A Palestina vai ser reconhecida pela França, Grã-Bretanha, Austrália e Canadá, aumentando para 146 os países que já a reconhecem, nesta segunda-feira, véspera da Assembleia Anual de 80 anos da ONU, chamada de Copa do Mundo da Diplomacia.
Mas o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, não estará presente ao histórico reconhecimento da Palestina, promovido pela França e Arábia Saudita, porque teve o visto negado para desembarcar em Nova York, por alegada questão de segurança nacional. Ele poderá discursar por vídeo-conferência.
Na lista de países que reconhecem a Palestina faltam dois fundamentais para que ela passe do papel à existência: Israel e Estados Unidos.
A gestação de dois estados na Palestina, um israelense e outro palestino, começou em 29 de novembro de 1947, com a Resolução 181, aprovada por 33 votos a 13, e 10 abstenções, pela Assembleia Geral da ONU. Mas o parto já dura 75 anos, sem previsão para o nascimento da Al Quds, a Sagrada, como os palestinos a batizaram.
Israel está chegando ao segundo ano de guerra em Gaza, depois de invadido por milhares de palestinos que deixaram 1.200 mortos de 40 nacionalidades, inclusive brasileiros, e 250 reféns, 20 dos quais que ainda podem estar vivos. Do lado palestino, morreram cerca de 65 mil pessoas, entre civis e combatentes, mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diz que nunca haverá um estado palestino. E a cada dia que passa o território da Palestina fica menor, ocupado por colonos com permissão de construir novas casas nas “terras que lhes foram dadas por Deus”, as bíblicas Judeia e Samaria, hoje Cisjordânia, conquistada na Guerra de Seis Dias, em 1967.
Para os Estados Unidos, e principalmente para o presidente Donald Trump, um reconhecimento da Palestina não vale nada, se não negociado entre Israel e a Autoridade Palestina. O secretário de Estado Marco Rubio considera um encorajamento ao Hamas a iniciativa da França e da Arábia Saudita desta segunda-feira, sob o nome de Declaração de Nova York”.
O Departamento de Estado retardou o visto da delegação brasileira, que tradicionalmente abre as assembleias anuais da ONU. O primeiro discurso dos 80 anos será do presidente Lula. E o segundo, do presidente Trump.
Na Seção 11 do acordo de 16 páginas entre a ONU e EUA, de 1947, está escrito: “as autoridades federais, estaduais ou locais dos Estados Unidos não imporão quaisquer impedimentos ao trânsito de ou para o distrito da sede.”
Em 1988, porém, o líder da OLP, Yasser Arafat, foi barrado, mas liberado nos anos seguintes. Os vistos para delegações da Rússia, Irã, China e Venezuela demoram, mas saem. As rejeições são raras. Em 2014, o visto para um embaixador iraniano foi negado porque ele teria participado do cerco à embaixada estadunidense de Teerã, em 1979.
Para os participantes da Assembleia Geral que não sejam bem-vindos aos EUA há uma restrição: eles não podem se afastar de um raio de 22 quilômetros da sede da ONU.
A Assembleia Geral, a partir de terça-feira, deverá ser dominada pelas guerras em Gaza, na Ucrânia e no Sudão. Mas o tema geral escolhido é “Melhor juntos: 80 anos e mais para paz, desenvolvimento e direitos humanos” — em contraposição ao unilateralismo do America First, de Trump, que tirou os EUA da OMS, da UNESCO, do Conselho de Direitos Humanos e do acordo do clima de Paris, que este ano fará sua reunião no Pará.



