Currículos com fracassos, e não com sucessos, estão na moda… na capital da inovação, o Vale do Silício. Será que a moda chegará ao Brasil, com 11 milhões de desempregados?

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O fracasso está na moda. Foi o que aprendi lendo o boletim digital Quartz (qz.com/). O fracassado de sucesso, Johannes Haushofer, professor de psicologia em Princeton (New Jersey, EUA), postou seu “currículo de fracassos”, com os empregos que não conseguiu, prêmios que não ganhou e sua coleção de textos que foram rejeitados. Viralizou.
“Este CV de Fracassos recebeu mais atenção do que todo o meu trabalho acadêmico”, disse Haushofer.
Resolvi replicar o sucesso do fracasso para alívio de quem, entre os 11 milhões de desempregados no Brasil, eu entre eles, já enviou seus CVs em busca de vaga nas escassas ofertas de emprego anunciadas, sem jamais ter recebido resposta.
O texto do Quartz fala também do novo slogan entre os gênios do Silicon Valley: “Falhe rápido”. O conselho é dirigido a fundadores de startup que não emplacaram seus projetos. O poder do fracasso já chegou ao TED em palestras de ilustres fracassados. E lá tem tido mais chance de ser empregado quem confessa suas falhas.
Fracassados, consolai-vos. Depois da via-sacra de humilhantes rejeições virá o final feliz triunfal. Só não omitir mais no CV os erros cometidos, as demissões sofridas e os projetos desprezados.

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“A maioria do que tentei, fracassou” — escreveu Haushofers na introdução de seu CV. “Mas os fracassos são invisíveis, enquanto os sucessos, não — eles aparecem”.
Decidi então incluir no meu CV:
*Não ganhei a bolsa de três meses da Nieman Foundation, em Harvard, para repensar o jornalismo, ao me candidatar em 2013.
* O Museu da Corrupção que criei, e que ganhou um Prêmio Esso de melhor contribuição à imprensa, está fechado por falta de apoio — e isso, ou talvez por isso, no país da corrupção. (www.muco.com.br)
* Ano e meio desempregado, fechado o jornal que dirigia, não recebi um único convite de emprego, mesmo já tendo feito de tudo em jornalismo, de repórter e correspondente internacional a diretor.
* Currículos enviados para preencher vagas abertas na área de comunicação na Disney, Linkedin, Reuters, Google e mais outras duas empresas “confidenciais” tiveram três respostas negativas, e nenhum retorno das demais.
* Nenhum dos amigos bem posicionados em empresas jornalísticas, que, quando eu era diretor do Diário do Comércio, enviaram-me inúmeros candidatos a emprego, alguns atendidos, considerou me convidar sequer para um cafezinho.
* Em 2015, fiz apenas um freelance como repórter. E mesmo que ele tenha rendido um prêmio pelo texto, não recebi nenhuma nova encomenda.
Meu CV negativo pode prosseguir com muitos itens mais. O que me digo, porém, é que, com 70 anos, o mercado de trabalho deve estar fechado para mim. Esqueci-me disso quando me candidatei a cargos oferecidos a jovens ou iniciantes na carreira.
Será que meus fracassos valerão um convite?