Os marqueteiros do presidente George W. Bush queriam uma dose real de cocaína no discurso que proclamaria a retomada da guerra às drogas. Para maior dramaticidade, a cocaína teria que ser negociada diante da Casa Branca. Feita a encomenda aos agentes da DEA, um pacote com pó branco foi mostrado pelo presidente Bush aos americanos, ao vivo na TV, em 5 de setembro de 1989, enquanto ele comentava: “Foi apreendido na praça do outro lado da rua da Casa Branca… Poderia ser heroína…”. A verdade foi bem outra. Toda a encenação não escondeu a trapalhada em que se envolveu a DEA. Deu tudo errado. E nem precisava. O Distrito de Colúmbia já era famoso por consumo de drogas. Apenas alguns meses depois, em 1990, o prefeito da cidade, Marion Barry, seria flagrado pelo FBI fumando crack, num quarto de hotel. E poucos anos antes, em 1981, o traficante mais procurado do mundo, Pablo Escobar, se deixou fotografar pela mulher, Maria Victoria, posando de turista diante da Casa Branca, com o filho (foto abaixo). Os três, depois, ainda visitaram o FBI.
Washington, DC — O discurso do presidente George Bush requeria um pacote de cocaína comprado diante da Casa Branca para ganhar maior dramaticidade. Marcaria o recomeço da guerra às drogas. Só que agora, quando um Juiz começou a ouvir o investigador encarregado da compra, e o traficante que foi preso, o drama virou uma comédia.
O investigador, Sam Gaye, lembra que seu chefe lhe perguntou, em 31 de agosto: “Você pode comprar droga perto na Avenida Pennsylvania, 1600? Dá para chamar qualquer dos traficantes que conhecemos?” O endereço era o da Casa Branca. E a missão tinha que ser cumprida em 24 horas. A ordem vinha diretamente do ministro da Justiça, Dick Thornburgh.
O primeiro traficante contatado não apareceu. O segundo, Keith Jackson, um estudante de 18 anos, não sabia onde era a Casa Branca. “Tivemos que manipulá-lo para que fosse até lá” — lembrou o encarregado das investigações da Drug Enforcement Agency (DEA) em Washington, William McMullan. O encontro, marcado por telefone, foi gravado. Mas quando o juiz Stanley Sporkin pediu a fita, ela já não existia mais.
O microfone secreto que Gaye levou para a operação de compra de droga na praça Lafayette, diante da Casa Branca, não funcionou. O câmera que filmava o encontro perdeu exatamente o momento da passagem da droga, porque uma mulher – um dos vários sem-teto que se manifestam ali – o atacou, aos gritos:
“Não tire minha foto, não tire minha foto.”
Os jurados não contiveram as gargalhadas. Riram ainda mais quando o vídeo foi exibido. Ele começa mostrando um dia de verão na praça Lafayette. Gaye é visto esperando na avenida Pennsylvania, com a Casa Branca e dezenas de turistas ao fundo. Logo que o traficante desce do carro, com o informante da polícia, vê-se uma mulher irritada aproximando-se da câmera. Por alguns momentos, o foco passa para a grama, o asfalto, o horizonte, e quando volta a focar na direção certa, o negócio já havia sido concluído, e traficante e policial já estavam distantes um do outro.
Por fim, o negócio não ocorreu como se esperava. Jackson não passou o pacote de crack- cocaína fumável diretamente para Gaye, mas para o informante que arrumou o encontro. Uma foto que o mostra saindo do carro, para receber o pagamento de 2.400 dólares, foi tirada depois que da droga ser entregue. Jackson estuda no colégio Spingarn, em Washington, e não tem antecedentes criminais. Ele foi acusado por quatro vendas de cocaína — uma delas a que rendeu o melhor momento da proclamação de guerra às drogas do presidente George Bush, ilustrando como é fácil comprar drogas. Até mesmo diante da Casa Branca.
Comprei crack em SP: http://wp.me/p5l96l-87