O dia em que cheguei à frente do campeão Ben Johnson

foto: thestar-com-my.jpg

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Testarossa da Ferrari. O de Ben Johnson era preto.

Testarossa da Ferrari. O de Ben Johnson era preto.

O homem mais veloz do mundo, Ben Johnson, entrou em sua Ferrari e fugiu da imprensa. Fui atrás com meu Ford alugado. E acabei à frente dele.

A notícia da disputa foi publicada no Estadão, mas minha vitória, a parte mais saborosa do texto, acabou cortada.

Quando entramos na via expressa, e Ben Johnson acelerou, perdi-o de vista. Mas fui em frente por mais uns 30 minutos, pegando num desvio que imaginava ser um retorno para Toronto.

A uns poucos quilômetros apenas, olha ele lá. Ben Johnson, parado pela polícia rodoviária, por excesso de velocidade. Fui chegando devagar, e o ultrapassei por uns metros, garantindo-me o pódio, vitória!, mas saí do carro para ainda tentar, enfim, a entrevista que ele negava a toda a imprensa.

Fui caminhando na direção de Ben Johnson, que ia em outra direção, gritando, muito irritado. A TV CBC, que também o encontrou e já o filmava com os guardas rodoviários, era o seu alvo. Ele partiu para cima do câmera, e o empurrou, xingou; depois caminhou em minha direção, e eu fui dando uns passos para trás, até que me virei, corri e entrei no carro, trancando a porta por dentro.

Ben Johnson esmurrou o vidro do meu Tempest até desistir. Foi para sua Ferrari Testarossa preta, às vezes se voltando para a equipe da CBC e para mim, ameaçador. Acelerou e sumiu.

benNão tinha visto o texto impresso (acima) até agora, quando resolvi resgatá-lo. Por isso publico uma cópia escaneada, não o original. Ele foi cortado, alterado. Será que a redação não acreditou que eu tivesse vencido a corrida com Bem Johnson, ainda que em sentido figurado? Manteve-se a corrida, não o resultado, que acho que dava alguma graça à notícia. Não vou saber mais o que aconteceu.

Não foi a primeira nem a última vez que mexidas em meus textos me incomodam. Perdi um furo mundial por incompreensão de alguém na redação do jornal. Acertos são bem-vindos. Mas cortes que mutilam, não. Pode ser também que eu esteja e estivesse errado, e que o colorido à matéria do Ben Johnson não passasse de uma bobagem.

De qualquer forma, guardo a boa lembrança de ter ultrapassado um dia uma Ferrari Testarossa, com um Ford, e o seu motorista mais veloz do mundo, Ben Johnson.

Veja também o furo mundial que não foi publicado, aqui

2 comentários sobre “O dia em que cheguei à frente do campeão Ben Johnson

  1. Sobre sua vitória de Ford contra o Ben Jonhson de Ferrari…
    … bem, Rabino, isto de mexerem no texto, por poucas vezes que seja, acontece com todo jornalista; mas neste caso, o pior, eu creio, é que ao mexerem, roubaram-lhe também uma medalha! Ou não vale uma medalha o feito de vencer um velocista campeão dirigindo um carro imbatível? Vale. Porque o negócio é o seguinte: assim como existem os atletas e os pilotos campeões, existem também os jornalistas campeões: e você seguramente é um deles! Abraços, Luiz Barros.

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