Festa brasileira em Israel

Floydian_Font___dafont_comFloydian_1Font___dafont_comWaters, da banda Pink Floyd (The Wall),
não está conseguindo convencer Caetano
e Gil ao boicote a Israel.
Resta-lhe outro Muro, o das Lamentações.

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Clique: Gil falou contra a guerra aos soldados israelenses.

A festa brasileira em Israel

Não foi com este vestido. Mas a roupa de baixo foi a mesma...

Não foi com este vestido. Mas a roupa de baixo foi a mesma…

Tel-Aviv, 1983 — Caetano, Elba, Djavan e Ney Matogrosso reunidos num show de quase cinco horas, em israel, foram considerados “um excesso”.

Por quem o comemorou, “excelente”, e por quem o lamentou, um “desperdício”.

Um excesso: outras celebridades, como Rod Stewart e Joe Cocker, por exemplo, estão se apresentando também este mês, em outros pal­cos deste país do tamanho da Via Dutra. O público israelen­se não tem o hábito de comparecer a shows semanais, e depois de um inverno rigo­roso em espetáculos, foi posto, de repente, diante de múltiplas escolhas irresistíveis, algumas até mesmo gratuitas.

Entre nove a dez mil pessoas foram ver “O Carnaval do Brasil”, como anunciado nos cartazes de rua.­ A “festa brasileira”, prometida por um pequeno avião que a anunciou com letras de fumaça, sobre as praias de Tel-Aviv, foi feita num estádio de futebol, Bloornfield, em Jaffa. O público podia escolher a grama, perto do palco, onde seria permitido dançar, ou a arquibancada, com o preço do ingresso variando entre 12 e 16 dólares.

O estádio foi grande para o máximo de 10 mil pessoas, deixando certa impressão de vazio. Os portões entre o gramado e a arquibancada acabaram abertos, com cadeiras aos que se cansavam de dançar, e espaço, aos que se animavam.

Caetano pode se apresentar assim em Israel

Caetano pode se apresentar assim em Israel

Caetano foi recebido com muito aplauso, assim que surgiu abrindo o show. “Shalom, shalom” – cumprimentou. O que ele via era um estádio lotado, todo na penumbra, e grande animação no gramado — a policia em alerta contra invasão de fãs que marcou o espetáculo de Gal Costa e Gilberto Gil.

— Gil, Gal, Jorge Ben, Nazaré Pereira e agora Caetano, Elba, Djavan e Ney: é uma overdose para o israelense — comentou um crítico popular em Israel, Dubi Vilensky, sentado na arquibancada. — Vou ficar aqui uma hora, depois outra lá embaixo, mais uma aqui… Eu acho que cada um deles deveria ser um show à parte; há talento de sobra nesta noite.

Caetano, para o jornal Davar, foi “cansativo, cantando mui­tas músicas lentas”. Na verdade, depois de pedir ao público perto do palco, num perfeito inglês, que tomasse uma decisão entre ficar de pé ou sentado, pois cobria a visão de outros, reclamada por gritos que o perturbavam, pegou o violão, dispensou sua banda e acalmou a plateia. Claro que ele cantou sua música que fala do primeiro-ministro Beguin, Tatcher e Delfim, “Ele me deu um beijo na boca”, lançada antes das guerras do Líbano e das Malvinas, e da grande crise econômica brasileira.

“Profetas são vocês ai” — disse Caetano em entrevista a uma rádio, quando perguntado ­quais seriam os próximos personagens políticos de suas músicas.

Elba já achava, desde que chegou, que estava, na verdade, em Fortaleza. Teve a certeza quando de um sobrado emanava música brasileira, em Jaffa. Bateu à porta e, milagre na Terra Santa!, abriu-a realmente um cearense. Havia mais outros na casa. Eles tinham, ainda por cima, o seu último disco.

Muito à vontade, Elba pulou no palco que nem pipoca. Estava contagiante: levantou o público e a saia com sua voz ardi­da e sua grande alegria. (No dia seguinte alguns jornais mostraram que ficava nua, ao rodopiar).

— Cada um desses artistas merece um show individual — repetiu Eli Israeli, cujo programa de rádio é o grande promotor da música brasileira em Israel, tendo por prefixo o Trem das Onze, can­tado por Gal.

Quando Djavan entrou no palco, já quase 11 da noite, o público pedia Samurai, que seria a última apresentada por ele, uma hora depois. Eis então que surge Ney Matogrosso, emplumado, uma grande surpresa, a apoteose. Tanto sucesso, tentaram ­promover um show só para ele, no dia seguinte, num teatro de Tel-Aviv.

Ney: arrasou.

Ney: arrasou.

Mas no camarim, Ney não estava feliz por ter sido o último do show. Esperou, sentado, maquiado, por três horas e meia. Foi recompensado, o único a ter que voltar para um bis — a exceção, Caetano, reapareceu convidado por Djavan.

Caetano e Elba assistiram ao final do show, com Ney no palco, sentados na grama. Para eles tantos brasileiros não foram excessivo, mas “muito bom, fantástico”.

A empresária Lilian Schutz levou Caetano, Djvan e Elba para outro show, numa praça de Haifa, onde reuniu um público de cinco mil pessoas, a 10 dólares cada. (Promotora da maioria dos shows de brasileiros em Israel, não é ela, desta vez, a responsável pela nova visita de Caetano e Gil.).

Bo Le Rio

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Tel-Aviv, 1985 — O título do disco é Bolerio, e como em sua capa e contraca­pa aparecem erros como “participagao”, “musicas convidados”, “car- linghos” e “technico”, pode-se pensar numa coleção de boleros grava­da sem maiores cuidados de revisão.

Mas “bo-le-rio”, assim separado, significa, em hebraico, “Vamos ao Rio”, e quem está convidando é uma cantora israelense, Yehudit Ravitz, com 10 músicas de Jorge Ben e banda do Zé Pretinho.

Ravitz

Ravitz

Bolerio foi gravado ao estilo da Guerra dos Seis Dias, em 48 horas, entre 17 e 19 de abril, pela CBS israelense. Foi o resultado de um impulso que levou Yehudit a subir ao palco­ convidada por Jorge Ben, num teatro lotado de Tel-Aviv. O público se negava a ir embora sem mais um bis. Os dois sequer se conheciam.

Jorge Ben foi de País Tropical, em português, e Ravitz o seguiu, em hebraico. “Tudo espontaneamente”, ela contou. “Os rapazes da banda queriam gravar o disco, e eu gostei de cantar com eles — uma total empatia. Estava gravando meu próprio álbum, sem conexão ccm 0 Brasil. No dia seguinte ao show, já estava selecionando oito musicas de Jorge Ben para uma gravação totalmente inesperada”.

Por que tanta musica brasileira em Israel? A própria Ravitz já tinha gravado com outro cantor israelense, Matti Caspi, um LP com 0 titulo de País Tropical, e nos últimos dois anos vieram a Israel vários cantores brasileiros, entre eles Gal, Gil, Caetano, Ney Matogrosso, Elba, Nazareth Pereira e Jorge Ben.

Ravitz acha que “Israel é um país triste e que os israelenses procuram alegria — uma alegria que existe na musica brasileira”. A explicação de Gilberto Gil foi outra:

— Israel é também um país tropical

3 comentários sobre “Festa brasileira em Israel

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