Queria saber: qual o impacto do caso Bill e Monica num harém? Mesmo em Gaza, num dos piores momentos de confronto com Israel, em 1998, consegui encontrar um harém que me aceitou como visita. Vamos entrar…
No harém de Amin Ahmed Dahere, em Gaza, o presidente Bill Clinton é condenado por não ter comprado mais uma esposa, preferindo o adultério. E Mônica Lewinsky, que poderia valer o preço de um cavalo no mercado de Jerusalém, uns 2 mil dinares jordanianos, ou cerca de US$ 2.825, agora não seria mais aceita nem de graça.
“Mônica é o pivô de uma conspiração de Israel contra o processo de paz” – diz Ahmed Dahere, 37, apenas duas esposas por não ter como sustentar quatro, e 13 filhos de 7 meses a 14 anos. E Abu Amar, o Pai Construtor, como os palestinos chamam o presidente Yasser Arafat, está diante de um dilema: “Não tem alternativa a não ser confiar em Clinton, desacreditado como o presidente Saddam Hussein”.
A primeira esposa, Rehab, 37, comprada por 1.300 dinares (US$1.836), e Numa, 30, mais cara 200 dinares (US$ 2.118,60), não dão opinião: fazem o café, caladas. Cada uma tem o seu quarto e “são tratadas igualmente”. Já se foi o tempo em que sultões atiravam rubis em piscinas de água quente para suas odaliscas. Poucos são os haréns em Gaza ou Hebron no limite fixado pelo arcanjo Gabriel: “Se uma esposa não for suficiente, tenha quatro”. O profeta Maomé teve 15. “Hoje está muito difícil ter uma só em Jerusalém”, lamenta Magheb, maïtre de hotel e noivo: “O dote inclui, além do dinheiro, uma casa, eletrodomésticos, jóias, às vezes até um carro… Uma mulher sai mais caro do que um cavalo!”
Os preços são mais acessíveis na miserável e poeirenta Gaza. Ahmed Dahere sustenta suas mulheres e 13 filhos trabalhando como operário de construção em Israel a US$ 36 por dia. A sala de seu harém é o hall entre andares de um sobrado. Outro senhor de harém de duas esposas, Jihad Ayad, 40, é um pequeno comerciante que poderia se dar o luxo de comprar uma terceira. Mônica? Ele a recusa até doada, mesmo que uma estrangeira possa ter valor extra. “Uma agente do Mossad”, ele a rejeita.
Surgindo no momento em que o presidente Clinton parecia prestes a pressionar o governo israelense a fazer concessões à Autoridade Palestina, Mônica Lewinsky foi saudada por religiosos judeus como a reencarnação da bíblica rainha Esther, que dormiu com o rei Xerxes, da Pérsia, e salvou o povo de Israel da forca coletiva. Agente secreta ou divina, ela continua paralisando o processo de paz no Oriente Médio. “Se Clinton cair e vier Al Gore será ainda pior”, diz Ayad. Harém vem de harim, “lugar proibido” ou “sagrado”, em árabe, e também “o que é”.
Conheci outro harém em Bethlehem, a Belém em que Jesus nasceu. Afastado um pouco da cidade, numa colina, era uma tenda enorme de beduíno. O sultão ali preferia as gordas, mas muito gordas mesmo. Tinha quatro que pareciam irmãs. Elas dividiam os afazeres do dia e cada uma teve alguma participação no chá com “nana” (hortelã) que serviram. Não o tomaram; ficaram olhando o maridão com as visitas.
Por duas vezes, passeando com brasileiras no “shuk” (mercado) dentro das muralhas da velha Jerusalém, fui assediado por árabes que queriam comprá-las. Uma era uma negra exuberante, ex-dançarina de programas dominicais de TV. Os interessados se revezavam, seguindo-nos pelas ruelas da santa Via Sacra, cada um aumentando a oferta do anterior, baseada no câmbio de camelos (a cotação era publicada no Jordanian Times). Podia sair dali com uma manada, ou um saco de dinares. A outra amiga, loura. Ameacei vendê-la, de brincadeira. Bastou insinuar que havia uma pequena chance de negociação, instaurou-se uma perseguição sem trégua. Corremos até o Muro das Lamentações. Aqui recuperamos a monogamia e a paz.
A-M-E-I o texto. TODÁ toujours;
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Você deve estar valendo uns cem camelos. Vamos ao shuk negociar? Beijo
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