Guerra em Gaza

Êxodo e protesto contra o Hamas. Em Gaza.

Foto do jornal Yedioth Aharonot
(Foto publicada pelo jornal Yedioth Aharonot)

Mais de 35 mil palestinos já foram embora de Gaza para um outro país, por vontade própria, desde o início da guerra em 2023, e 200 outros, doentes, devem partir para os Emirados Árabes Unidos nesta quinta-feira do aeroporto Ramon, a 18 quilômetros ao Norte de Eilat. Segundo Israel, há milhares de gazenses dispostos a partir nas próximas semanas.
Centenas de gazenses sobreviventes da guerra, que matou quase 51 mil mulheres, crianças, idosos, jovens civis e 20 mil combatentes, iniciaram um movimento inédito na terça-feira, repetido nesta quarta-feira ao meio-dia: marcharam pelas ruínas de Beit Lahia e Beit Hanoun, no norte de Gaza, protestando contra o Hamas. Nos cartazes, bordões como “O sangue de nossas crianças não é barato”, ou “Pare a guerra imediatamente”.
O movimento de palestinos contra o Hamas, que inclui protestos contra Israel, foi batizado de “Intifada do Norte” – e intifada, em árabe, pode ser traduzido por resistência, embora usado também como “agitar” ou “sacudir”. Contra Israel já houve duas intifadas, ou rebeliões. O Hamas, que sempre reprimiu protestos, não impediu as duas manifestações até agora.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, está insuflando a Intifada do Norte. Ele disse aos gazenses, ontem, que a única maneira de pôr fim à guerra é a remoção do Hamas e a libertação dos reféns ainda em Gaza, que seriam 59, dos quais 24 estariam mortos. “Aprendam com os moradores de Beit Lahiya”, ele sugeriu, ameaçando novas operações das forças israelenses que vão requerer a evacuação de mais território. “Os planos estão prontos e aprovados”, ameaçou. No final, acusou a liderança “corrupta” e “assassina” de viver em segurança, com suas famílias, dentro de túneis ou hospedados em hotéis de luxo.
Os manifestantes gritavam ontem “Fora, Hamas”, diante do Hospital da Indonésia, e um e outro, por vezes, perguntava para cinegrafistas, como se fossem da rede catariana Al Jazeera, por que não cobriam os protestos, acusando-0s de fidelidade ao Hamas. Os manifestantes prometem estender as manifestações para os bairros com forte presença do Hamas, como a praça Saraya, o campo de refugiados de Jabaliya e a praça Bani Suheila, em Khan Yunis.


A liderança do Hamas acusou Israel de instigar os protestos – e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu respondeu, em Jerusalém: “Os protestos são a prova de que nossa política está dando resultados”. O êxodo palestino, pretendido em larga escala pelo presidente Donald Trump, está acontecendo a conta-gotas, espontaneamente. Mesmo assim, há notícias, não confirmadas, de que enviados americanos e israelenses andam pelo Sudão e Somália em busca de espaço para abrigar o maior número possível de gazenses.
O palestino que quiser partir, e não estiver doente, nem ter dupla nacionalidade, deve fazer o pedido à polícia israelense. Há uma fila de milhares em exame. A pesquisa de antecedentes é rigorosa para impedir a fuga de combatentes do Hamas. As portas de saída são a Ponte Allemby e o posto de fronteira com a Jordânia, Kerem Shalom, ou o Aeroporto Ramon, perto de Eilat.

Espião de Israel chocado com amadorismo dos EUA

(Foto: Big Media/Gazeta do Povo)

Um antigo espião sênior do Mossad, o serviço secreto israelense, declarou ao jornal Haaretz, nesta quarta-feira, que “não se pode confiar no serviço de inteligência dos EUA durante este segundo mandato do presidente Donald Trump”.
Ele acrescentou que o vazamento dos planos de ataque aos Houthis serve de “advertência” para a comunidade de inteligência de Israel e de países aliados. E o qualificou como “um dos incidentes mais amadores que já encontrou” em seus anos de espionagem.

O jornalista Jeffrey Goldberg, editor da revista Atlantic, foi incluído como “JF” na lista do serviço de mensagens Signal, que incluía o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, o secretário de Defesa Pete Hegseth, o diretor da CIA John Ratcliffe e o diretor da Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard.
O comentarista Yossi Melman, do Haaretz, escreveu que Israel poderia também ser afetado pela quebra de sigilo sobre o bombardeio americano no Iêmen, pois seu exército e sua inteligência estavam se preparando para um ataque retaliatório aos Houthis, logo depois o dos Estados Unidos.
Os espiões israelenses e oficiais das forças armadas são proibidos de ter contas pessoais em mídias sociais. Toda comunicação entre eles usa redes fechadas e altamente seguras. Já os EUA têm 18 agências de inteligência, e cada uma com seus próprios protocolos. O Mossad trabalha, intimamente, com a CIA, compartilhando dados secretos, operacionais e análises sobre inimigos comuns, como o Irã, Hezbollah, Síria e Estado Islâmico. Se algum documento vazar, serão expostas as fontes originais e todos os operadores envolvidos.


O jornal lembra que Trump, durante seu primeiro mandato, elogiou a capacidade da inteligência norte-americana em penetrar uma célula do Estado Islâmico na Síria, a um grupo russo que o visitou. Revelou até detalhes operacionais. O jornalista Yossi Melman suspeita que as informações originais teriam a marca do Mossad. O espião que falou ao Haaretz acrescentou: “Essa situação é insana. Não dá para confiar nos EUA. Mas, ao mesmo tempo, somos o rabo, e não podemos abanar o cachorro. Nossa dependência é absoluta”.