Espião de Israel chocado com amadorismo dos EUA

(Foto: Big Media/Gazeta do Povo)

Um antigo espião sênior do Mossad, o serviço secreto israelense, declarou ao jornal Haaretz, nesta quarta-feira, que “não se pode confiar no serviço de inteligência dos EUA durante este segundo mandato do presidente Donald Trump”.
Ele acrescentou que o vazamento dos planos de ataque aos Houthis serve de “advertência” para a comunidade de inteligência de Israel e de países aliados. E o qualificou como “um dos incidentes mais amadores que já encontrou” em seus anos de espionagem.

O jornalista Jeffrey Goldberg, editor da revista Atlantic, foi incluído como “JF” na lista do serviço de mensagens Signal, que incluía o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, o secretário de Defesa Pete Hegseth, o diretor da CIA John Ratcliffe e o diretor da Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard.
O comentarista Yossi Melman, do Haaretz, escreveu que Israel poderia também ser afetado pela quebra de sigilo sobre o bombardeio americano no Iêmen, pois seu exército e sua inteligência estavam se preparando para um ataque retaliatório aos Houthis, logo depois o dos Estados Unidos.
Os espiões israelenses e oficiais das forças armadas são proibidos de ter contas pessoais em mídias sociais. Toda comunicação entre eles usa redes fechadas e altamente seguras. Já os EUA têm 18 agências de inteligência, e cada uma com seus próprios protocolos. O Mossad trabalha, intimamente, com a CIA, compartilhando dados secretos, operacionais e análises sobre inimigos comuns, como o Irã, Hezbollah, Síria e Estado Islâmico. Se algum documento vazar, serão expostas as fontes originais e todos os operadores envolvidos.


O jornal lembra que Trump, durante seu primeiro mandato, elogiou a capacidade da inteligência norte-americana em penetrar uma célula do Estado Islâmico na Síria, a um grupo russo que o visitou. Revelou até detalhes operacionais. O jornalista Yossi Melman suspeita que as informações originais teriam a marca do Mossad. O espião que falou ao Haaretz acrescentou: “Essa situação é insana. Não dá para confiar nos EUA. Mas, ao mesmo tempo, somos o rabo, e não podemos abanar o cachorro. Nossa dependência é absoluta”.

Feliz ChristHanukkah!

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Quando terminou a entrevista, o ex-prefeito de Nablus, Bassam Shakaa (foto), pediu para empurrar sua cadeira de rodas até o quintal. Fazia um ano, em junho de 1982, ele perdera as duas pernas na explosão de uma bomba em seu carro, em atentado perpetrado por um terrorista judeu.

No quintal, Shakaa mostrou o túmulo do pai, do avô, avó, do tataravô e outros ascendentes. Então, arrematou:

-Esta terra me pertence, foi sempre de minha família.

Saí da casa de Shakaa e fui falar com o porta-voz militar, que acompanhava um grupo da imprensa internacional em visita à Cisjordânia. Contei-lhe dos túmulos. Quis saber qual o argumento de Israel para reivindicar as terras ocupadas durante a guerra dos Seis Dias, em 1967. Ele apontou para o Sul, para Hebron, a 78 quilômetros dali.

-Lá está a tumba de Abraão – respondeu.

Na Gruta dos Patriarcas, em Hebron, que os muçulmanos chamam de Mesquita de Ibrahim, estão enterrados outros patriarcas e matriarcas de Israel, como Sara, mulher de Abraão; Isaac e Rebeca; e Jacó e Leia. Só falta Rachel, cuja tumba fica à entrada de Bethlehem, ou Belém. Os judeus ortodoxos apresentam como prova de propriedade das terras, que chamam de Judeia e Samaria, o velho testamento.  É a escritura.

Lembrei desse momento nos meus tempos de repórter no Oriente Médio para ilustrar a minha impotência em responder às ferozes reações ante a resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenou os assentamentos judeus na Cisjordânia. Não, não tenho respostas. Nunca as tive. Se alguém as tiver, que as apresentem para, quem sabe?, ativar o processo de paz parado. Discutir divisões ideológicas e raciais, para mim, é só blablablá que não leva a nada. Aqui não se trata de ganhar um debate. Foi por aí que o presidente Obama, a quem até admirava, me decepcionou profundamente.

-Por que os EUA se abstiveram de votar?

Em fim de governo, já em transição, o que pretendeu Obama ao incentivar a retomada de uma resolução já adiada por quem a tinha proposto, o Egito? O que Obama fez em oito anos para sentar à mesa de negociações palestinos e israelenses? Quis peitar o próximo presidente Donald Trump? Vingar-se do premiê Nethanyahu, que fez campanha contra o acordo nuclear EUA-Irã diretamente no Congresso americano, jogando-o para escanteio? Não vejo motivo que justifique uma decisão que herdará seu sucessor, dia 20 de janeiro. Um partido que perdeu as eleições não dará andamento no Congresso à mais uma resolução “sem dentes” — aquelas que não exigem implementação.

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Pelo contrário, israelenses de direita e religiosos, se os conheço bem, vão reagir, pavlovianamente, ampliando os assentamentos, talvez anexando áreas que estavam com status incerto, à espera de definição através de negociações.  Oficialmente, mesmo durante o shabat, o que é uma raridade, o governo já rejeitou a resolução. Agora, numa escalada, a ONU poderá partir para sanções contra Israel. Mas, e Trump? Os palestinos vão discutir um acordo com os israelenses através de decisões do Conselho de Segurança? Por que não cumpriram a primeira de todas, a da Partilha da Palestina com os judeus, em 1948, e preferiram a guerra? Tantas mortos depois, estão querendo agora o que rejeitaram, com o Hamas, Hezbollah e o Irã riscando do mapa o estado de Israel.

Baixo agora minha própria resolução: não vou entrar mais em discussões apaixonadas sobre israelenses e palestinos. Conheço quase todas as versões e respeito quem as defende. Discutir por discutir é inútil. Quero fatos,  a realidade transformadora, ações que façam avançar a humanidade, não as que nos levem à barbárie de Alepo, da Síria, os jihadistas do Estado Islâmico, refugiados morrendo no mar e atentados repentinos, em qualquer lugar.

Hoje é véspera de Natal e de Hanukká, o ChristHanukkah. Que tenhamos uma trégua, uns dias de paz. A todos, boas festas.

Estarei de volta dia 10/1.

 

Cai Alepo, sobe Trump.

 

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Foto: Business Insider

 

A batalha por Alepo está chegando ao fim, com a vitória da aliança síria-russa-iraniana, mas um novo fator embaça a visão do que está por vir — a guerra no sexto ano e com cerca de 300 mil mortos: é Donald Trump.

captura_de_tela_121216_075606_pmO próximo presidente dos Estados Unidos, ao contrário de Barack Obama, não exige a deposição do presidente sírio, Bashar Assad, e nem vê problemas com a presença militar russa em território sírio. Ele quer acabar com o Estado Islâmico em pontos isolados da Síria e do Iraque.
Até a reconquista de Alepo, nesta segunda-feira 12, os jihadistas do EI não foram alvos prioritários da aviação russa. Nem secundários. Na mira estiveram sempre os rebeles sírios, atacados pesadamente para salvar o governo de Assad. Os americanos voaram seus aviões para fora da Síria, então entregue às milícias xiitas do Líbano, Iraque e Irã.

 

patrialatina

Putin

Fugitivos de Alepo diziam estar saindo do “fim do mundo”, exibidos pela tevê estatal síria. Apenas alguns bolsões do lado oriental da cidade ainda resistiam ao assalto, sem hospitais, combustível e os galpões com trigo. É a maior vitória de Assad em toda a guerra civil. Agora ele não precisa concordar com cessar-fogo e negociações da diplomacia internacional.

A União Europeia continua pedindo apenas o fim dos

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Assad

bombardeios aéreos e a proteção dos civis. Depois de impor 230 sanções à Síria, sem nenhum resultado, a chanceler da UE, Federica Mogherini, concluiu que nada mais poderia fazer. Os rebeldes ficaram isolados e, em menos de um mês, foram cercados e vencidos.
Com a eleição de Donald Trump o futuro imediato da Síria não está claro. Assad, para ele, pode continuar presidente, desde que apoie a luta dos Estados Unidos contra o EI e a Al-Qaida, ressurgindo após a morte de Bin Laden.. Mas há um risco: o governo sírio pode cair em poder de grupos islâmicos — o

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Trump 

temor que levou Barack Obama a se aliar com os rebeldes.
A Arábia Saudita, que apoiava os rebeldes, e Israel, na fronteira dessa incerta Síria, não fecham com Trump. Restam as forças dos curdos sírios e iraquianos e os turcos, que combatem os jihadistas do EI nos vazios dos dois países, mas também estão em guerra entre si. O fim da batalha de Alepo pode ser o início de outra guerra.