, Israel invadiu o Líbano. Aí a TV israelense perguntou a um soldado:

— Você sabe o que veio fazer aqui no Líbano?

— Sim — ele respondeu. — Acabar com as katiushas.

As Katiushas

As Katiushas

— E onde estão as katiushas? — tornou a perguntar o repórter.

— Em Moscou…

Foi cômico, na época. Mas agora a situação é outra: os mísseis são do Irã, e o Irã está ao alcance da aviação israelense.